quarta-feira, 24 de setembro de 2014

AINDA POSSO SENTIR O CHEIRO DO CARURU DE SEU RIBEIRO

Seu Ribeiro e eu, com a minha cabeça imensa para guardar histórias

As mulheres da família chegavam de véspera na casa do Garcia e se dividiam, entre a copa e área de serviço da casa, nas múltiplas tarefas de matar as galinhas, catar o camarão seco, preparar os temperos e principalmente, cortar os 1500 quiabos para o Caruru de Seu Ribeiro. Ano após ano, o ritual se repetia. Dona Maninha, amiga da família e especializada em comida baiana, era especialmente contratada para dar o toque final nas iguarias de dendê. Vinha gente de todo lado. De toda classe social. Teve um ano que até o prefeito da cidade, Vigildásio Sena (esses nomes só se encontra na Bahia), compareceu com pompa e circunstância. Todo 24 de setembro, durante muitos anos, aquele famoso caruru era servido para mais de cem pessoas. Seu Ribeiro, meu pai, era devoto de São Cosme e Damião, santos médicos, de grande popularidade na Bahia, quando principalmente no mês de setembro, se oferece caruru em sua  homenagem. Entenda-se por esses carurus, não só o prato em si, mas um verdadeiro banquete, cujos acompanhamentos, são, vatapá, xinxim de galinha, arroz branco, farofa, efó, banana cozida, pipoca e eteceteras. Minha mãe me contou recentemente, que essa era uma promessa da minha avó, mãe dele, pois quem oferece o caruru a São Cosme e Damião, sempre prospera. Depois de casados, ela manteve a promessa da sogra e realmente, foram anos de muita prosperidade. Meu pai não economizava nesse dia, nem na comida, nem na bebida e hoje se vivo fosse, completaria 91 anos. E eu, ainda posso sentir o cheiro do caruru de Seu Ribeiro.

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