Tive o privilégio na vida de ter tido padrinhos exemplares. O meu avô Nelson Duarte, que se foi aos 78 anos de idade, há quase trinta anos atrás e que tinha um coração enorme. Com ele aprendi a caminhar. Primeiro, o acompanhando em procissões, pois ele era um católico fervoroso. Depois, escutando atentamente, as suas histórias de vida, que eram deliciosas, cheias de bons exemplos, que procurei, na medida do possível, seguir.
Hoje pela manhã recebí a ligação da minha mãe, comunicando a partida de Walquíria Gomes Ribeiro, Tia Lise, minha madrinha, que completaria cem anos no próximo dia seis de setembro, e que aparece na foto do meu batizado, no seu melhor estilo luso brasileiro, me carregando nos braços, ao lado do meu avô. Uma mulher íntegra, que cuidou dos que precisaram dela até o fim e foi, a última dos tios por parte de pai, a partir. Professora, do tempo que este ofício se exercia por uma apaixonada vocação, me contava histórias de quando tinha que montar a cavalo, para dar aulas naqueles rincões longínquos da minha velha Bahia. Eu tinha o maior orgulho de ter uma madrinha que montava a cavalo e falava francês, nem que fosse uma única pequena frase, mas que me impressionava muito, "la même chose" (a mesma coisa), respondia, sintética e irônica, quando perguntada por esta ou aquela pessoa. Essa frase dizia muito, pois ela não falava mal de nada, nem de ninguém e sempre que foi possível, procurei seguir o seu exemplo. Tive o privilégio de ter tido dois padrinhos exemplares.