E a história se deu mais ou menos assim: Há cinquenta anos atrás, a esquerda quis fazer uma revolução socialista. Os militares, em nome da democracia, disseram não e fizeram a contra-revolução, deram um golpe de estado e instalaram a ditadura militar. Para manter a ordem, prenderam, torturaram, assassinaram, porque o homem é assim mesmo, malvado com o seu semelhante desde que o mundo é mundo. Vinte anos depois, cansados daquela boa vida, os militares devolveram a democracia ao país, legalizaram partidos, anistiaram antigos inimigos que estavam exilados, e quando estes retornaram à pátria mãe gentil, disseram, “oba! vamos bagunçar esse coreto”. Aos poucos, a vingança por aquele sangue derramado no passado, foi se desenhando, ano após ano. Primeiro elegem um presidente civil por via indireta, que morre sem tomar posse e o seu vice, um amigo dos militares, assume o cargo e depois de quatro anos de esculhambação, inflação altíssima e economia fora de controle, passa a faixa para um louco, que o povo coloca no olho da rua por causa dos escândalos de corrupção. Vem o governo de transição e então a elite intelectual chega ao poder eleita pelo povo e dá ao país oito anos de prosperidade. No entanto, apesar de intelectual, não foi inteligente o bastante para desconfiar do óbvio. Entrega o poder à classe operária, que de boba não tem absolutamente nada, mas tem uma sede de vingança maior do que o mundo inteiro. E aí, uma vez instalados no governo disseram, “que se lixe a pátria mãe gentil, vamos em nome do ódio, tirar a última gota de suor dela, daqui não saio, daqui ninguém me tira”. E armaram o plano perfeito. Depois do pobrezinho, sofrido e semi-analfabeto, colocaram na presidência uma ex-revolucionária de esquerda, que tinha sido presa, torturada e sofrido o diabo nas mãos dos militares malvados. Só que para permanecer no cargo, ela fez o diabo também. Mentiu, difamou, desmoralizou antigos parceiros e se aliou a velhos inimigos, inclusive aquele louco, que o povo colocou no olho da rua. Tudo em nome do poder do dinheiro e da vingança. Por fim, números manipulados e a vitória garantida, deixou cair a máscara, aumentou impostos, desrespeitou a lei e a democracia, não sem antes deixar cair também algumas lágrimas, contradizendo a única frase proferida por ela durante a campanha, que fazia sentido, “não se pode governar com coitadismo”. Será? Coitado desse povo sofrido, que caíu no maior conto do vigário da história.