segunda-feira, 29 de março de 2010

BAHIA BRUXA E MADRINHA


Hoje, 29 de março, a primeira capital brasileira completa 461 anos de fundação, São Salvador da Bahia, minha terra natal, onde vivi boa parte da minha vida e de onde parti para o mundo, há quase trinta anos. Abaixo, um poema que escrevi quando tentei voltar a morar em Salvador, há oito anos atrás. Lembro que me senti como Ulisses ao voltar para casa e encontrar uma casa totalmente diferente daquela que ele havia deixado. Ele mesmo já não era mais o mesmo. No meu caso, eu também não era mais o mesmo e na cidade que reencontrei não havia mais os amigos, parte da familia já havia partido, os rostos e os cheiros eram outros e eu, não me reconheci vivendo nela. Tres meses depois, voltei de novo para o mundo e para o meu Rio de janeiro. Salvador, que nós baianos chamamos de "Bahia", por está belíssimamente situada na entrada da Baía de todos os santos, com seus feitiços e encantamentos, será para sempre a minha bruxa e madrinha.
                                                                                   

                                                                           
                                                                                           marco de fundação da cidade no Porto da barra
                                                                                    
BAHIA BRUXA E MADRINHA

“TRISTE BAHIA,
OH QUÃO DESEMELHANTE”
ASSIM FALOU GREGÓRIO DE MATOS
PORISSO TE ADOTEI POR UM INSTANTE
MADRASTA E MÃE
BRUXA E MADRINHA
QUE COM COLHER DE PAU E VARINHA
ORA ME ACARICIA       
ORA ME BATE.                                                                        
E ASSIM VIVENDO NESSE EMBATE
DANDO AS MINHAS FACES                                                       
À DOR E AOS BEIJOS
VEJO O QUE SOU
E A TUDO DESEJO
ESCUTANDO AS ESTRELAS QUE PELEJAM
POR SOBRE OS MARES AZUIS
E AS LÍNGUAS NEGRAS
COM SEUS DENTES BRANCOS ESCANCARADOS
TAL QUAL AS CARRANCAS DE SORRISO FEIO
DOURADAS NOS TACHOS DE DENDÊ
NAS MANHÃS DE SOL
E NAS MADRUGADAS
QUE É QUANDO A NOITE SE ESVAI
E AS ESTRELAS SE RECOLHEM ENCABULADAS
SUSSURANDO NO OUVIDO DO TEMPO:
NEM TANTO AO MAR
NEM MUITO AO MEIO
POIS QUANTO MAIS TE AMO
MAIS TE ODEIO.

Um comentário:

RAILTON SANTOS disse...

Caro Ricco,

Sei das mazelas, mas o que nossa terrinha está precisando hoje é do nosso abraço e carinho. Sinto que, apesar de tudo, vc deve ter mantido algo de suas origens.
Aproveito para deixar um abraço para o Rio de Janeiro, terra onde mora a beleza.
Railton Santos