Hoje, 10 de janeiro, completa 30 anos que o nosso pai nos deixou, aos 59 anos de idade. Em agradecimento a sua memória, reproduzo aqui uma crônica que escrevi há três anos, reafirmando de que aquele que vive em nossa memória, não morre jamais. Viva Eduardo Gomes Ribeiro Junior! Para sempre, viva!
CASA AUTO DOIS IRMÃOS
Numa das minhas recentes visitas a Salvador, passei ocasionalmente pela Rua Carlos Gomes e não pude deixar de me espantar, com aquela portinha onde funcionava a Casa Auto Dois Irmãos. Na minha lembrança de infância, aquela porta era enorme, onde funcionava uma grande empresa, que tinha nos fundos um escritório, entulhado de papéis, cadernos, livros caixa, canetas e um cofre grande, de ferro, onde eu imaginava estar guardada ali, uma grande fortuna.
A grande empresa era do meu pai, Seu Ribeiro, um comerciante de talento e um administrador notável, pois daquela portinha ele conseguiu produzir felicidade para muitas pessoas. Meu pai trabalhou de sol a sol, seis dias por semana, fazendo horas extra em casa, e ainda tinha tempo e imaginação para nos contar estórias da carochinha antes dormir. Era a sua hora do recreio por certo, pois muitas vezes ele adormecia antes de chegar ao final da estória, o que me deixava enfurecido. E assim foi, durante anos e anos. É claro que o valor do dinheiro mudou, que os tempos são outros, mas mesmo assim, ainda hoje, é impressionante como aquela portinha pôde abrir tantas outras portas.
Meu pai nos fez feliz quando nos contava estórias antes de ir prá cama. Fez feliz a sua mulher, nossa mãe, dando-lhe seis filhos saudáveis, e a deixando amparada com casa própria, carro e uma pensão descente para os padrões brasileiros. Nos fez feliz ao nos abrir as portas do melhor e mais caro colégio da cidade, onde quase todos nós estudamos até a universidade, e alguns de nós ainda terminamos os estudos em faculdades particulares, igualmente caras, pagas com o suor do trabalho daquele homem, que trabalhou, pelo que eu me lembro, sem férias, durante toda a sua vida. Sua felicidade portanto era o trabalho, pois através dele, ele pode também produzir felicidade para parentes e agregados, que sempre estavam a freqüentar e muitas vezes a morar na nossa casa, desfrutando da nossa comida, das nossas festas, da nossa hospitalidade.
Infelizmente ele não soube se impor como homem, chefe de família e provedor e por isso não teve o reconhecimento e o respeito que merecia. Morreu cedo, quando viu todo o seu esforço ir por água abaixo e ele resolveu desistir e se entregar. Eu, da minha parte, reconhecendo a minha ingratidão a um homem que nunca me disse não, e que a sua maneira, me amou, só posso aplaudir agradecido a sua memória, pela sua paciência, humildade, tenacidade e altruísmo, por ter produzido felicidade pra tanta gente, enquanto ele desfrutou de tão pouco, de tudo aquilo que ele construíu sozinho.
Um comentário:
Mano
este texto sempre me emociona. Lembrei muito hoje de nós e o universo que vivemos propiciado pelo trabalho de Ribeirinho.
Viva
Postar um comentário