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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

PARA TENTAR SEGUIR VIAGEM

                    De Ricco Duarte
                 Para tentar seguir viagem

                    ACORDAR CEDO
                  POLIR O ESPELHO
                  E SE ENXERGAR COM CORAGEM
                  VARRER DA ALMA O MEDO
                  DO CORAÇÃO O QUE FOR FEIO
                  PARA TENTAR SEGUIR VIAGEM


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

AFINAL, SÓ DÓI QUANDO EU RESPIRO

Imagem do Livro "Só dói quando eu respiro" do artista gráfico Caulos
De Ricco Duarte
AFINAL, SÓ DÓI QUANDO EU RESPIRO

O homem pedindo esmola na rua
e a mulher grávida também
tiraram o pão da boca do povo
roubaram milhões
e a presidente diz amém
a nossa conta bancária está nua
todos os dias esse vai e vem
a gente não tem onde cair morto
se você morrer de fome
eu também morrerei
então onde vamos parar?
pergunta a criança sem alegria
olho para ela e respondo intranquilo
o roubo não causa mais espanto
do que o tiro que lhe tira a vida
se está tudo pela hora da morte
e escuro em plena luz do dia
eu abro a boca e insisto
é tão criminoso o colarinho branco
quanto aquele que aceita essa lida
quase não durmo pensando
na dor que aqui dentro eu sinto
ergo a cabeça e me levanto
deve haver um remédio para isso
afinal, só dói quando eu respiro



quinta-feira, 27 de agosto de 2015

JOSÉ SARAMAGO E O VIAJANTE

Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: "Não tem mais nada para ver", sabia que não era verdade. O fim de uma viagem é apenas o início de uma outra. (José Saramago, 1922-2010)
MORAL DA HISTÓRIA: "A VIDA SEMPRE TEM ALGO NOVO PARA NOS OFERECER."

domingo, 31 de maio de 2015

A PALAVRA NÃO FOI FEITA PARA ENFEITAR

Graciliano Ramos
Quem escreve deve ter todo o cuidado para a coisa não sair molhada. Quero dizer que da página que foi escrita não deve pingar nenhuma palavra, a não ser as desnecessárias. É como pano lavado que se estira no varal. Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício.
Elas começam com uma primeira lavada. Molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Depois colocam o anil, ensaboam, e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Depois batem o pano na laje ou na pedra limpa e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a  roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A Palavra não foi feita para enfeitar, a palavra foi feita para dizer.  
Graciliano Ramos

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

segunda-feira, 30 de junho de 2014

PALAVRA DE FERNANDO SABINO

E vamos encerrar este movimentado mês de junho, com a palavra de Fernando Sabino

"De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!"

(Fernando Sabino)

quinta-feira, 19 de junho de 2014

VIVA CHICO BUARQUE, O MAIOR ARTISTA BRASILEIRO!

A Copa do mundo está indo muito bem obrigado, mas hoje é dia de comemorar os setenta anos de Chico Buarque de Holanda, o maior e mais completo artista brasileiro de todos os tempos. Cantor, compositor, violonista, teatrólogo, escritor, que também escreveu para o cinema e atuou como ator. Como se não bastasse tudo isso, o cara adora futebol, é tricolor de coração e dono do par de olhos mais bonitos do planeta, o que deixa a mulherada enlouquecida e os homens mortos de inveja. Êle é o maior de todos. Viva Chico Buarque, o maior artista brasileiro!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

BRISA PAIM EM POUCAS PALAVRAS


Ela nasceu em primeiro de maio de 1982, dia do trabalho, em Salvador, na Bahia e não parou mais. Em julho do mesmo ano eu mudei para o Rio de Janeiro, de forma que convivemos pouco, mas acompanhei de longe, o seu desempenho vitorioso. Filha do meu irmão Lula Duarte Ribeiro e Angela Paim, Brisa Paim é mestre e doutoranda em Direito pela Universidade de Coimbra, Portugal, onde fez pesquisas na área do Direito e Literatura e agora acaba de ser contratada como professora assistente convidada da referida Universidade, uma das mais conceituadas do mundo. Ela é também  escritora premiada, "A morte de Paula D", uma mulher que se encerra no seu quarto, e na linha tênue entre a realidade e a loucura, renuncia a sorte que acha que lhe coube, "porque as vezes ela se acha analfabeta também", venceu o prêmio LEGO de Literatura 2007 e foi finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2010, na categoria autor estreante. A certa altura da narrativa, Paula D critica o fato de todos dizerem eu queria, ao invés de eu quero. Brisa disse eu quero, desde o dia em que nasceu, naquele não muito distante dia do trabalho. Quem quiser conversar com Brisa, ela responde no endereço www.palavrapouca.com, onde a palavra pode ser pouca, mas vai lhe dizer muita coisa, em poucas palavras. Parabéns Brisa, A substância louca aplaude de pé todas as suas vitórias.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

"QUANDO NÃO ESTOU ESCREVENDO, EU ESTOU MORTA"


Hoje ela faria 93 anos , mas há 36 anos atrás, na véspera de completar 57, ela resolveu, dar um basta. Clarisse Lispector, a mulher que declarou meses antes de morrer, em entrevista histórica ao programa Panorama da TV Cultura, que "quando ela não estava escrevendo, ela estava morta"(http://youtu.be/djj_gdxUrPI), não iria suportar o diagnóstico de câncer nos ovários, e resolveu parar por ali, deixando uma obra extensa e milhões de fãs espalhados por aí. Viva Clarisse Lispector para sempre, viva!
http://en.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector

terça-feira, 17 de setembro de 2013

O MEU PÉ DE LARANJA LIMA



Na casa da minha infância, situada em uma rua de chão batido, havia logo na entrada, do lado esquerdo, uma sala  onde tinha um piano, e uma estante enorme, cheia de livros e enciclopédias. Em frente à estante, ficava um sofá, onde eu passava horas lendo, ao invés de ir brincar com as outras crianças na rua de chão batido. Por ali, além das enciclopédias, passeavam toda a coleção de Jorge Amado e muitos outros livros de toda sorte de temas. Mas o meu preferido era "O meu pé de laranja lima" de José Mauro de Vasconcelos, que contava a infância do autor, no subúrbio do Rio de janeiro. Lembro da influência da leitura na minha vida e em especial daquele livro, um dos mais vendidos no Brasil, traduzido em 52 idiomas, e que virou filme, cuja primeira adaptação para o cinema, acabei de assistir no Canal Brasil. 
Reencontrar "Zezé", o garoto prodígio e inteligente, com quem tanto me identifiquei na infância, foi muito mais que voltar no tempo, foi como se eu pudesse entender o tempo e como aquele garoto, cujo melhor amigo era um pé de laranja lima, que tinha uma imaginação fértil, que pensava como adulto e era extremamente sensível, pôde determinar o adulto que eu viria ser mais tarde. Mais tarde vieram outras leituras marcantes, mas o meu pé de laranja lima segue vivo, no Zezé que habita em mim.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O VERDADEIRO LUGAR DE NASCIMENTO, SEGUNDO MARGUERITE YOURCENAR



"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez, um olhar inteligente sobre nós mesmos"
(Marguerite Yourcenar, em Memórias de Adriano)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O TEMPO DA TRAVESSIA, SEGUNDO FERNANDO PESSOA



"Há um tempo que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Fernando Pessoa

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A LAVANDERIA

Trecho do romance "Jaime, o marinheiro".


A história da Adriana.


A lavanderia é um ponto de encontro. Existem geralmente, duas lavanderias para os tripulantes, com quatro máquinas de lavar e secar cada uma. Se você vai lavar roupa, é melhor levar um livro pra ler, ou uma música para escutar e ficar de plantão por lá até a sua roupa secar, pois se você vacilar, alguém pode tirar a sua roupa da secadora, ainda molhada, para colocar as dela, deixando as suas no chão, ou então, simplesmente podem roubar algumas peças, normalmente as íntimas. Eu nunca entendi a razão pela qual alguém pode roubar calcinhas, cuecas e meias que não lhe pertencem, mas em um navio as coisas não precisam de um motivo lógico para acontecer, de maneira que a lavanderia é um lugar que está sempre movimentado. As pessoas ficam por ali, ou esperando a roupa lavar e secar, ou esperando por uma máquina disponível. Eu gostava de lavar roupa de madrugada, quando o movimento era menor.

Naquela noite eu tinha acabado de colocar a minha roupa na secadora, quando Adriana chegou.

- Oi, você não é o pianista que toca no lobby? Que bonita a maneira que você toca. É música brasileira aquilo não é? Me encanta a música brasileira. É uma vida boa esta vida de músico não é? Eu estou cansada de carregar pratos e de aturar esses gringos malditos, eu queria ser artista, cantora, dançarina, sei lá, tocar um instrumento, ter uma vida fácil como a de vocês.

- E o talento? Você tem algum talento para cantar, dançar ou tocar algum instrumento?

Perguntei, interrompendo o discurso daquela gorda que não parava de falar. Ela respondeu que talento pra cantora não, porque não tinha uma voz bonita nem era afinada, mas que para atriz talvez, que quando ela era pequena, ela queria ser atriz de novela de televisão, que achava lindo as atrizes de telenovela, sempre lindas, sempre maquiadas, com roupas elegantes. Nesse ponto ela fez uma pausa e me pediu desculpas por interromper a minha leitura. Eu disse que não tinha importância, que tudo bem, que ela podia continuar falando que eu estava escutando, mas antes que ela continuasse e aproveitando que ela estava colocando sabão na máquina de lavar, eu perguntei como era o seu nome, o que ela fazia a bordo e porque que ela tinha vindo trabalhar nos navios.

Adriana era chilena, de Punta Arenas, no sul do país. Ela era uma morena clara, baixinha e gorda, da cara redonda, os cabelos lisos, pintados de louro, com traços visivelmente andinos, de olhos pequenos e apertados, como os índios. Eu me apresentei, disse meu nome, que era do Rio de janeiro, e ela, sem olhar diretamente nos meus olhos, depois de colocar a sua roupa para lavar, se recostou na parede e olhando para o chão, deu um suspiro longo e começou:

- Eu tinha quase vinte anos, quando um dia, na cozinha da casa da minha mãe, ajudando a mamãe a lavar os pratos do almoço, eu olhei para os meus sapatos, que estavam furados de tão velhos, e pensei que eu não podia continuar daquela maneira. Aqueles eram os meus únicos sapatos e eu já tinha praticamente vinte anos, não podia seguir pedindo que a minha mãe me comprasse sapatos e roupas novas. Somos uma família pobre entende? Então eu resolvi ir embora do Chile. Escrevi para uma tia minha que morava na Alemanha. A minha tia tinha um pequeno restaurante em Hamburgo e precisava de alguém que a ajudasse no serviço. Ela me mandou a passagem e eu fui. Trabalhei com ela quase cinco anos, morando na casa dela, com seu marido e os meus dois primos. Paguei a passagem aos poucos, com o meu trabalho, que era basicamente, limpar, lavar e cozinhar para eles e para os clientes do restaurante. Trabalhei duro, aprendi a falar alemão, fiz boas amizades. Um dia um casal belga, que eram clientes do restaurante, me convidou para eu ir com eles para Bélgica, cuidar do bebê deles. Como eu já estava cansada daquele trabalho no restaurante, eu fui. Fiquei com os belgas mais ou menos uns dois anos, aprendi um pouco de Francês, e aí então, eu conheci o Arquimedes, um grego bonito, que estava de passeio em Bruxelas. Nos conhecemos num parque e foi amor à primeira vista. Naquele tempo eu não era gorda assim não Seu Jaime, eu era magrinha, bonita. Ele gostou de mim e me levou pra viver com ele na Grécia. Vivemos juntos nove anos. A família dele tinha muito dinheiro, trabalhavam com jóias, mas ele tinha problema com drogas, era viciado em cocaína. No principio eu nem desconfiava, mas depois eu descobri, e isso é a pior desgraça que pode acontecer a uma pessoa. Esse vício acaba com qualquer um. Eu não gostava daquilo e ele começou a ficar violento, passou a me bater, minha vida virou um inferno.

- E você falava grego?

Perguntei para que ela pudesse respirar e eu também, pois a história já estava ficando grande demais. Ela continuou.

- Pois é, tive que aprender, é claro, falo fluentemente, melhor que alemão e francês.

- Quer dizer então que você pode falar com o comandante Antalis em grego?

- Sim, é claro que posso, sempre que passo por ele lhe digo “kalimera capitanea”, que quer dizer, bom dia comandante, mas ele só responde com um sorriso, não dá muita conversa não, quem vai dar conversa pra uma garçonete?

O Comandante Antalis era o Comandante do Serenade e era um cara super popular, que todos adoravam. Quase todas as noites ele vinha escutar a minha música e de vez em quando conversávamos. Ele esteve algumas vezes no Brasil, quando trabalhava em navios de carga e como bom grego, era um mulherengo de primeira e adorava as mulheres brasileiras. Mas voltando a Adriana, que eu já havia percebido que tinha a auto estima baixíssima.

Ela perguntou se não me estava atrapalhando e eu disse que não, que estava interessado na sua história e ela prosseguiu dizendo que quando ela se cansou de apanhar do grego, juntou o pouco dinheiro que tinha guardado, comprou uma passagem para o Chile e fugiu dos mal tratos do companheiro. Depois de quase dezessete anos, ela voltou para a casa dos pais, com uma mão na frente e outra atrás, exatamente como havia saído, deixando na Grécia, o seu marido viciado e truculento, jóias, casa, roupas de grife e toda a vida confortável que ela teve, enquanto morou com ele.

- Quando ele não estava cheirado era uma ótima pessoa, carinhoso, fazia tudo que eu queria, me dava de tudo, jóias, viagens. Mas quando estava sob o efeito da droga, se transformava, deixei tudo para trás e fugi pro Chile. Um dia eu vi um anúncio num jornal, que estavam recrutando gente para trabalhar em navios de cruzeiro. Eu fiz a entrevista para garçonete e aqui estou, trabalhando como uma escrava, engordando como uma porca, porque jurei para mim mesmo, que nunca mais eu iria precisar de homem nenhum, nem de ninguém para me sustentar. Hoje eu ajudo a minha família, já compramos uma casa confortável, já conheci mais de vinte países, e só vou ao Chile de férias, mas estou cansada, sabe Seu Jaime, já tenho quarenta e dois anos, estou cansada.

Eu disse que ela podia me chamar de Jaime apenas, que deixasse o senhor pra lá, pois nós tínhamos quase a mesma idade. Ela se espantou, dizendo que eu parecia ter dez anos a menos. Eu agradeci e disse que a culpa era da música e sugeri que ela tentasse passar para outro departamento, pois ela falava vários idiomas e poderia ser uma embaixadora internacional, ou mesmo, trabalhar como tradutora no seu país. Depois agradeci pela confiança dela ter me contado a sua história, recolhi a minha roupa que já estava seca e fui embora pensando naquilo tudo que eu havia acabado de escutar. Durante o tempo em que trabalhamos no mesmo navio, sempre que a encontrava eu perguntava:

- E aí Adriana, já está providenciando a mudança de departamento?

Ela sorria e dizia, que qualquer dia ia ver isso. E eu nunca soube que fim levou a Adriana. Se ela virou uma embaixadora internacional ou se seguiu sendo garçonete no dinnig room. Embaixador internacional é um cargo importante, com direito a cabine individual e tudo. Para ocupar este cargo, a pessoa tem que falar pelo menos, três idiomas além do inglês, que são o espanhol, o Frances e o alemão. E a Adriana de quebra, ainda falava grego.