domingo, 28 de fevereiro de 2010

ADVERTÊNCIA!!!

PARA ENCERRAR FEVEREIRO VAI AQUI UMA ADVERTÊNCIA:

"QUEM NÃO SE DIVERTIR NESTE MUNDO
   NO OUTRO SERÁ ADVERTIDO"

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A REVOLUÇÃO






A PICA
BRANCA E ROSA
PORTUGUESA
ASSIM COMO O CRAVO
VERMELHO
FEZ A REVOLUÇÃO.
FINCOU
NO ÚTERO NEGRO
AFRICANO
O SEU CRAVO
E CRIOU A MULATA!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

FILHOS AO VENTO

DEFEITO DO TEU DEFEITO
GENÉTICAMENTE IMPERFEITO
POR TI CONCEBIDO E DESFEITO
BÊBADO DO LEITE DO TEU PEITO

ALMA DA TUA ALMA
LEITO DO TEU RIO SEM CALMA
ONDE O PRANTO DESÁGUA

EM DOR E MÁGOA
E O SUOR ENXÁGUA
AS MARCAS DA DESARMONIA
LUTAS QUE FUI VENCENDO
DIA APÓS DIA

AGORA EU TE CONFISCO AS ARMAS
JOGO FORA AS BALAS
E TE ENTREGO AO TEMPO

PARA QUE NÃO DISPARES MAIS
FILHOS AO VENTO

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

NUNCA SE SABE O QUE VEM PELA FRENTE

          Ela era uma mulher esbaforida, sempre atrapalhada com os seus múltiplos afazeres, pois para ela, o bom mesmo era fazer mil coisas ao mesmo tempo, desde que meninozinho, seu gato de estimação, se atirou pela janela e levou com ele o seu último namorado, que na tentativa de segurar o gato pelo rabo, também escorregou pela janela, oito andares abaixo, bem diante do seu nariz, na sala do seu apartamento, como se tivessem combinado os dois, agora! um, dois, tres, já! Desde então, ela decidiu pensar e fazer mil coisas ao mesmo tempo, para se esquecer do tempo e daquele dia em que ela se viu privada de seus dois grandes amores para sempre, meninozinho e o seu último namorado.
          Lá se vão doze para treze anos que ela se via nessa constante agitação diária. Se tinha que passar a roupa, o fazia já pensando na hora que teria que ir para o curso de corte e costura e no telefonema que teria que dar para a mãe para lembrar-lhe de não esquecer de tomar os remédios. Ao mesmo tempo preparava o almoço pensando no que iria comer à noite e na manhã seguinte, no café da manhã. Se ia ao banheiro usar o vaso, já aproveitava para escovar os dentes e comia vendo televisão, trabalhando no computador e fazendo as unhas, tudo ao mesmo tempo. Se ia à caça, partia pronta, armas em punho, vestida para matar, ou para se safar, a sua bolsa estava sempre cheia, camisinhas com espermicida, spray de pimenta, tesourinha de unha e outra cirúrgica, que roubara da casa da irmã médica há anos e que cortava tudo com mais facilidade, pois era cirúrgica afinal, um rolo de papel higiênico, uma calcinha reserva, boné, toalha de praia, uma meia peruca ruiva, para o caso de precisar disfarçar a identidade, e uma fantasia de baiana, que era a sua fantasia favorita, dar pro primeiro que aparecesse, vestida de baiana do acarajé, de modo que quando ela saia pra caçar, levava o tabuleiro inteiro.
          Nunca se sabe o vem pela frente, pensava ela entre os seus mil e um pensamentos diários. Ela não tinha mais família, lhe restou apenas uma mãe doente e meio surda,que tomava remédios para controlar a pressão, o colesterol, a tireóide, a diabetes, a puta que pariu. Ela fazia questão de controlar os horários de toda essa farmácia ambulante, que a pobre mãe viúva carregava vida a fora e sabia de cor e salteado, a posologia de cada um deles. Antes de se deitar ela ligava pra mãe, que morava no apartamento ao lado e passava a limpo todo aquele arsenal.
          - Mamãe, a senhora tomou as pílulas das quinze horas hoje? e as das 22 mamãe? lembre-se de que as das 23:30 a senhora tem que tomar com leite, pra não atacar a úlcera ouviu bem?
          Amanhã... bem, amanhã tudo de novo, lavar, passar, escovar, limpar, corte e costura, cozinhar, computar, telefonar pra aqui, pra ali, pra acolá, ver todos os filmes da tv, dez minutos de cada um e sempre com o rádio ligado ou com o cd no repeat, tocando a mesma música, sem esquecer de dar uma passadinha por todos os programas de fofoca da tarde, tudo ao mesmo tempo e agora e ainda se desse, arrumava um tempinho pra ver se encontrava alguém que quisesse comer o seu acarajé. Fazia tempos que ela não dava pra ninguém vestida de baiana, a última vez foi pra um motorista de taxi que ela pegou na Praça da Sé e levou o sujeito lá pros lados da Ribeira e ali mesmo, dentro do taxi, ela trocou de roupa e deu como uma desesperada, toda paramentada, com seus colares, pulseiras e balangandãs, pra aquele taxista gordo, cheirando a alho. Ela já tinha dado pro porteiro na escada do prédio, pro carteiro, pro entregador de água, mas tudo rápido sem conversa, sem fantasia de baiana, que é quando ela se sentia poderosa, por cima de todas aquelas saias rodadas, metida naquele turbante ordinário e amarelecido pelo tempo. Era assim que ela gostava de dar, vestida de baiana.
          Nunca se sabe o que vem pela frente. Ela, que perdera a única irmã vítima de bala perdida, que viu o seu gato de estimação e o seu último namorado sumirem janela abaixo, no mesmo dia, hora e local, ela que só tinha uma mãe surda e medicamentosa, ela que estava aposentada há quatro anos, mas que vivia ocupada com mil e um afazeres, pensando em mil coisas ao mesmo tempo, ela que pensava em tudo, jamais poderia imaginar que naquela manhã de domingo fosse dar de cara com o amor da sua vida. Logo naquela manhã, quando ela estava desprevenida, sem spray, sem camisinha, sem fantasia de baiana, justo naquela manhã e daquela maneira, ela deu de cara com Altair.
          Logo que acordou, com o primeiro cocorocó das galinhas, ela saiu para comprar pão e leite na padaria da esquina, jogo rápido, pois teria que voltar imediatamente, para ligar pra mamãe, lembra-lhe dos remédios, botar a água do café pra ferver, ligar o rádio, o som, a tv, o computador, etc, etc, portanto não podia demorar. Foi quando ela tropeçou em Altair, um rapaz forte, moreno alto, de voz aveludada, na fila do caixa da padaria, enquanto ela pensava em mil coisas. Altair se aproximou e disse quase ao pé do ouvido dela:
          - A senhora se esqueceu de amarrar o tênis, pode tropeçar e cair se não tomar cuidado.
          Em seguida, antes que ela lhe agradecesse, que lhe dissesse que estava pensando em mil coisas, que estava com pressa e nem reparara em amarrar o tênis, Altair se abaixou e o fez, de forma delicada e firme, depois a convidou para dar uma volta na praia com ele, para aproveitar o sol da manhã e em seguida, sem dar tempo para ela responder, Altair se ofereceu para segurar as bolsas com o pão e o leite que ela acabara de comprar. Eram seis e trinta de uma manhã de domingo começando a ensolarar, a cidade sequer despertara do seu sono de sábado e estava praticamente deserta, quando ela e Altair atravessaram a avenida da praia, olhos nos olhos, hipnotizados por aquele encontro inesperado, ela pensando em mil coisas ao mesmo tempo, ele atento àquele par de tenis que acabara de amarrar, os dois entrelaçados por seus pensamentos, não perceberam um caminhão de entregas que entrou pela avenida desgovernado, na contramão, em alta velocidade, e levou ela e Altair para o andar de cima, numa manhã de domingo que estava apenas começando. Nunca se sabe o que vem pela frente.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

COCAÍNA

NOITES EM CLARO

DIAS DE ESCURIDÃO

RUÍNA DA ALMA

DERROTA DO CORPO

HORAS DE SOLIDÃO

DESESPERO

MENTIRA

DEPRESSÃO

AVE QUE NÃO VOA

COCAÍNA

PÁGINAS EM BRANCO

NA VIDA DE QUALQUER PESSOA

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

MEU ÚNICO BEM

A música não é o meu único bem, é um dom que Deus me deu e só ele pode me tirar, quando eu me for. Mas a ela devo tudo que eu tenho. Minha casa, minhas alegrias e tristezas, meus amigos e inimigos, minhas andanças pelo mundo, meus amores e desamores, enfim, minha vida. Mas já a algum tempo, o meu pau não levanta mais para música como antigamente. Crise de um casamento que o tempo tentou consumir, como qualquer outro casamento em crise. Então comecei a pensar em desistir da música para me dedicar a outras coisas. E fui ficando cada vez mais infeliz e triste, pois se tem uma coisa difícil nessa vida, é você tentar se separar do seu grande amor. O tempo, os amigos e horas de auto análise me fizeram perceber no entanto, que é possível conciliar atividades, pois no mundo globalizado de hoje, tudo está interligado.
Então resolví publicar aqui, em homenagem aos meus sinceros amigos que insistem para que eu siga fazendo música, a letra de "Meu único bem" gravada por mim nos cds, "Menino buliçoso"e "Bossanova blue".

Meu único bem
Letra e música de Ricco Duarte


A Cordilheira dos Andes
A muralha da China
O muro de Berlim
A cerca do quintal
A porta do seu quarto
A colcha de cetim
O mundo inteiro ardendo em brasas
Meu coração batendo asas
Nada vai separar você de mim
Musa
Música
Meu único bem
Nunca
Ninguém
Conseguirá nos separar

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

AFINAL DEU PAULO BARROS!!!!

          Em 2004 eu estava no setor três do sambódromo, quando a Tijuca começou  a cantar o seu samba. A letra dizia o seguinte: "com a Tijuca campeã do carnaval". Eu, que estava cansado da mesmice das escolas que já haviam passado, pensei comigo: Que ousadia colocar na letra do samba que a Tijuca vai ser campeã do carnaval. E então levantei para ver o que vinha. O que eu vi foi uma escola que estava ali, em 2004, revolucionando o carnaval carioca. O nome do revolucionário: "Paulo Barros". Naquele ano ele usava a cor "cobre" logo no abre alas, que era uma réplica da máquina do tempo e esta cor, discretamente, variava para outros tons pastéis, resultando em uma harmonia de cores inédita e maravilhosa, jamais vista na história do sambódromo, sem falar nas alegorias e nas fantasias super criativas. Foi o carnaval do DNA, que apontava para o futuro. Como a Tijuca não era uma escola de tradição ( leia-se de dinheiro), ganhou a Beija flor, fato que se repetiu em 2005, com a Tijuca ficando em segundo dois anos seguidos. Anos se passaram e a justiça foi feita. Paulo Barros afinal é o campeão do carnalval carioca, com o atualíssimo enredo, "É segredo", desbancando com sobra de décimos, as demais concorrentes. Viva Paulo Barros! Viva a magia da vida! Viva o samba!, Viva o carnaval carioca!

PRÁ TUDO SE ACABAR NA QUARTA FEIRA

NO CARNAVAL DOS BANHEIROS QUÍMICOS
IMUNDOS,VENCEU A IRREVERÊNCIA DO POVO BRASILEIRO DO RIO DE JANEIRO, QUE NÃO PERDEU O REBOLADO.
XÔ!!! AO CHEIRO DE XIXI DA DESPREPARADA GUARDA MUNICIPAL. XÔ AO GAROTO QUE BRINCA DE SER PREFEITO E AO LIXO QUE VIROU O METRÔ CARIOCA, COM POUCOS CARROS PARA O EXCESSIVO NÚMERO DE FOLIÕES.
MAS TEVE A MISS FEIÚRA
 E A MISS SIMPATIA.
E OS "LINDOS HABBIBS" É CLARO.
ANO QUE VEM TEM MAIS.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

CAIAM NA FOLIA!

Nesses dias momescos não deixem por menos, caiam na folia, deixem o carro em casa e bebam com moderação, beijem muuuito na boca e se a coisa esquentar demais, usem camisinha please, e até quarta feira de cinzas. Evoé!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CARNAVALESCO NÃO TEM MÃE

         
          Tudo bem que o carnaval é a festa do ridículo, eu mesmo já me submetí a vexames de toda ordem por ser um autêntico folião, mas tudo tem limite. Os carnavalescos das escolas de samba, no afã de fazer bonito na opera do carnaval, se esquecem de que os principais atores desta opera, que são os desfilantes sambistas, devem estar não apenas bem vestidos, mas sobretudo devem se sentir confortáveis dentro das fantasias. Nessa brincadeira, eu me lembro que em 1999, o Sr. Jaime Cezário, então carnavalesco da São Clemente, vestiu a nossa bateria de senadores, e todos fomos obrigados a usar uma casaca de veludo preto em pleno verão carioca de quarenta e tantos graus, consequência, a bateria que é a alma da escola, cansou, atravessou várias vezes e chegou ao cúmulo de parar em pleno desfile. Uma bateria nota dez que naquele ano teve notas baixissimas e a escola foi rebaixada. No Salgueiro em 2007, o enredo era sobre as Candaces, umas guerreiras africanas que o Renato Lage foi descobrir não sei aonde. Desfilei em uma ala que até hoje eu me pergunto o que representava. Eles diziam que éramos Tuaregues, guerreiros do deserto, mas a fantasia era de um mau gosto e de um excesso de panos tal, que foi preciso tres pessoas para me vestir e é claro, depois do desfile, deixei a fantasia lá na dispersão, como fiz no ano de dois mil, no mesmo Salgueiro, quando desfilei de pierrot, cuja gola tinha uns dois metros de diâmetro, o que nos fazia sentir guilhotinados, sem folêgo sequer para cantar o samba. Pra piorar, a minha fantasia, foi se desfazendo em pleno desfile e eu voltei de sunga para casa, com a cara pintada de palhaço. Este ano me convidaram para desfilar na Renascer de Jacarepaguá, uma escola do grupo de acesso que tem apenas cinco anos de vida, mas que no ano passado ficou em segundo lugar e quase subiu para o grupo especial. Este ano eles contrataram o bam bam bam do carnaval carioca, o grande Paulo Barros e lá fui eu com a minha amiga, todo contente, pegar a tal fantasia de pirata na quadra da escola. Pra encurtar a conversa, o nosso luxuoso pirata, desenhado para causar efeito na televisão, é também de veludo preto, e de quebra, ainda seremos obrigados a carregar preso à cintura, um enorme baú, que seria o tesouro do pirata e nas costas, um suposto e enorme papagaio, que mais se parece com uma gárgula. Vestidos desta maneira desconfortável, como é que os carnavalescos querem que sambemos e cantemos o samba com alegria, em pleno calor escaldante desse verão carioca? Desfilar em escola de samba passou a ser ao invés de prazer, uma tortura, o que me leva a crer que carnavalesco não tem mãe, por que se tivesse, seria mais xingada do que mãe de juiz de futebol.
Guerreiro do deserto e pirata do"carilho" é a "PQP"

domingo, 7 de fevereiro de 2010

SALVE O SIMPATIA!


           No domingo de carnaval de 1985, eu estava na praia de Ipanema, tristinho, porque era caranaval e eu estava desenturmado numa cidade que eu acabara de chegar. E eu adoro carnaval, principalmente o de rua, onde nos largamos no meio da multidão e brincamos anônimos e somos todos literalmente iguais. Foi quando escutei ao longe, o som de uma bateria que vinha arrastando uma pequena multidão. Não pensei duas vezes, saí correndo em direção ao bloco e me perdi, ou melhor, me encontrei no meio do povo, digo, da burguesia de Ipanema. Era o primeiro desfile do "Simpatia é quase amor", que ontem completou 25 anos de desfile e arrastou milhares de foliões pela Vieira Souto, sob o comando da bateria do Mestre Penha, da qual tive a honra de fazer parte durante anos, tocando tamborim. Ontem eu estava lá de novo, com o meu tamborim. As imagens valem mais do que mil palavras. Salve o simpatia!
Eu e o meu tamborim!

Muito bom: "O simpatia pede passagem ou vale transporte"

Mestre Penha no comando.

  A maior concentração por metro quadrado, de gente bonita de todos os generos e cores do planeta!

A irreverência de sempre.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

OS NOMES DOS COMPOSITORES DE SAMBA ENREDO

         


          A safra de 2010, como eu já disse aqui, não é das melhores. É muita gente pra fazer um samba e creio, que é aí que a coisa empobrece, muita gente dando opinião. Mas o que eu mais gosto mesmo, é dos nomes dos compositores de samba enredo. Outro dia vi o Neguinho da Beija flor na televisão, dizendo que estava feliz com o samba escolhido para defender a escola este ano, porque um dos autores, dos cinco que escreveram ou simplesmente deram pitaco, era o compositor mais antigo da escola e que nunca havia ganho um samba em mais de vinte anos de disputa, seu nome? "Picolé da Beija flor". Você já tinha ouvido falar nesse cidadão que há vinte anos disputa e nunca ganha? Nem eu, daí que eu resolví pesquisar e descobrí outras pérolas como: "Brasil do quintal", que ganhou o samba do salgueiro com mais quatro; "Barbeirinho", "Mingau" e "Da lua", que faturaram o samba da Grande rio com mais "nove" parceiros; "Me leva" ganhou na Imperatriz; "Porkinho" na Porto da pedra; "Gugu das candongas"(o meu favorito) e "Barbosão", são dois dos "dez" compositores que faturaram na Ilha do governador; "Marcão R1 e Leandro R1" faturaram com mais tres, lá na Rocinha e perguntar não ofende, o que é R1?; "Da latinha", "Claudinho vagareza" e mais tres, ganharam na Estácio de Sá; e agora o record: "Doutor", "Ditão", "Bolão" e "Macumbinha", foram os campeões na Santa Cruz; "Balinha" e mais alguns faturaram na Caprichosos; "Popeye" e outros tantos no Império serrano; E por fim o fabuloso "Sardinha" com seus cinco parceiros, ganharam na Cubango. Se pelo menos os sambas fossem tão divertidos e criativos, como o nome dos seus autores, o carnaval 2010 seria uma maravilha, mas não são.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

NOEL DEVE ESTAR RINDO À TOA...


          Samba não ganha carnaval, mas é meio caminho andado. Ao longo da história dos desfiles das escolas de samba do Rio de janeiro, temos visto, principalmente na era sambódromo, de 1984 para cá, que um bom samba, daqueles que levantam a arquibancada e faz o povão cantar junto, empolga e leva a escola para as cabeças, que o diga o Salgueiro de 1993 com o ”explode coração”, que virou um hit nacional e acabou com um jejum de 17 anos sem títulos, da vermelho e branco da Tijuca. Nos últimos anos, o “Soy loco por ti America”, da Vila Isabel em 2006, é outro bom exemplo de que um bom samba é meio caminho andado, pois acabou dando à Vila o título daquele ano. A mesma Vila Isabel que neste ano de 2010, faz uma belíssima homenagem ao seu poeta maior, Noel Rosa, e vai levar para a avenida uma obra prima do Martinho da Vila, um samba moderno, sem rimas e refrões óbvios, de melodia e poesia impecáveis, e que no ensaio técnico do último domingo, já mostrou que vai dar o que falar, pois não só caiu na boca do povo, como nas graças dos componentes da escola. O curioso é que este é o único samba da safra de 2010 que não tem parceria. Algumas escolas chegaram ao absurdo de juntar dois sambas em um só, gerando uma parceria de doze e dez pessoas, como é o caso da Grande Rio e da União da Ilha, respectivamente, e que resultou em sambas pobres e confusos, como a maioria dos sambas de enredo deste ano, com exceção apenas aos sambas da Porto da pedra e da Viradouro, ambos os sambas escritos "apenas" por tres compositores.  A Vila não, precisou apenas de um gênio para homenagear outro, numa prova inequívoca de que quantidade não é qualidade. Abrindo uma exceção, transcrevo abaixo a poesia do Martinho, pois Noel deve estar rindo à toa pelas ruas de Vila Isabel.

Vila isabel 2010.
Compositor: Martinho da Vila



Se um dia na orgia me chamassem
Com saudades perguntassem
Por onde anda Noel
Com toda minha fé responderia
Vaga na noite e no dia
Vive na terra e no céu
Seus sambas muito curti
Com a cabeça ao léu
Sua presença senti
No ar de Vila Isabel
Com o sedutor não bebi
Nem fui com ele a bordel
Mas sei que está presente
Com a gente neste laurel

Veio ao planeta com os auspícios de um cometa
Naquele ano da Revolta da Chibata
A sua vida foi de notas musicais
Seus lindos sambas animavam carnavais
Brincava em blocos com boêmios e mulatas
Subia morros sem preconceitos sociais

Foi um grande chororô
Quando o gênio descansou
Todo o samba lamentou
Ô ô ô
Que enorme dissabor
Foi-se o nosso professor
A Lindaura soluçou
E a Dama do Cabaré não dançou
Fez a passagem pro espaço sideral
Mas está vivo neste nosso carnaval
Também presentes Cartola
Araci e os Tangarás
Lamartine, Ismael e outros mais
E a fantasia que se usa
Pra sambar com o menestrel

Tem a energia da nossa Vila Isabel
Tem a energia da nossa Vila Isabel