domingo, 10 de agosto de 2014

MUITO OBRIGADO POR TUDO MEU PAI

Da esq. para a direita, Lula, Graça, Renan, mainha, Zé, Cesar, meu pai e eu.

Ainda não vi neste mundo, alguém mais trabalhador do que o meu pai. Seu vício, e por assim dizer, sua diversão, era o trabalho. Não que tivesse sido uma escolha de livre e espontânea vontade, mas porque a vida o obrigou a fazer essa escolha. Logo aos seis anos de idade ele perdeu o pai, de quem herdou nome e sobrenome. Minha avó paterna então, encontrando-se em dificuldades financeiras, e tendo oito filhos para criar, enviou meu pai e um irmão, para a casa de parentes no Rio de janeiro, mas não deu certo. Contam que quando ele voltou, anos mais tarde, a própria mãe não o reconheceu quando ele desembarcou no porto de Salvador, de tão magro e maltratado que estava. E ali começou a sua saga, segundo ele mesmo me contou, nas longas conversas que costumávamos ter. Aos treze anos começou a trabalhar em uma farmácia e aí não parou mais. Aos 24 anos, em vias de abrir o seu próprio negócio, no ramo de peças para automóveis, casou com a minha mãe, uma mulher bonita, muito inteligente e ambiciosa. Juntos, formaram literalmente uma dupla do barulho. Ele trabalhando duro e ela cuidando dos filhos e do futuro. Prosperaram até onde deu. Estudamos todos, eu e os meus cinco irmãos, na melhor e mais cara escola da cidade, e a educação que tivemos, foi sem dúvida, a melhor herança que ele pode nos deixar. Partiu prematuramente ao 59 anos de idade. Das boas lembranças que guardo dele, lembro do dia em que passei no meu terceiro vestibular. Eu já havia passado em dois vestibulares anteriormente, para economia e arquitetura. O primeiro porque sabia guardar dinheiro e achava que poderia economista, e o segundo porque eu sabia desenhar, e achava que poderia ser um arquiteto. O primeiro nem cheguei a me matricular na faculdade, que era particular. No segundo, cheguei a cursar dois anos e depois larguei para ser artista. Ou seja eu não sabia mesmo o que queria. Mas como a regra era ter um canudo na mão, escolhi fazer um terceiro vestibular, dessa vez para jornalismo, por ser um curso rápido e divertido, e a faculdade ficava bem em frente à Escola de música, onde fiz vários cursos livres, pois ser músico era o meu sonho. Naquele terceiro vestibular eu não peguei nos livros e quando chegou o dia do resultado, confesso que estava meio tenso. Naquele dia, quando cheguei em casa, voltando da praia, encontrei meu pai, que já sabia do resultado antes de mim, me esperando na porta de casa, sem camisa e com uma taça de licor na mão. Sorrindo, ele veio me abraçar, dizendo que eu sempre fui o mais inteligente dos filhos. Exageros de pai à parte, recebí aquele abraço com imensa alegria e um certo alívio, e hoje, passados tantos anos daquela cena, formado em jornalismo, pela Universidade e em artista, pela vida, penso nele, com saudade e gratidão, e quero aqui publicamente dizer ao Sr. Eduardo Gomes Ribeiro Junior, aonde quer que ele esteja, em alto e bom som: Muito obrigado por tudo meu pai.

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