Encontrei na Feira Grátis da Gratidão, quarta passada no Leme, "A maconha está bêbada". Calma apressadinhos, este é o título do livro do jornalista, escritor, crítico de música e letrista, Marcio Paschoal, uma bem humorada seleção de crônicas publicadas no Jornal do Brasil, Jornal das Gravadoras, Revista Música Brasileira e nos sites Crônicas Cariocas, Alô Música e outros. Publicada pela Editora Mirabolante, com apresentação da Rogéria, musa inspiradora de uma das crônicas, "a maconha do Marcio Paschoal" tem me divertido desde então. Como na Feira Grátis é tudo de graça mesmo, eu tive a sorte de encontrar esse achado de livro, mas que deve estar nas boas bocas (ops) digo, boas casas do ramo, ou pelo site da editora (www.mirabolante.com.br), cujo telefone é (21) 2285 6318. A viagem é boa e a diversão garantida.
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segunda-feira, 25 de novembro de 2013
domingo, 17 de novembro de 2013
FEIRA GRÁTIS DA GRATIDÃO
A Feira Grátis da Gratidão, é uma feira intinerante que acontece em praças públicas do mundo inteiro. Aqui no Rio de janeiro começou a acontecer há dois anos atrás, e o objetivo é reunir e fazer amigos para celebrar a vida e a graça de estar vivo, sempre abolindo a ilusão da escassez. Para participar basta aparecer e se quiser, levar aquilo que você tem casa e não lhe serve mais, mas que pode ser aproveitado por outra pessoa. Não se troca nem se vende nada, você doa o que não lhe serve e pode encontrar algo de que estava precisando, inclusive música ao vivo, massagens, serviços de manicure, gente contando histórias e um altíssimo astral, tudo inteiramente grátis. A próxima edição da feira acontece hoje, domingo, a partir das 13:00, Praça Almirante Julio de Noronha, no final da praia do Leme. Participe, saia da toca e troque amor, é grátis.
http://www.youtube.com/watch?v=rx4e-bPrzAs
http://www.youtube.com/watch?v=k_UmfMYzNfk
http://www.youtube.com/watch?v=rx4e-bPrzAs
http://www.youtube.com/watch?v=k_UmfMYzNfk
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
O LEME DO MEU CORAÇÃO
O telefone tocou, eu atendi e do outro lado alguém me perguntou se eu poderia substituir um músico, que havia faltado no Vinícius bar em Ipanema, casa que foi a minha escola de música e da noite, nos anos noventa, quando eu era o músico residente. Disse que sim e fui substituir contente. Depois da função, resolvi visitar um amigo ali perto, gerente de um outro bar. Quando cheguei lá, dei de cara com um senhor que depois de alguns minutos me observando, perguntou se eu não era o autor de um samba sobre o Ari Barroso, que sinceramente não me lembro mais, e depois o senhor, que se apresentou como Pedro, foi desfiando uma série de fatos da minha vida profissional, como o famoso samba que concorreu no carnaval de 15 anos atrás no bloco do bairro, e que segundo ele, eu fui descaradamente roubado. O bairro era o Leme, o melhor e mais tranquilo bairro do Rio, um oásis de tranquilidade que fica ao final de Copacabana, onde morei por quatro inesquecíveis anos e, que este senhor, me trouxe à tona com riqueza de detalhes. O samba que segundo ele foi garfado, ao contrário do samba do Ari, me veio à cabeça de imediato, impressionado que eu fiquei com aquele reconhecimento, pois apesar dos anos de estrada, eu nunca tinha sido reconhecido por ser autor de coisa alguma.
Relembramos histórias maravilhosas, que fomos desfiando e nos divertindo, pois o cara, sabia mesmo da minha vida, dentro e fora do Leme. Voltei prá casa feliz, emocionado mesmo, pensando em como a vida nos surpreende, exatamente quando não esperamos nada dela. Hoje, quinze anos depois, posso dizer com segurança, que aqueles anos no Leme foram os melhores da minha vida, e o samba, que na verdade era um declaração de amor ao bairro, peço a licença para reproduzir aqui apenas a letra, já que ele nunca foi gravado, como tantas outras canções que eu cometi e, que se perderam por aí, mas que depois desse encontro com Pedro, eu tenho a certeza de que algumas, ainda devem estar vivas na memória de alguém.
"NAVEGUEI NAS ÁGUAS DO MEU RIO DE JANEIRO / E ENCONTREI UM CANTO PRA VIVER O ANO INTEIRO / QUERO UM CHOPP BEM GELADO / QUERO CONVERSAR FIADO / OUVIR ESTÓRIAS DE PESCADOR / QUERO SAMBAR DO TEU LADO / FAZER DE CONTA QUE SOU TEU AMOR / NA ISABEL EU TE CONHECÍ / NA GUSTAVO SAMPAIO TE PAQUEREI / NA ANCHIETA EU ME PERDÍ / NO CHAPÉU MANGUEIRA TE REENCONTREI / EU VOU PRA BEIRA DO MAR / VOU PEDIR PRA IEMANJÁ PROTEÇÃO / PARA ENCONTRAR NO MEU BEM VOLTO JÁ / O LEME DO MEU CORAÇÃO"
sábado, 7 de novembro de 2009
VIVA MARIA LUCIA! VIVA!
Morreu Maria Lucia, 89 anos e pique de menina. Ela era uma divertida senhora, pequenina, bem falante e bem humorada, que tinha uma fé inabalável e que tratava a todos de “menina ou minha filha”, mesmo que o interlocutor fosse o padre da paróquia e ela, entretida na conversa, sempre animada, sempre pra cima, nem percebia o erro de gênero. Éramos todos, “suas meninas”. Ela entrou na minha vida quando eu me mudei para o prédio onde ela morava, no Leme, eu no 702 e ela no 802, no ano de 1994. No início daquele mesmo ano ela havia perdido o seu único filho, Antonio Maria, e como eu e o Antonio tínhamos quase a mesma idade, ela substituiu o amor de mãe saudosa e me adotou como filho. Fomos mais do que isso, fomos bons amigos.
Maria Lucia era paraense de Belém e no início dos anos oitenta, depois de ficar viúva, resolveu se mudar para o Rio de janeiro de mala e cuia, trazendo a tira colo, o Antonio e a Raimundinha, sua dama de companhia, e no colo da Raimundinha, a Ana Claudia, filha desta, com apenas meses de vida. Vieram de ônibus, atravessando metade desse país imenso, com os corações esperançosos, prontos para o que desse e viesse, como reza a cartilha do nortista que deixa a sua terra natal. Antonio partiu cedo e Maria Lucia se dedicou à igreja do Rosário, dirigida pelos frades dominicanos, na paróquia do Leme. Foi quando nos conhecemos.
Eu estava morando só pela primeira vez, depois de doze anos de uma relação que acabara naquele ano de 94. Não que eu fosse de fazer festas, mas saboreando o doce sabor da liberdade e o amargo da solidão, às vezes as minhas visitas, íntimas ou não, se estendiam até mais tarde, e o som da cantoria e do violão também, o que certamente incomodava as corujinhas que moravam no andar de cima. Mas as corujas nunca reclamaram, também dormiam tarde e deviam, certamente matar a saudade dos barulhos que o Antonio Maria devia fazer, quando era vivo e jovem como eu. Corujas era como elas se auto intitulavam, porque como dizia Maria Lucia, elas eram como as corujas, que nunca dormem, mas estão sempre prestando atenção a tudo, nos mínimos detalhes.
Numa tarde de domingo, Raimundinha tocou a campainha do meu apartamento e quando eu atendi, ela sorrindo encabulada, me entregou, enrolado em um pano, um prato com uma comida típica do Pará, e sem olhar nos meus olhos me disse: Dona Maria Lucia mandou para o senhor. Eu não lembro se era pato no tucupi ou no tacacá, o que eu me lembro, era que estava delicioso e coincidentemente, eu que adoro cozinhar, naquele domingo, tinha resolvido dar folga ao fogão. Estava ali selada a nossa amizade. Elas me pegaram pelo estomago. E vice e versa. Quando eu preparava alguma coisa típica da Bahia, também mandava um pratinho para o 802.
Um dia ela apareceu na minha casa, acompanhada de mais três senhoras e da sua inseparável, Raimundinha, levando uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, dizendo que aquela imagem peregrinava pelas casas do bairro e que em cada casa, a imagem ficava por uma semana, e que a minha casa havia sido escolhida naquela semana, caso eu concordasse em hospedar a santa. É claro que eu aceitei, e a santa se hospedou algumas outras vezes ao longo dos quatro anos e meio em que fomos vizinhos. Todos os dias, de segunda a sexta, pela parte da manhã, Maria Lucia fazia o seu trabalho voluntário na paróquia do bairro, ajudando aos pobres do morro do chapéu mangueira e também aos moradores de rua do bairro.
Depois eu mudei para Botafogo, e Maria Lucia e as suas aias, Raimundinha e Ana Claudia, que eu apelidei de meu “trio elétrico”, foram participar do almoço de inauguração da casa nova. Na verdade, toda eletricidade daquele trio, estava concentrada nela, já que as suas aias falavam pouco, eram tímidas, enquanto Maria Lucia, chefe do trio, era uma tagarela de marca maior. Quando eu fui viajar e tive que deixar o Rio de janeiro por alguns anos, era para Maria Lucia que eu ligava, lá de fora, para matar as saudades, saber das novidades e dar risada, pois ela sempre tinha uma piada na ponta da língua. Mesmo nas situações trágicas, ela sempre arrumava um jeito de ver o lado positivo da vida, pois segundo ela mesmo dizia, “as coisas melhorando, ficam boas”.
Voltei das minhas viagens para tentar me restabelecer no Rio de janeiro outra vez. Fui morar no Flamengo, ainda mais longe do leme e pela primeira vez em quinze anos, eu esqueci de cumprimentá-la no dia do seu aniversário, 29 de julho. Nem isso abalou a nossa amizade. Ela compreendeu o momento difícil e atribulado que eu estava passando e como boa mãe, perdoou o meu esquecimento.
Quatro semanas atrás, Maria Lucia teve uma anemia forte, emagreceu, ficou fraquinha, mas não perdeu nem a alegria de viver, nem o bom humor. Três dias antes da sua partida eu liguei pra ela e fizemos planos de caminhar na praia para treinarmos para a maratona das olimpíadas de 2016. Tudo parecia bem. No dia seguinte a esta nossa conversa, ela foi internada com pneumonia e 24 horas depois nos deixava. Ao seu enterro, compareceu todas as amigas da paróquia, do prédio, e do bairro, todas com mais de setenta e tantos anos, num sábado infernal, de sol inclemente, 40 graus de uma primavera incomum no Rio de janeiro. Como eu era o mais jovenzinho das suas “meninas”, tive forças para acompanhar Maria Lucia até a última morada, segurando a alça do seu caixão, como fazem os bons filhos. Morreu Maria Lucia, vou sentir saudades das suas conversas, das suas piadas, das suas histórias, do seu bom humor. Que viva Maria Lucia, viva!
Ricco Duarte
Rio de janeiro, 07 de novembro de 2009.
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