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domingo, 10 de março de 2013

CHORAR NÃO VALE A PENA



Nos anos noventa me livrei de uma situação de dependência financeira e conquistei a minha liberdade. Estava feliz, pois não há nada maior e que nos traga mais felicidade, do que a liberdade. Chico Buarque de Holanda, diria mais tarde, que nos anos noventa, a imbecilidade se instalou de vez no Brasil, e eu acrescento, talvez no mundo. As bundas que cantam, as letras sem sentido, as desarmonias e a pobreza musical, a inversão total de valores, o mundo sem poesia. 
No final daqueles anos, como eu era livre, e pressentia o que o Chico iria mais tarde afirmar, fui embora, e nos últimos doze anos, entre idas e vindas, fiquei fora do país. Ampliei a minha liberdade, ainda que triste, pois a cada vinda, era sempre um choque, térmico e cultural. O país não andava, e às vezes, pensava eu, a vida também não, embora o mundo desse voltas tecnológicas gigantes. 
Mas não se pode negar para sempre as fraldas que nós sujamos. Sentí falta dos amigos e da família que eu pensava que tinha e que a cada vinda, me certificava que não restava mais, nem amigos, nem família, ou país. O homem ficou cada vez mais perdido no caos, que ele mesmo criou. O homem ficou cada vez mais sozinho, diante da tela de uma vida virtual. Chico Buarque de Holanda, como sempre, estava definitivamente certo. A imbecilidade se instalou de vez e nunca mais nos deixou. Nos tornamos rasos. Hoje, tranquilo, e porque não dizer, feliz, não tenho mais tempo para dramas. Para solidariedade, talvez. Vida que segue. Chorar não vale a pena. 
(Ricco Duarte)