Eu tinha uns treze anos quando li "Cem anos de solidão". Certamente não era uma leitura para um garoto daquela idade, mas eu que já era visto como um menino esquisito, selei ali, inconscientemente, o meu destino solitário. Não casei, não tive filhos, sou avesso à convivência diária com humanos, gosto de ficar só. A casa dos "Buendía", em Macondo, um povoado imaginário, solitário e isolado, tomei como se fosse minha, imensa e cheia de personagens que sempre estão de passagem, contando suas histórias. Fiz daquela casa o meu mundo, imenso e cheio de fantasias. Anos depois descobri que o autor daquele romance "kafkiano", o grande Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de literatura, era pisciano, nascido em seis de março, assim como eu. Ontem Gabriel parou de escrever e foi se encontrar com o nada, pois como comunista convicto que era, certamente deveria ser ateu, mas provavelmente um ateu "graças a Deus", já que para nós piscianos, a existência do criador será sempre uma grande dúvida, e na dúvida, é melhor acreditar. A casa de Macondo agora está vazia, para sempre, e os "Buendía" estão orfãos do seu criador. Obrigado Gabriel.