Quando eu tinha 13 anos, caí na real de que a morte era inevitável para todos nós e naquele momento, resolvi não levar mais nada a sério. Até os treze anos de idade eu achava que só quem morria eram os velhos, até que o filho da violinista que morava em frente, morreu atropelado aos nove anos de idade e a filha da vizinha da casa ao lado, faleceu vítima de uma gripe misteriosa, aos oito anos. Aquelas duas mortes me acordaram para a realidade de que morrer é inevitável. A vida então perdeu o sentido, porque para mim não fazia sentido algum viver para morrer, já que a vida era, até então, muito boa. Lembro de uma noite, em que eu estava angustiado com o assunto e perguntei ao meu irmão mais velho, se era verdade de que todos nós iríamos morrer um dia. Ele sorriu, provavelmente me achando um retardado, pois naquela idade, ainda não havia me dado conta disso, e respondeu secamente, é sim, todos nós vamos morrer um dia.
Não crescí com medo da morte, porque treinamos para encontrá-la todos os dias quando vamos dormir, mas crescí com raiva da vida e me tornei uma pessoa irresponsável até hoje. Foi a maneira que encontrei para driblar a crueldade, os jogos de interesse, as traições, o ódio, a pervesidade, a hipocrisia, a injustiça, cada vez mais presentes no coração dos homens. Desde aquele tempo então, vivo a vida irresponsavelmente, sem olhar para o futuro, porque sei que o futuro não vai dar objetivamente em nenhum lugar. Passei a observar mais os humanos e cada vez mais eu gosto menos deles, e viver às vezes, é tão difícil, que fui desenvolvendo uma mania de contar os dias para que o final, qualquer final, fosse de um curso, de um contrato de trabalho, de uma relação afetiva, chegasse logo ao fim, sim porque se tudo tem que ter um fim um dia, que esse dia chegue logo. Desde os meus treze anos, e lá já se vão muitos outros treze, observando como nós vivemos e vendo muitos de nós morrendo, aprendi que a morte é rápida e salvadora, mesmo aquelas que ocorrem depois de uma longa enfermidade e que quando finalmente chegam, são recebidas como um prêmio. Eu tenho a convicção de que morrer é fácil, difícil é viver.