Um micro conto de Ricco Duarte
Ela queria casar de branco. Com mais de cinquenta anos e muito mais horas de cama que urubu de vôo, ela ainda queria casar de branco, igreja cheia, padrinhos perfilados, o pai encarquilhado levando-a contente ao altar e ah sim, um noivo, pelo menos dez anos mais novo, que acreditasse que aos cinquenta e tantos anos, rodada como ela só, ela ainda era, não virgem é claro, mas a mais pura e casta das criaturas, a única e quem sabe a última mulher, que poderia fazer qualquer homem feliz, seja na cama, na mesa ou no banho, pois ela era, segundo ela própria, uma mulher de cama, mesa e banho. Todos os seus relacionamentos anteriores, terminaram na porrada, fosse porrada física ou verbal, que é pior ainda. E sempre ela era a vítima. Das suas aventuras extra conjugais, poucos sabem, apenas os envolvidos nas tramas, porque quando ela cismava de dar, dava para qualquer um desconhecido, pego assim ao léu, num shopping, na rua, no taxi, e destes ela preferia nunca mais ter notícias, para se manter assim, intocada na sua moral de boa moça, que ela nunca foi.
E como era perversa com os seus parceiros do dia a dia, aqueles que tiveram que aturar as suas mudanças de humor repentinas e os seus silêncios inesperados. Do nada e sem aviso prévio, o tempo mudava sem nenhuma razão plausível para o olho comum, mas para os olhos dela, milhares de motivos surgiam e sempre por culpa dos seus amados, que segundo ela nunca a amavam, nem a comiam direito, porque ela escolhia os seus namorados a dedo, rapazes finos, educados, de boa família, passivos, incapazes de levantar a voz nem de reagir àqueles ataques de agressividade.
Sim, ela era agressiva. Quando começava uma discussão, levava a cabo das últimas consequências. Quebrava coisas, rasgava roupas e fotografias, jogava fora presentes que eles haviam dado, de preferencia aqueles que foram dados em datas especiais, como dia dos namorados e aniversário, e com isso jogava também o amor no chão. Eles iam embora, cheios de culpa e chifres e ela seguia só, dando para o primeiro desconhecido que aparecesse e que ela nunca mais pudesse ver novamente, pois o que ela queria mesmo era casar de branco, pura, intocada, com o primeiro homem que aceitasse acreditar na sua história.