Tudo começou numa longíngua quarta feira de cinzas, em Salvador, na Bahia, de todos os sons, na rua dos artistas, uma simplória rua no bairo do Garcia, de todos os sambas, bairro de Riachão, Pepeu Gomes e da escola de samba baiana mais famosa dos tempos pré axé, a Juventude do Garcia, que certamente naquela quarta feira deveria estar comemorando mais um campeonato. Foi naquele dia, um seis de março de mil novecentos e antigamente, que eu cheguei ao mundo, pelas mãos de dona Leonor, uma parteira conhecida da familia que trouxe ao mundo cinco dos seis filhos que seu Eduardo e dona Nalva botaram no mundo. Nessa rua de chão batido, cresci escutando os primeiros sons, que vivem na minha alma até hoje, como o som dos atabaques do terreiro de candomblé, que ficava nos fundos da nossa casa e o som dos Lps da Dalva de Oliveira e da Angela Maria, que não saíam da vitrola, uma peça gigante e respeitadíssima naquela casa, que ficava num canto da sala de jantar, imponente, e que por ali, por aquela vitrola, passearam também, "o casamento da dona baratinha", "festa no céu", "o gato de botas" e outras estórias infantis que o meu pai comprava em forma de disco, para colorir a nossa infância, embora ele mesmo fosse um exímio contador de estórias da carochinha, coisa que ele sabia fazer como ningúem. O som dos atabaques, as vozes mágicas de Dalva e Angela e as estórias que o meu pai contava, foram as substâncias, loucas, que nortearam a minha vida.
Quando eu não estava escutando música ou estórias da carochinha, estava lendo, ou imaginando as minhas próprias estórias, que eu recusava em colocar no papel, pois eram impróprias para menores. Jogar bola com os outros garotos, colocar os pés no chão batido, nem pensar. Fui uma criança velha para uns e maricas para muitos. Preferi simplesmente não ser criança. Era chato falar fino, usar calças curtas e não ter autonomia, voz de comando, então resolvi ser artista quando crescesse.
Quando eu não estava escutando música ou estórias da carochinha, estava lendo, ou imaginando as minhas próprias estórias, que eu recusava em colocar no papel, pois eram impróprias para menores. Jogar bola com os outros garotos, colocar os pés no chão batido, nem pensar. Fui uma criança velha para uns e maricas para muitos. Preferi simplesmente não ser criança. Era chato falar fino, usar calças curtas e não ter autonomia, voz de comando, então resolvi ser artista quando crescesse.
Não sei se por ter nascido num rua com um nome como esse, "dos artistas", que desde pequeno decidi que seria um deles. Bom, encurtando a longa história de lá até aqui, me tornei um artista da vida. Aprendi a tocar violão com meu irmão Lula, que me mostrou as primeiras dissonantes, o samba e a música de João Gilberto, substâncias decisivas para que eu fosse a luta. Primeiro nos festivais colegiais, depois nos universitários, quando eu estudava comunicação. Depois de formado em jornalismo, vim para o Rio de janeiro. Fazer jornalismo? não, fazer música! Toquei em quase todos os bares e botecos da cidade, do Leme ao Pontal, "tomei centenas de chás de cadeira" na porta das gravadoras, com as minhas demos, gravadas em fita cassete nas mãos, e por fim, gravei dois cds independentes e tive algumas canções gravadas por outros artistas de menor expressão. Uma dureza, as contas vencendo e eu me virando nos bares da vida. Depois, cansado de me virar para pagar as contas, fui viajar pelo mundo com a minha música, violão debaixo do braço, navegando pelos sete mares do planeta, tabalhando nos navios de luxo de uma companhia de cruzeiro, tocando bossa nova e o que mais se parecesse com bossa, ou tivesse bossa.
Passados tantos anos, ainda não virei um artista daqueles que eu sonhava quando era criança, daqueles que aparece na televisão e que não pode sair na rua a não ser acompanhado de seguranças e que tais e que moram em mansões na Joatinga ou nos condominios de luxo da Barra. Mas nesses anos todos, em que eu paguei as minhas contas sempre em dia, eu me diverti pra caramba, com a minha música. Rodei o mundo, tomei porres homéricos, gargalhei e chorei a beça, amei e fui amado, vivi "zilhões" de estórias, contei e cantei outras. Escrever histórias foi uma substância que renasceu em mim, justo quando fui navegar pelo mundo, trabalhando em navios de cruzeiro. Quando me dei conta havia escrito dois romances e um sem número de contos, cronicas e poesias, que pretendo ir por enquanto, publicando por aqui, neste blog, enquanto as editoras não se animam a publicar os originais dessas "estórias", algumas impróprias para menores, inspiradas naquelas que eu imaginava quando usava calças curtas e que ainda vivem cantando na minha alma até hoje. Divirtam-se e se beber, chamem um taxi.
Um comentário:
Mano querido,
parabéns pelos textos e estórias.Bom saber que poderemos compartilha-los com mais frequencia.
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