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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A HORA É ESSA E AGORA


As fotos são do grande Amadeo Bocatios.


Com a benção do mestre Bôscoli ao fundo.



                                            Thaís Motta, Thaís Fraga, Ricco Duarte e Chamon.          

          Na semana passada, numa sexta feira treze de novembro, eu tive a alegria de participar do evento comemorativo aos 50 anos do show de bossa nova da Escola Naval, que lançou na época, entre outros, uma das grandes intérpretes da bossa, a Nara leão, que fez na oportunidade a sua primeiríssima aparição pública como cantora. Eu entrei nesse show meio que por acaso, pois estava passando pela porta da Toca do Vinícius, em Ipanema, e ao ver anunciado o “ensaio geral do show da escola naval”, entrei para perguntar quem eram os artistas que estariam participando do evento. Fui recebido pelo dono da Toca, o Carlos Alberto Afonso, batalhador incansável pela preservação da memória da bossa nova, uma figura ímpar. A Toca do Vinícius funciona na Rua Vinícius de Moraes, e lá podemos encontrar absolutamente tudo a respeito desse movimento que levou a música popular brasileira para os quatro cantos do mundo, CDs, livros, etc. Nos apresentamos, e o Carlos Alberto ao saber que eu era cantor, me perguntou se eu sabia o telefone da Thaís Motta, eu disse que sim e que ela é, na minha opinião, a maior cantora do Brasil no momento, e depois de umas duas horas de bom papo, onde o Carlos me explicou o que vinha a ser o tal ensaio geral, fui embora na missão de conseguir o telefone da Thaís, coisa que o fiz meia hora depois, assim que cheguei em casa e consultei a minha agenda.
          Dois dias depois, recebo um email do Carlos me comunicando que eu cantaria tais e tais músicas. Eu fiquei surpreso e liguei para o Carlos para esclarecer a história. Ele então me pediu que eu fosse até a Toca para conversarmos e que não tomaria mais do que 40 minutos do meu tempo. Foram mais de três horas de excelente papo, onde entre outras pérolas do Carlos, escutei que o João Gilberto, meu maior ídolo e conterrâneo, tinha sido o arquiteto da bossa nova, que é segundo o Carlos, nada mais nada menos, a música do músico, ou seja, a maneira como o músico sente a música, o samba, e o interpreta. Estávamos ali afinados na mesma opinião. Então resolví aceitar ao convite para participar do show, interpretando quatro canções.
          O ensaio geral aconteceu no teatro do Colégio Notre Dame em Ipanema, num domingo, e cinco dias depois, numa sexta feira treze, exatamente como a cinqüenta anos atrás, nos apresentamos no teatro da escola naval, interpretando a nossa maneira, o mesmo repertório que na época foi defendido por estrelas do porte de Silvia Telles, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Normando Santos, Lucio Alves e que foi cinceroneado por um dos maiores compositores da bossa, o Ronaldo Bôscoli. Além de mim, participaram, a maior de todas, a rainha, como eu a chamo carinhosamente, Thaís Motta, o grande cantor Chamon e a Thaís Fraga, que foram acompanhados pelos excelentes Rubinho (bateria), Paulo Midosi, (teclado) e Haroldo Cazes (baixo), músicos de primeira, que durante anos acompanharam o Durval Ferreira, grande compositor da bossa nova, já falecido. Eu cantei, me acompanhando ao violão, como sempre faço, "Agora é cinza", do Bide e Marçal, "Por causa de você", da Dolores e do tom, "Esse teu olhar", do Tom, e "A noite do meu bem", obra prima da Dolores Duran.
          Na primeira fila estavam nada mais nada menos que o mestre Roberto Menescal, que eu evitei encarar para não me desconcentrar, a doce e maravilhosa cantora Claudia Telles, filha da Silvinha Telles e o Normando Santos, que hoje mora em Paris. Nunca uma primeira fila foi tão de primeira. O Carlos Afonso foi um mestre de cerimônia impecável, nos deliciando com as suas histórias longas e divertidas. Na produção, a Sonia Rocha e o Bruno Martins, da Carvana produções, fizeram um trabalho maravilhoso. Na platéia, além de centenas de aspirantes da Escola Naval, estavam personalidades do mundo da música, filhos e parentes dos artistas que participaram do show original, como o Bernardo Bôscoli, filho do Ronaldo, o grande músico, maestro e arranjador, Marvio Ciribeli, primo do Lucio Alves, e também o grande escritor e jornalista Ruy Castro, autor do Chega de saudade, o melhor livro já publicado sobre a bossa nova, e que nos brindou com algumas palavras.
          O grande destaque da longa noite, foi a ovação recebida pela Thais Motta, não só durante a sua apresentação, como também quando foi chamada para receber a condecoração que todos nós recebemos depois do show. Os aspirantes ficaram literalmente loucos com a Thaís, porque ela é realmente a maior cantora desse país de grandes cantoras, e a voz do povo é a voz de Deus. Agora a miss ritmo, como também é conhecida a Thais Motta, é a nova favorita dos aspirantes da marinha. E é a minha favorita também. O triste é que passados cinqüenta anos, numa cidade como o Rio de janeiro, berço da bossa, a bossa nova e a música brasileira no geral, tenha pouco espaço para ser escutada pelos seus milhões de fãs espalhados pelo mundo e que visitam a cidade aos milhares, na esperança de encontrar uma casa de show a cada esquina. A bossa nova por exemplo, fica praticamente restrita ao Vinícius bar, em Ipanema, que por não ter concorrentes, não se empenha em melhorar o serviço, funcionando com um staff que não está nem a altura da grandeza da nossa música, nem a altura da cidade do Rio de janeiro. Alô alô empresários, tem mercado e público para boa música que se faz nesse país sim senhor, o mundo inteiro está de olhos bem abertos para o Rio, vamos investir na bossa, na música brasileira e nos grandes artistas que estão por aí precisando trabalhar. A hora é essa e agora.