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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

TODAS AS VEZES QUE EU MORRI

De Ricco Duarte
TODAS AS VEZES QUE EU MORRI

Todas as vezes que eu morri
e foram muitas as vezes
ninguém chorou por mim
nem mãe
nem mulher
nem filho
nem irmão
amante
ou amigo
choraram a minha morte
no silêncio das madrugadas
no alvoroço do amanhecer
na tristeza dos fins de tarde
e no mistério do anoitecer
que é quando a natureza
muda a guarda
os anjos se recolhem
os pássaros se calam
e os homens revolvem as almas
por isso talvez eu siga morrendo
até que haja um enterro
com lágrima
saudade
e vela
para que eu possa 
partir sem medo

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O CORTEJO

De Ricco Duarte
O CORTEJO

Enquanto o cortejo segue sem pressa
pelas aléias do campo santo
os cortejantes falam baixinho
para não atrapalhar o sono do cortejado
uns tecem loas à sua memória
outros fazem cálculos exagerados
de quanto o falecido deixou
para a viúva que vai na frente
derramando lágrimas pelo seu amado
os filhos que estão dois passos atrás
vão de mãos dadas movidos pela dor
já sabendo que logo estarão separados
pelos bens do genitor 
e assim
como tudo que a vida persegue
o cortejo vai devagarinho
sem hora marcada para acabar
o corpo do morto está morto
isto é certo
mas nem depois de enterrado 
sua alma
caso exista
poderá descansar em paz
mesmo não tendo tido morte violenta
e tendo partido por causas naturais
ele terá sua intimidade violada
seus segredos revelados
sua viúva outros donos
seus filhos outros sonhos
e tudo o mais no futuro 
será passado
enquanto no presente 
o cortejo segue lentamente
a vida 
toma um destino ignorado 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

QUANDO A VOZ FRAQUEJA...


Ricco Duarte (foto: Cyntia C Santos)
Sempre nos esquecemos de que um dia, ou por merecimento, ou por castigo, vamos envelhecer. No primeiro caso é dado o gozo de uma vida longa e saudável, àqueles que amam a vida, os animais, a natureza, os que não fazem diferença entre os semelhantes. No segundo caso, a vida longa é concedida àqueles que fingem amar a vida, os que não gostam dos animais, da natureza e se acham acima do bem e do mal e melhor do que os seus semelhantes, e estes, em algum ponto da sua sina, vão sentir inveja dos que morrem cedo. Não raro, não geraram outras vidas. Com frequência, terminam sozinhos. 
A voz é o alto falante da alma. Ela traduz o nosso estado de espírito, e quando ela fraqueja, invariavelmente, é a alma anunciando que já está na hora de partir. Os que chegaram longe por merecimento, partirão em paz. Os que viveram muito por castigo, verão a sua decadência física se acentuar sem controle. Não raro viverão da caridade alheia. E poucos são aqueles, que mesmo aprendendo a lição, terão a sua pena reduzida. Em ambos os casos no entanto, um fio de voz, que antes era firme, seja para acariciar, ou para diminuir, anunciará o irremediável fim. Pois quando a voz fraqueja, não tem jeito, é fazer as malas e partir. Que a nossa bagagem seja leve.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

quinta-feira, 24 de julho de 2014

2014, 0 ANO DA MORTE

Morre gente todo dia, no hemisfério sul, no hemisfério norte. Morre gente de tristeza, de alegria e até por falta de sorte, mas nunca se viu tanta gente boa morrendo como neste ano da graça de 2014, que tem levado famosos e anônimos, adultos e criancinhas, deixando a vida mais tristinha. E ainda estamos no meio desse ano mortal, que levou de uma só tacada, atores, cineastas, cantores e escritores, cada um na sua área, um talento magistral. Assim a morte levou de repente, Nelson Ned, Eduardo Coutinho, Gabriel Garcia Marquez, o ator americano Philip Seymour Hoffman, Paulo Goulart, José Wilker, Jair Rodrigues, Ivan Junqueira, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e ontem, Ariano Suassuna, que sem espanto dizia: “Tudo que é vivo morre”. E ela em 2014, não se esqueceu de levar os locutores de rádio e televisão. Em pouco mais de um mês, parou o coração de Luciano do Valle, Maurício Torres e o Doutor Osmar de Oliveira, que eram homens do esporte, e como ela não poupa ninguém, levou também jogadores. Primeiro foi o Euzébio, depois Bellini, o primeiro a erguer a taça de campeão, e pra não morrer de tristeza com o futebol da nossa seleção, ela levou antes da Copa, o nosso querido Fernandão. Lá em fevereiro ela levou Santiago, o grande cinegrafista, que causou enorme comoção. Morre gente todo dia, em liberdade ou na prisão. Em Israel e na Palestina, onde a guerra por Deus vai seguindo a sua sina, morrem homens e mulheres, meninos e meninas. Na Russia então nem se fala, que quer parte da Ucrânia de volta, e pra isso se for preciso, derruba até avião, repleto de inocentes, pois com apenas um tiro, calou a vida de 298 pessoas para sempre. Dentro daquele avião havia gente com a vida começando e gente que salvava as vidas da gente. E ainda citando Ariano, a nossa perda mais recente,  porque a morte não há quem vença, assim ele também, "cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo morre". E eu acrescento, que mesmo aquele que está nascendo agora, ela não perdoa, escolhe a hora e abotoa, e nos faz ter a certeza de que estamos entregues à própria sorte, pois sem dúvida 2014, é o ano da morte.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

CHICO ANYSIO E O MEDO DE MORRER


Perguntado certa vez se tinha medo de morrer, o maior humorista brasileiro, Chico Anysio, respondeu reticente:
"Eu não tenho medo de morrer, eu tenho pena" 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

MORRER É FÁCIL, DIFÍCIL É VIVER



Quando eu tinha 13 anos, caí na real de que a morte era inevitável para todos nós e naquele momento, resolvi não levar mais nada a sério. Até os treze anos de idade eu achava que só quem morria eram os velhos, até que o filho da violinista que morava em frente, morreu atropelado aos nove anos de idade e a filha da vizinha da casa ao lado, faleceu vítima de uma gripe misteriosa, aos oito anos. Aquelas duas mortes me acordaram para a realidade de que morrer é inevitável. A vida então perdeu o sentido, porque para mim não fazia sentido algum viver para morrer, já que a vida era, até então, muito boa. Lembro de uma noite, em que eu estava angustiado com o assunto e perguntei ao meu irmão mais velho, se era verdade de que todos nós iríamos morrer um dia.  Ele sorriu, provavelmente me achando um retardado, pois naquela idade, ainda não havia me dado conta disso, e respondeu secamente, é sim, todos nós vamos morrer um dia. 
Não crescí com medo da morte, porque treinamos para encontrá-la todos os dias quando vamos dormir, mas crescí com raiva da vida e me tornei uma pessoa irresponsável até hoje. Foi a maneira que encontrei para driblar a crueldade, os jogos de interesse, as traições, o ódio, a pervesidade, a hipocrisia, a injustiça, cada vez mais presentes no coração dos homens. Desde aquele tempo então, vivo a vida irresponsavelmente, sem olhar para o futuro, porque sei que o futuro não vai dar objetivamente em nenhum lugar. Passei a observar mais os humanos e cada vez mais eu gosto menos deles, e viver às vezes, é tão difícil, que fui desenvolvendo uma mania de contar os dias para que o final, qualquer final, fosse de um curso, de um contrato de trabalho, de uma relação afetiva, chegasse logo ao fim, sim porque se tudo tem que ter um fim um dia, que esse dia chegue logo. Desde os meus treze anos, e lá já se vão muitos outros treze, observando como nós vivemos e vendo muitos de nós morrendo, aprendi que a morte é rápida e salvadora, mesmo aquelas que ocorrem depois de uma longa enfermidade e que quando finalmente chegam, são recebidas como um prêmio. Eu tenho a convicção de que morrer é fácil, difícil é viver.