No dia seis de março do ano ano da graça de mil e novecentos e antigamente, nasceu, por ironia do destino, na Rua dos Artistas, número dezoito, no bairro do Garcia, na cidade de São Salvador da Bahia, Ricardo Heleno Duarte Ribeiro, as nove e meia da noite, em plena quarta feira de cinzas, pelas mãos da parteira Dona Leonor. Quarto dos seis filhos de Eduardo Gomes Ribeiro Junior (comerciante) e Nalva Duarte Ribeiro (do lar), quando criança, era reservado e solitário, acreditando ser um ser de outro planeta e considerando as outras crianças como anões de fala fina e idéias curtas. Por influência materna, nunca teve a auto estima em boa conta, se achando mais feio do que realmente aparentava e menos capaz do que seus múltiplos talentos podia. Segundo uma velha cartomante baiana, ele nasceu para ser invejado, no que acreditou piamente, vivendo desconfiado de tudo e de todos, desenvolvendo ao longo dos anos, uma mania de perseguição implacável. Por não acreditar nos seres humanos, nunca teve grandes amores e correu deles, como o diabo da cruz. Ironicamente, escolheu a música como seu ofício e meio de comunicação com o mundo, sendo a sua voz e em particular o seu canto, o seu “segredo e a sua libertação”. Aprendeu a tocar violão praticamente sózinho e a falar outras línguas da mesma maneira, escutando e repetindo, pois sempre foi bom ouvinte e nunca gostou de estudar. Também escreveu algumas canções, nenhuma delas no entanto logrou o sucesso popular. Os seus versos revelam uma pessoa que na verdade não é. Como bom e autêntico pisciano, quando todos pensam que ele vai fazer uma coisa, ele faz outra, completamente diferente. Gosta do fator surpresa e detesta a previsibilidade. Segundo o horóscopo Maia, os nascidos neste dia, são artistas, amantes da natureza, justos e escutam coisas que não são deste mundo, o que é absolutamente verdadeiro. Adora viajar e tem paixão pelo futebol e ainda que não tenha sido muitas vezes campeão, é sem sombra de dúvidas, tricolor por devoção. Por influência paterna, aprendeu a guardar para o futuro, a contar histórias e a ser extremamente honesto. Nunca conseguiu puxar o saco de ninguém ou tentou parecer ser simpático para conseguir algo, porisso, pagou o preço de ter o tapete puxado diversas vezes, mas todas as vezes se levantou sózinho e ainda mais forte. Mesmo tendo morado em muitas outras casas, é a da Rua dos Artistas, que lhe aparece sempre em sonhos, pois foi ali onde tudo começou. Daquela casa não tem sequer uma fotografia e nem precisa, pois sua memória é extremamente privilegiada, podendo guardar imagens e fatos com precisão, por toda a vida. Este ser que não esquece, vive pelo mundo a cantar, ofício que na maioria das vezes exerce por gosto, mas algumas vezes no entanto, o faz por obrigação. Tem no seu violão, o seu companheiro inveterado e servo dedicado, tratando-o as vezes, de maneira rude e impaciente. Embora se chame Ricardo, nome do qual gosta muito, também atende e é mais conhecido, pelo pseudônimo de Ricco Duarte.