Letra e música de Ricco Duarte
DIZEM QUE NAS TERRAS DA BAHIA
BATERAM OS TAMBORES PRA OSSAIN
QUE COM OS SEUS APELOS ME PEDIA
OXOSSI MENINO ME ACOMPANHE!
E NAQUELA HORA EU SORRIA
POR DENTRO SERIA UMA MANHÃ
ERA TANTA BELEZA QUE HAVIA
ERA UM SONHO GRUDADO NA LÃ
E AGORA EU ESTOU NO PAREDÃO
TENDO METRALHADO O CORAÇÃO
ME SENTINDO MAIOR EM TUDO
POIS QUANDO SE ESTÁ NO PAREDÃO
NÃO TEM PRA NINGUÉM, NÃO TEM PERDÃO
NINGUÉM É MELHOR NO MUNDO
domingo, 25 de abril de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
SALVE JORGE!
"Jorge é da Capadócia"
Assim cantou outro Jorge
Jorge do bem
Jorge guerreiro
Te saúdo no teu dia
De branco e vermelho
E me visto todos os dias
Com as tuas armas
Para que os meus inimigos
Não me vejam
Não me alcancem
Não me toquem
Nem pensem em mim
Pois o meu destino é de vitória
E para Jorge toda honra e toda glória
Salve Jorge!
Assim cantou outro Jorge
Jorge do bem
Jorge guerreiro
Te saúdo no teu dia
De branco e vermelho
E me visto todos os dias
Com as tuas armas
Para que os meus inimigos
Não me vejam
Não me alcancem
Não me toquem
Nem pensem em mim
Pois o meu destino é de vitória
E para Jorge toda honra e toda glória
Salve Jorge!
quinta-feira, 22 de abril de 2010
SIM, FOI SEU CABRAL
Reza a lenda que no meio da travessia para chegar às Indias, deu uma calmaria na costa africana. Depois deve ter dado uma preguicinha para chegar até o oriente e com aquela preguiça no corpo e na cabeça, a frota de Pedro Alvares Cabral desviou para a costa sul americana, até então desconhecida, e no dia 22 de abril de 1500, aportaram em um porto seguro, no sul onde hoje é o estado da Bahia, terra da preguiça, do axé e do acarajé. Como eles não queriam chegar às Indias, ficaram com os indios nus e coloridos daquela terra, que depois eles se tornariam donos e deu no que deu. Sim, foi seu Cabral com a sua pequena frota de tres naus, trazendo mil e quinhentos degredados, uma gente que Portugal não queria por lá de jeito nenhum, que deu inicio a toda essa maravilhosa, nua, crua e colorida esculhambação que vivemos hoje e sempre, neste abençoado lugar chamado Brasil, onde quem está dentro quer sair e quem está de fora quer entrar, como seu Cabral e seus mil e quinhentos degredados, a quinhentos e dez anos atrás.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
ROGAI POR NÓS
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER
O TIRADENTES
MORTO E ESQUARTEJADO EM 21 DE ABRIL DE 1792
POR ACREDITAR NOS SEUS IDEAIS DE LIBERDADE
ROGAI POR NÓS.
O TIRADENTES
MORTO E ESQUARTEJADO EM 21 DE ABRIL DE 1792
POR ACREDITAR NOS SEUS IDEAIS DE LIBERDADE
ROGAI POR NÓS.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
COMETA PAIXÃO
letra e música de Ricco Duarte
PODE SER QUE VENHA
DA BRISA DO MAR
PODE ESTAR NO CÉU
OU NAQUELE JEITO DE OLHAR
PODE VIR DA NOITE
OU DOS SEUS CABELOS
DA FORÇA QUE MOVE
E ANIMA O MEU CORPO INTEIRO
PODE SER DA TERRA
OU DO TIPO LUNÁTICA
PODE VER ESTRELAS FANTÁSTICAS
PODE DAR NA TELHA
DE VIR DO SAARA
PODE CHEGAR DE CARA
COMETA PAIXÃO
BRILHE!
EMBARACE!
DESVIE DA RAZÃO.
PODE SER QUE VENHA
DA BRISA DO MAR
PODE ESTAR NO CÉU
OU NAQUELE JEITO DE OLHAR
PODE VIR DA NOITE
OU DOS SEUS CABELOS
DA FORÇA QUE MOVE
E ANIMA O MEU CORPO INTEIRO
PODE SER DA TERRA
OU DO TIPO LUNÁTICA
PODE VER ESTRELAS FANTÁSTICAS
PODE DAR NA TELHA
DE VIR DO SAARA
PODE CHEGAR DE CARA
COMETA PAIXÃO
BRILHE!
EMBARACE!
DESVIE DA RAZÃO.
domingo, 18 de abril de 2010
O PRIMEIRO ORGASMO
Ah! Ipanema dos meus melhores sonhos
dos meus melhores dias.
Hoje moro no Flamengo
e com Ipanema ainda sonho
os lindos dias da minha primavera.
Esses pensamentos soam como os versos de Pessoa
poesia que aprendi ainda adolescente
com a irmã Alvara
mestra em português
mas que quando recitava Pessoa
Maria Bethania não lhe chegava aos chinelos.
Ipanema do primeiro beijo
do primeiro baseado
das tardes infindas na pedra do arpoador
para ver o por do sol e aplaudir a vida com entusiasmo.
Ali senti as mãos do Pedro Roberto, gêmeo do Paulo
escorrer sobre as minhas pernas e ir fundo
em movimentos contínuos, calados, dentro do meu sexo
Ali, aplaudindo a vida com entusiasmo
tive o meu primeiro orgasmo
pelas mãos mágicas do Pedro Roberto
ou seriam as do Paulo?
dos meus melhores dias.
Hoje moro no Flamengo
e com Ipanema ainda sonho
os lindos dias da minha primavera.
Esses pensamentos soam como os versos de Pessoa
poesia que aprendi ainda adolescente
com a irmã Alvara
mestra em português
mas que quando recitava Pessoa
Maria Bethania não lhe chegava aos chinelos.
Ipanema do primeiro beijo
do primeiro baseado
das tardes infindas na pedra do arpoador
para ver o por do sol e aplaudir a vida com entusiasmo.
Ali senti as mãos do Pedro Roberto, gêmeo do Paulo
escorrer sobre as minhas pernas e ir fundo
em movimentos contínuos, calados, dentro do meu sexo
Ali, aplaudindo a vida com entusiasmo
tive o meu primeiro orgasmo
pelas mãos mágicas do Pedro Roberto
ou seriam as do Paulo?
sábado, 17 de abril de 2010
FUGINDO DA GUERRA
Trecho do romance "Jaime, o marinheiro"
Essa me aconteceu na academia da tripulação, no Brilliance of the seas. Nós músicos, podemos utilizar a academia dos passageiros, mas as vezes ela está muito cheia, os aparelhos ocupados, e como o passageiro tem sempre a preferência, é mais conveniente utilizar a academia da tripulação, que é muito menor e mais simples, mas dá pro gasto. Era tarde da noite, eu estava sem sono e resolvi ir caminhar na esteira para matar o tempo e ver se o sono chegava. Lá pras duas da manhã, me aparece o faxineiro. Seu nome era Alexander, um sujeito com cara de maluco, branco, muito magro, os olhos grandes e negros, que eu sempre via pelos corredores, cabisbaixo, a fisionomia triste, sem falar com ninguém, fazendo o seu trabalho de limpeza. Às vezes nos entreolhávamos e nos cumprimentávamos com um leve aceno de cabeça, mas não dizíamos nada. Às duas da manhã não tinha ninguém na academia além de mim. Ele entrou, me cumprimentou com a cabeça e eu continuei caminhando na esteira. De vez em quando eu o observava através do espelho, e ele estava lá, em pé, olhando fixo para mim, com a vassoura na mão. Aí eu perguntei se eu estava atrapalhando, se eu tinha que sair para ele fazer o trabalho dele. Ele disse que não, que estava ali matando o tempo, que ele não tinha nada o que fazer e que tinha ido pra academia para se esconder dos supervisores.
A HISTÓRIA DE ALEXANDER
(Fugindo da guerra)
(Fugindo da guerra)
Essa me aconteceu na academia da tripulação, no Brilliance of the seas. Nós músicos, podemos utilizar a academia dos passageiros, mas as vezes ela está muito cheia, os aparelhos ocupados, e como o passageiro tem sempre a preferência, é mais conveniente utilizar a academia da tripulação, que é muito menor e mais simples, mas dá pro gasto. Era tarde da noite, eu estava sem sono e resolvi ir caminhar na esteira para matar o tempo e ver se o sono chegava. Lá pras duas da manhã, me aparece o faxineiro. Seu nome era Alexander, um sujeito com cara de maluco, branco, muito magro, os olhos grandes e negros, que eu sempre via pelos corredores, cabisbaixo, a fisionomia triste, sem falar com ninguém, fazendo o seu trabalho de limpeza. Às vezes nos entreolhávamos e nos cumprimentávamos com um leve aceno de cabeça, mas não dizíamos nada. Às duas da manhã não tinha ninguém na academia além de mim. Ele entrou, me cumprimentou com a cabeça e eu continuei caminhando na esteira. De vez em quando eu o observava através do espelho, e ele estava lá, em pé, olhando fixo para mim, com a vassoura na mão. Aí eu perguntei se eu estava atrapalhando, se eu tinha que sair para ele fazer o trabalho dele. Ele disse que não, que estava ali matando o tempo, que ele não tinha nada o que fazer e que tinha ido pra academia para se esconder dos supervisores.
Os supervisores de limpeza, são em sua grande maioria, ex-faxineiros, quase todos caribenhos, quase todos sem instrução, quase todos sem educação nenhuma, que para se vingar de como foram tratados quando eram faxineiros, perseguem, espezinham e maltratam os seus subalternos, dando ordem aos gritos, como se estivessem falando com animais. Como já expliquei antes, a Companhia tem contratado um grande número de tripulantes oriundos do leste europeu e muitos são faxineiros e brancos. Os supervisores são em grande parte, negros e se aproveitam para se vingar em dobro. O Alexander prosseguiu.
- Eu sempre vejo o senhor por aí sem fazer nada, o senhor é oficial?
Eu respondi que não, que era músico e perguntei o nome dele e de que país ele vinha. Ele respondeu, com um forte sotaque eslavo, o inglês vacilante, que vinha da Macedônia, mas era natural do kosovo, depois me perguntou por que eu estava sempre sozinho. Eu disse que é porque eu gostava de sossego, que era melhor estar só do que andar metido em fofoca e em confusão. Aí ele perguntou se ele estava atrapalhando o meu exercício, se eu queria que ele fosse embora. Eu percebendo no que aquilo ia dar, mandei o meu clássico, “que nada, pode falar que eu estou escutando”. Ele perguntou se eu tinha família. Eu disse que sim, que estava separado, mas que tinha irmãos, sobrinhos, uma família grande no Brasil.
- Brasil?! Deve ser um lugar bonito lá. Eu já vi muitas fotos do Brasil na televisão. Tem guerra no Brasil?
Eu respondi que não, que o país era muito grande e rico, mas que tinha muita gente pobre também, pois o pior problema do Brasil eram os políticos, que viviam roubando o dinheiro do povo. Ele disse que era assim em todo lugar, mas que se não tinha guerra, já era bom demais e começou a contar a sua história.
- Eu perdi toda a minha família na guerra, estou aqui fugido, porque perdi tudo, não tenho nada, nem casa. Minha mulher, minha filha, minha mãe e meus irmãos, todos morreram na guerra, assassinados pelos sérvios.
Nesse momento eu desliguei a esteira e sentei num banco que estava por perto e pedi que ele sentasse também. Ele continuou de pé.
- Minha mãe nasceu na Macedônia e o meu pai na Albânia, depois que eles casaram foram viver no Kosovo. Já ouviu falar no Kosovo?
Eu disse que sim, que era professor de história em meu país e que conhecia bem de história e de geografia também. Ele continuou.
- Os sérvios quiseram fazer uma limpeza de raça no Kosovo, que era de maioria albanesa e queria se tornar independente. Aí então eles nos invadiram. Somos um país pequeno, não tínhamos um exército forte e bem treinado, mas somos bons de briga e nos organizamos em milícias para resistir como podíamos, nas montanhas. Eles eram em maior número, e tinham melhores armas, mas mesmo assim não nos venceram, os americanos nos ajudaram e não perdemos a guerra, mas já era tarde, eu perdi tudo, casa, família, mulher, filha, tudo. Como minha mãe era da Macedônia eu fugi pra lá, porque o meu país estava destruído.
- Eu sei, eu acompanhei pelos jornais e pela televisão.
- Mas garanto que o senhor não conhece as atrocidades que os sérvios fizeram no nosso país, por que isso a televisão não mostra. Eles estupravam as nossas mulheres e depois matavam. As crianças e recém nascidos, eram colocados vivos em fornos micro ondas, e os adolescentes, tinham as suas barrigas cortadas, e eram deixados assim, sangrando, com as tripas de fora, até morrer. Saquearam tudo, incendiaram nossas casas, destruíram nossas plantações, acabaram com o que puderam. Não só o Kosovo como também a Bósnia e a Croácia, mas eles se foderam, os malditos não conseguiram ganhar de ninguém, ficaram só com um pedacinho de terra e com Montenegro, que logo logo vai se separar também. Eu matei vários, não sabia nem pegar numa arma quando eu fui pra milícia, hoje eu sou um bom atirador, matei tantos sérvios que até perdi a conta. Mas agora acabou, tenho que tentar seguir vivendo e reconstruir a minha vida, por isso eu vim trabalhar nos navios. Se eles soubessem que eu tenho tantas mortes nas costas não me contratariam.
-Mas agora acabou Alexander, você é jovem e pode encontrar outra mulher, até aqui mesmo no navio, quem sabe casar, ter outros filhos. O que é que você fazia antes da guerra?
- Eu trabalhava no campo, não tenho muita instrução não, sou camponês.
- E onde foi que você aprendeu inglês?
Perguntei, tentando desviar o assunto. Ele me disse que aprendeu com os americanos, escutando, vendo televisão, perguntando, lendo revistas. Que quando ele foi fazer a entrevista para trabalhar nos navios, comprou um dicionário e foi se virando e que por isso ele só pode trabalhar na faxina, por que o seu inglês ainda não é bom e ele não tem muito estudo. Eu o elogiei dizendo que pra quem não tinha tido um professor, que ele falava muito bem, que ele tinha um bom vocabulário e sabia se expressar, e acrescentei.
-Também, se a sua mãe era natural da Macedônia, você é de uma certa maneira, é um descendente de Alexandre, O grande. Por isso é um cara inteligente e guerreiro. Não é a toa que você tem esse nome. Daqui pra frente sua vida vai mudar Alexander, você vai ver.
Foi quando eu vi Alexander sorrir pela primeira vez. Seu rosto se iluminou com algo parecido com esperança. Sorrindo, com quase todos os dentes estragados, ele me agradeceu e pediu segredo, pediu que eu não contasse pra ninguém a sua história, senão eles podiam despedi-lo e ele não tinha para onde ir. Nos navios pelo menos, ele tinha casa, comida, e era pago pelo seu trabalho. Comparando com o seu passado recente. Podia-se dizer que Alexander, tinha ali, no Brilliance of the seas, uma vida digna.
Fiquei amigo dele. Sempre que eu podia, ia comer a gororoba que serviam no refeitório da tripulação, só para conversar com Alexander, a quem passei a chamar de “Alexander, the great”. Eu escutava as suas histórias fantasiosas e perturbadas pelo horror da guerra, e procurava incentivá-lo a recuperar a sua vida. E também contava as minhas e as do meu país, que apesar de ser um país pacífico, nas nossas favelas e no nordeste do Brasil, acontecem coisas que não são muito diferentes das que aconteceram no Kosovo, durante a sua guerra contra os sérvios.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
O CANTOR GOSPEL
Trecho do romance "Jaime, o marinheiro"
A HISTÓRIA DO MARTIN
(O cantor gospel)
A HISTÓRIA DO MARTIN
(O cantor gospel)
Martin era um auxiliar de escritório natural da Guiana, ex colônia britânica e único país da America do sul cuja língua oficial é o inglês. Seus antepassados eram indianos e imigraram para a America para tentar uma vida melhor no novo continente. Nos conhecemos no Serenade, quando ainda estávamos no estaleiro e o navio não havia sido inaugurado oficialmente. Ele era um rapaz bonito, amigável, conversador e de boa instrução, tinha uns vinte e poucos anos e havia deixado duas filhas pequenas e a sua mulher grávida, em Georgetown, capital da Guiana. De vez em quando almoçávamos juntos no refeitório e ele me contava um pouco dos seus sonhos, que queria ser cantor, mas a vida dura que levava no seu país o obrigou a deletar este plano, logo depois que ele casou e constituiu família, então passou a cantar apenas na igreja, aos domingos. Martin era cristão convicto, falava muito em Deus e fazia constantemente citações da bíblia. Uma vez ele me mostrou uma foto de sua família, numa festa da igreja, ele, a mulher e as duas filhas pequenas. Uma família bonita e aparentemente feliz. Ele também aparentava ser uma pessoa feliz e tranqüila, com grande força de espírito, um cara lutador, que estava sempre fazendo trabalhos extras, para juntar mais dinheiro e sustentar a sua família, que logo iria ganhar mais um membro. Quando sua terceira filha nasceu, eu fui o primeiro saber. Comemoramos juntos, bebendo vinho no bar da tripulação até altas horas, conversando trivialidades, dando risada, celebrando o futuro daquela nova criança. Naquela noite eu sugeri que ele tirasse uma licença não renumerada de quinze dias, e fosse conhecer sua filha caçula, já que ainda faltavam seis meses para o contrato dele terminar. Ele disse que não, que uma passagem para a Guiana, custava muito dinheiro e que seis meses passavam rápido, o que eu entendi perfeitamente. O contrato do Martin era de oito meses e ele estava pensando em estender por mais dois meses. Dez meses no mar, dentro de um navio, trabalhando de sol a sol, bem, no caso de um navio, poderíamos dizer, trabalhando de lua a lua, que dá no mesmo.
Às vezes eu o convidava para sair e ele nunca aceitava pois estava sempre ocupado, fazendo hora extra, mesmo quando ainda estávamos no estaleiro, na Holanda, com Amsterdã a nossos pés, ele nunca saía do navio. Um dia eu perguntei se era a primeira vez que ele havia saído da Guiana, e ele respondeu que sim. Então lhe perguntei se ele tinha vindo trabalhar nos navios para ver o mundo como a maioria das pessoas, e ele disse que não, que tinha vindo trabalhar nos navios para fazer dinheiro para sua família, e que por isso não lhe interessava sair nos portos, que ele queria economizar para o futuro. Um caso comum na vida dos navios, trabalhar e fazer dinheiro, o que não era comum, era o fato de alguém nunca sair em nenhum porto, nem para respirar um ar diferente, ver outra paisagem, isso eu nunca tinha visto. Eu admirava muito a força de vontade daquele rapaz. O meu primeiro contrato terminou, eu fui de férias e quando voltei, seis semanas depois, o Martin ainda estava lá, no mesmo ritmo.
Sempre que ele podia, ele passava rapidamente pelos lugares onde eu estava tocando e ficava por alguns minutos escutando a música. De vez em quando também, ele aparecia no teatro no meio da tarde, quando eu estava treinando e numa daquelas tardes, ele me pediu para eu acompanhá-lo no show de talentos da tripulação, que iria acontecer dali a duas semanas. Eu aceitei com prazer e ensaiamos a canção que ele escolheu, uma balada gospel. Martin tinha uma voz bonita, afinada e na noite do show de talentos, ele ganhou disparado dos outros concorrentes. Eu fiquei impressionado com a força da sua interpretação, cheia de paixão e fé. Na hora da verdade ele cantou diferente dos ensaios, como um profissional, com belíssimos fraseados de jazz, como os negros norte americanos. Quando ele terminou, foi demoradamente aplaudido de pé, inclusive pela imensa torcida adversária, que era claro, a torcida filipina. Eu me vi diante de um dos maiores cantores que eu já havia escutado e sugeri que ele largasse aquela vida no mar e emigrasse para os Estados Unidos, pois ele poderia, com persistência, força de vontade e um pouco de sorte também, ficar rico em pouco tempo, cantando. Ele me respondeu que só cantava para louvar ao Senhor e que não pensava mais em fazer carreira, que isso era coisa do passado. Mesmo assim sempre que o encontrava eu o chamava de “meu cantor.”
Duas semanas depois do show de talentos, ele me apareceu no teatro, no meio da tarde. Sua fisionomia estava diferente, angustiada, parecia inclusive que ele tinha chorado, seus olhos estavam vermelhos. Assim que o vi, pude perceber que havia algo de errado com ele, então sorri e fiz um sinal com a cabeça para que ele se aproximasse e perguntei:
- Como vai o meu cantor predileto, o que vamos cantar hoje?
Ele respondeu que naquela tarde ele só queria escutar um pouco de música, que precisava mais do que nunca relaxar, e ficou de pé, ao lado do piano, o olhar fixo, distante, os olhos marejados. Eu percebi que ele precisava desabafar algo, então diminuí o andamento da música que eu estava tocando, que por coincidência era “you’ve got a friend,” do James Taylor e disse baixinho, que ele podia falar que eu estava escutando. Depois de um breve tempo em silencio, Martin começou a sua história.
- Você acha que existe crime perfeito?
Eu respondi que dependia do crime, mas que a maioria sempre acabava sendo descoberto, mais cedo ou mais tarde e perguntei por que ele tinha feito aquela pergunta. Ele não respondeu e depois de outra breve pausa prosseguiu.
- Sabe por que durante todo este tempo que eu estou aqui, eu nunca saí do navio?
Eu respondi que não com a cabeça e ele continuou, falando baixo e devagar.
- Eu estou aqui fugindo dos crimes que eu cometi. Eu resolvi fugir para o mar, para me auto punir, me aprisionei por vontade própria, pois eu não podia mais olhar nos olhos da minha família.
Eu perguntei o que aconteceu e fiquei dedilhando uma melodia aleatória, bem lenta, e ele continuou, desta vez sem interrupção.
- Eu já estava casado há quatro anos quando conheci um outro rapaz, também casado, mas que não tinha filhos e que trabalhava perto do escritório onde eu trabalhava, no centro da cidade. Sempre nos encontrávamos na saída do trabalho, no final da tarde, e começamos a sair. No principio era só amizade, saíamos para tomar cerveja e conversar, falar do futuro, das nossas famílias, essas coisas. Um dia aconteceu, fizemos sexo, uma, duas, três vezes, e nos apaixonamos. Ele largou a mulher dele e alugou uma casa no subúrbio de Georgetown, onde tínhamos os nossos encontros secretos. Minha mulher pensava que eu tinha outra mulher, pois eu chegava sempre tarde em casa e às vezes dormia fora, na casa dele, com a desculpa de que estava fazendo hora extra no emprego. Ele começou a me pressionar para que eu também largasse a minha mulher e fosse viver com ele, mas isso era impossível, eu tinha medo que as pessoas descobrissem, cidade pequena você sabe como é, todo mundo se conhece, além do mais eu sou cristão, eu era conhecido por todo mundo no bairro e a vizinhança começou a me olhar desconfiada. A minha mulher começou a me pressionar, queria que eu confessasse porque o meu comportamento havia mudado tão radicalmente, queria saber quem era a mulher que tinha virado a minha cabeça. Até então eu não sabia que era bissexual, nunca tinha me acontecido antes, eu nunca tinha me interessado por nenhum outro homem, isto é contra a lei de Deus e eu não podia lhe contar a verdade. Pensei em me matar, mas isso também é contra a lei de Deus. Então ele também começou a me pressionar ainda mais, dizendo que iria contar toda a verdade para a minha mulher, que ele tinha largado a família dele por mim e que eu também tinha que fazer o mesmo. Ele não entendia que isso era impossível para mim, não entendia que aos olhos de Deus o que estávamos fazendo era completamente errado. Eu fiquei apavorado e no desespero, fiz o pior. Apareceu esta oportunidade de vir trabalhar nos navios e eu me inscrevi, sem que ele soubesse, é claro, depois que eu fui aprovado e os papéis ficaram prontos, dois dias antes do meu embarque eu o envenenei.
Nesse momento eu parei de tocar a melodia que eu estava dedilhando, enquanto ele prosseguia com a sua história.
- Coloquei veneno em sua bebida e o vi agonizar ali diante dos meus olhos. Depois apaguei minhas digitais e qualquer vestígio meu naquela casa, e deixei o corpo dele lá, como se ele tivesse cometido suicídio. Eu tive medo que quando eu viajasse, e ele descobrisse, ele contasse tudo para a minha mulher e arruinasse com a minha vida, então o matei, e fugi para o mar. Mas desde então eu não tenho dormido uma noite sequer em paz, entende Jaime? Quando eu fecho os olhos, vejo o rosto dele implorando por ajuda, a sua agonia nos minutos finais, o veneno lhe corroendo as entranhas e ele morrendo aos poucos, em sofrimento. Agora faltam dez dias para o meu contrato terminar e não sei o que me espera quando eu voltar para casa, não sei se a história do suicídio deu certo, não sei se a policia encontrou alguma pista minha, tenho medo de voltar e ser preso.
Quando ele fez uma pausa, eu estava perplexo com o que acabara de escutar, mas procurei não aparentar nada, e disse que na minha opinião, tudo era possível na vida, que eu não era nem cristão nem homossexual, mas que achava perfeitamente possível que duas pessoas do mesmo sexo se apaixonassem, mesmo sendo casadas com outras pessoas, mas que entendia o pânico dele, por morar num lugar pequeno onde todos se conheciam. Depois perguntei por que ele tinha me escolhido como cúmplice da sua história. Ele disse que eu era a única pessoa naquele navio em que ele podia confiar e que ele não agüentava mais conviver com este segredo, que tinha que contar para alguém senão ele iria enlouquecer, e me perguntou assustado se eu iria delatá-lo. É claro que eu o tranqüilizei, dizendo que não, que aquela história morreria comigo, que ele podia realmente confiar em mim, e que eu tinha certeza que não ia acontecer nada com ele, que quando ele chegasse em casa, iria encontrar sua família renovada, com mais um bebê para criar e que com o tempo, agora que ele desabafou, ele iria esquecer tudo, e que eu esperava vê-lo em dois meses outra vez. Ele me disse que em um mês, porque havia pedido apenas um mês de férias. Então encerramos a conversa, ele se despediu e foi embora do teatro, continuar o seu trabalho.
Naquela mesma noite nos encontramos no bar e eu procurei não tocar mais no assunto, nem naquela noite, nem nos dez dias restantes em que o Martin ficou a bordo, antes de ir de férias. Mas durante aqueles dez dias, eu também não pude dormir sossegado. Não podia imaginar, como uma pessoa jovem, bonita e talentosa como ele, poderia ter uma história daquele tamanho. Preferi acreditar, já que eu achava e acho, que tudo é possível, que aquilo tinha sido imaginação da cabeça dele, que ele tinha inventado aquela história para me impressionar, mas as vezes me batia a paranóia de que ele poderia ser um psicopata e eu não tinha me dado conta, e já que agora eu era o seu cúmplice, ele poderia querer apagar mais essa evidência, ou seja, me apagar. Se ele foi capaz de matar alguém com quem ele tinha um relacionamento e por quem ele estava apaixonado, poderia perfeitamente envenenar a minha bebida também. Evitei aparecer no bar por aqueles dias, e sempre que o via o tratava normalmente, como se nada tivesse acontecido, o chamando sempre de meu cantor, mas com a pulga atrás da orelha, contando os dias para ele sair de férias. O fato é que o Martin, não voltou depois das quatro semanas. Soube depois, pelo supervisor do departamento em que ele trabalhava, que ele tinha sido transferido para outro navio e nunca mais tive notícias dele. Ele nunca me escreveu uma linha, nem se despediu de mim quando foi embora. Tomara que ele tenha seguido o meu conselho de se mudar para os Estados Unidos para tentar a carreira artística. Torço sinceramente, para que tenha acontecido o melhor na vida daquele moço. Mas a sua história, que até então estava guardada comigo, nunca mais me saiu da cabeça.
terça-feira, 13 de abril de 2010
SE FAZER ENTENDER
TENHO A SENSAÇÃO CONSTANTE
DE QUE O MUNDO
OU TEM OS OUVIDOS PEQUENOS
OU OS TÍMPANOS FURADOS
ISSO SEM FALAR NOS OLHOS MÍOPES
COMPLETAMENTE DESRREGULADOS.
TENHO A IMPRESSÃO INCESSANTE
DE NÃO ME FAZER ENTENDER
MESMO QUANDO PENSO FALAR CLARO
PAUSADO, BUSCANDO VERBOS
E PALAVRAS SIMPLES.
PASSO HORAS DOS MEUS DIAS
TENTANDO ENTENDER O MUNDO
DESFAZENDO O SABER DE TUDO
PROCURANDO O PRAZER LÚDICO
E SEM ENCONTRAR NADA.
DE QUE O MUNDO
OU TEM OS OUVIDOS PEQUENOS
OU OS TÍMPANOS FURADOS
ISSO SEM FALAR NOS OLHOS MÍOPES
COMPLETAMENTE DESRREGULADOS.
TENHO A IMPRESSÃO INCESSANTE
DE NÃO ME FAZER ENTENDER
MESMO QUANDO PENSO FALAR CLARO
PAUSADO, BUSCANDO VERBOS
E PALAVRAS SIMPLES.
PASSO HORAS DOS MEUS DIAS
TENTANDO ENTENDER O MUNDO
DESFAZENDO O SABER DE TUDO
PROCURANDO O PRAZER LÚDICO
E SEM ENCONTRAR NADA.
sábado, 10 de abril de 2010
BUMBA, A BOMBA.
O que aconteceu no morro do Bumba em Niteroi foi um crime que precisa ser punido. Curiosamente, as catástrofes naturais tem se multiplicado neste ano de 2010, ano de eleição em todo o país. Os politicos, principalmente os da esquerda populista, como é o caso do prefeito de Niterói, já no seu quarto mandato, prometem mundos e fundos e depois de eleitos deixam os seus eleitores ao Deus dará. O sr. Jorge Roberto da Silveira, teve a cara de pau de vir a público dizer que não sabia que aquela comunidade do Bumba, havia sido construída em cima de um lixão. Como, se ele é prefeito pela quarta vez? Além disso a prefeitura, pavimentou, instalou água e luz, fez escolas, legalizando por interesses mesquinhos e eleitoreiros uma area onde jamais poderiam ser construídas moradias. O prefeito niteroiense, pegou carona no já famoso "eu não sabia de nada" criado pelo nosso presidente da república, quando começaram a pipocar os escandalos do atual governo. Como pode um líder governista não saber o que se passa, na sua cidade, no seu estado, no seu país? Agora que pelo menos duzentas pessoas perderam a vida, as providencias começaram a ser tomadas, reafirmando o velho ditado de que o brasileiro só fecha a porta depois de roubado. Mas outros "Bumbas" estão espalhados por aí, e eu me pergunto, onde explodirá a próxima bomba, deflagrada pela imcompetência crônica do poder público neste país?
quarta-feira, 7 de abril de 2010
DEPOIS DA TEMPESTADE
Diz o velho ditado que depois da tempestade vem a bonança. Depois de dois dias de tempestades, que causaram morte e destruição em várias cidades do estado do Rio de janeiro, os céus começaram a dar sinais de trégua. Mas a bonança só virá, quando aprendermos a não desmatar as nossas florestas, construindo irregularmente nas encostas, com o consentimento das autoridades incompetentes que nos tem governado seguidamente. Quando usarmos menos sacos e sacolas plasticas nas feiras e supermercados. Quando aprendermos a separar e reciclar o nosso lixo. Quando deixarmos de jogar lixo nas ruas, entupindo os bueiros das cidades, o que provoca os alagamentos. Quando respeitarmos o nosso planeta. Quando aprendermos enfim a nos reciclar. Caso contrário, nas próximas tempestades, mais mortes, mais destruição, mais sofrimento.
terça-feira, 6 de abril de 2010
GABEIRA NA CABEÇA!
Apesar do dilúvio que se abateu sobre o Rio de janeiro, mais de duzentas pessoas foram ontem, segunda feira, até a câmara de vereadores carioca, escutar e discutir as propostas do pre candidato ao governo do Rio de janeiro pelo Partido verde, o deputado federal Fernando Gabeira, que como sempre nos brindou com a sua brilhante inteligencia e o seu humor refinado, nos deixando esperançosos da sua vitória, para que possamos ter no Rio de janeiro, finalmente, um governo ético e transparente. Gabeira na cabeça!
segunda-feira, 29 de março de 2010
BAHIA BRUXA E MADRINHA
Hoje, 29 de março, a primeira capital brasileira completa 461 anos de fundação, São Salvador da Bahia, minha terra natal, onde vivi boa parte da minha vida e de onde parti para o mundo, há quase trinta anos. Abaixo, um poema que escrevi quando tentei voltar a morar em Salvador, há oito anos atrás. Lembro que me senti como Ulisses ao voltar para casa e encontrar uma casa totalmente diferente daquela que ele havia deixado. Ele mesmo já não era mais o mesmo. No meu caso, eu também não era mais o mesmo e na cidade que reencontrei não havia mais os amigos, parte da familia já havia partido, os rostos e os cheiros eram outros e eu, não me reconheci vivendo nela. Tres meses depois, voltei de novo para o mundo e para o meu Rio de janeiro. Salvador, que nós baianos chamamos de "Bahia", por está belíssimamente situada na entrada da Baía de todos os santos, com seus feitiços e encantamentos, será para sempre a minha bruxa e madrinha.
marco de fundação da cidade no Porto da barra
“TRISTE BAHIA,
OH QUÃO DESEMELHANTE”
ASSIM FALOU GREGÓRIO DE MATOS
PORISSO TE ADOTEI POR UM INSTANTE
MADRASTA E MÃE
BRUXA E MADRINHA
QUE COM COLHER DE PAU E VARINHA
ORA ME ACARICIA
ORA ME BATE.
E ASSIM VIVENDO NESSE EMBATE
DANDO AS MINHAS FACES
À DOR E AOS BEIJOS
VEJO O QUE SOU
E A TUDO DESEJO
ESCUTANDO AS ESTRELAS QUE PELEJAM
POR SOBRE OS MARES AZUIS
E AS LÍNGUAS NEGRAS
COM SEUS DENTES BRANCOS ESCANCARADOS
TAL QUAL AS CARRANCAS DE SORRISO FEIO
DOURADAS NOS TACHOS DE DENDÊ
NAS MANHÃS DE SOL
E NAS MADRUGADAS
QUE É QUANDO A NOITE SE ESVAI
E AS ESTRELAS SE RECOLHEM ENCABULADAS
SUSSURANDO NO OUVIDO DO TEMPO:
NEM TANTO AO MAR
NEM MUITO AO MEIO
POIS QUANTO MAIS TE AMO
MAIS TE ODEIO.
sábado, 27 de março de 2010
quarta-feira, 24 de março de 2010
VIVA O POVO DO XINGU!
Hoje pela manhã, em frente a sede do BNDES, no centro do Rio de janeiro, dezenas de manifestantes protestaram contra a construção da usina hidroelétrica de Belo Monte, que causará impactos irreversíveis a fauna, flora e a biodiversidade, além de colocar em risco a sobrevivência dos 24 grupos indígenas que dependem do Rio Xingu, com a diminuição intensa das espécies de peixe, seu principal alimento. Na foto ao lado, representantes das tribos do xingu, os índios José e Elza, que vieram de Altamira participar do protesto. Abaixo, ativistas do Green peace. Viva o povo do Xingu!
segunda-feira, 22 de março de 2010
domingo, 21 de março de 2010
CONSELHO DE MÃE, RESPOSTA DE POETA
- PÁRA COM ESSA MANIA MALUCA DE ESCREVER POESIA MENINO, QUE POESIA NÃO DÁ DINHEIRO. VAI ESTUDAR PRÁ SER ENGENHEIRO OU MÉDICO PSIQUIATRA, QUE É QUEM CUIDA DE GENTE QUE NÃO TEM CURA.
- O POETA NÃO TEM CURA MAINHA. A POESIA ESTÁ CUIDANDO DE MIM MESMO.
- O POETA NÃO TEM CURA MAINHA. A POESIA ESTÁ CUIDANDO DE MIM MESMO.
sexta-feira, 19 de março de 2010
PARA ISSO E AQUILO
Para conquistar meu coração
Diga a verdade
Para sustentar
Cash
E para prosseguir
Viaje
Para alimentar meu coração
Peixe
Para amaciar
Beije
E para colorir
Verde
Mas para esquecer meu coração
Coragem
Pois para o deserto
Sêde
E para relembrar
Saudade
Diga a verdade
Para sustentar
Cash
E para prosseguir
Viaje
Para alimentar meu coração
Peixe
Para amaciar
Beije
E para colorir
Verde
Mas para esquecer meu coração
Coragem
Pois para o deserto
Sêde
E para relembrar
Saudade
quinta-feira, 18 de março de 2010
VERDES UNIDOS PELO RIO
Um grande número de militantes do Partido Verde, compareceu ontem ao centro do Rio, para protestar contra emenda do deputado Ibsen Pinheiro, que muda radicalmente o sistema de distribuição dos royalties do petróleo, o que fará com que o estado do Rio de janeiro, um dos maiores polos produtores petrolíferos do país, perca anualmente, cerca de sete bilhões de reais, prejudicando investimentos na saúde e educação, e não só na copa de 2014 e jogos ollimpicos de 2016, como disse o atual governador. Segundo a polícia militar cerca de cento e cinquenta mil pessoas enfrentaram a chuva forte que caíu ontem sobre a cidade, para participar da caminhada que saiu da Candelária e seguiu até a Cinelândia, onde houve um ato público e claro, um show com vários artistas, afinal estamos no Rio de janeiro.
Verdes unidos pelo Rio de janeiro.
Verdes unidos pelo Rio de janeiro.
terça-feira, 16 de março de 2010
CAMINHADA ECOLÓGICA
No último domingo, dia 14 de março, o conselho gestor dos morros da Babilônia, São João e Leme, promoveu uma caminhada ecológica até o topo do morro da Babilônia, que contou com a participação de mais de uma centena de ecologistas. A caminhada comemorou o dia mundial da água e alertou mais uma vez, para a necessidade de reduzir o aquecimento global. A próxima caminhada acontecerá no dia 13 de junho.
Detalhe do "mudário", de onde são colhidas as mudas para o reflorestamento dos morros.
A vista deslumbrante do topo da Babilônia e ao lado.
domingo, 14 de março de 2010
VOCÊ SABIA?
Você sabia que em 1988, Marina Silva foi a vereadora mais votada do município de Rio Branco, capital do Acre, conquistando a única vaga da esquerda na câmara municipal e que como vereadora, causou polêmica por combater os privilégios dos vereadores, se recusando a receber tais benefícios e tentando, sem sucesso, que os outros colegas fizessem o mesmo? Com isso, claro, ela passou a ter muitos adversários políticos, mas a admiração popular também cresceu. Marina Silva para presidente!
sábado, 13 de março de 2010
DÉJÀ VU
NA PRIMEIRA VEZ QUE EU TE VI
ERA MEIA LUZ
E O TEU ROSTO ESTAVA NA SOMBRA
ENTÃO PEGUEI A METADE ILUMINADA
E CORRI COM ELA PELA ESTRADA
PENSANDO TER PEGO
O RUMO CERTO.
PASSADO UM TEMPO
COM AS LUZES DA CASA ACÊSAS
TENDO A OUTRA METADE ÀS CLARAS
SENTÍ NO MEU CORAÇÃO UM APÊRTO
ERA EU DE NOVO
QUE TINHA ABERTO AS PORTAS DA MINHA ALMA
E COLOCADO O LIXO PARA DENTRO.
ERA MEIA LUZ
E O TEU ROSTO ESTAVA NA SOMBRA
ENTÃO PEGUEI A METADE ILUMINADA
E CORRI COM ELA PELA ESTRADA
PENSANDO TER PEGO
O RUMO CERTO.
PASSADO UM TEMPO
COM AS LUZES DA CASA ACÊSAS
TENDO A OUTRA METADE ÀS CLARAS
SENTÍ NO MEU CORAÇÃO UM APÊRTO
ERA EU DE NOVO
QUE TINHA ABERTO AS PORTAS DA MINHA ALMA
E COLOCADO O LIXO PARA DENTRO.
quarta-feira, 10 de março de 2010
PARA ESQUECER MEU GRANDE AMOR
Para esquecer meu grande amor
Me joguei numa rede imaginária
E me deixei ser pescado pelo tempo
Pesca boa
Pesca ruim
Esvaziei vidros de aspirina
E o meu grande amor não esqueci
Para esquecer meu grande amor
Esperei debruçado na janela
Um vento que soprasse para mim
Vento bom
Vento ruim
Arriei depacho na esquina
E o meu grande amor não esqueci
Para esquecer meu grande amor
Que é coisa que não se esquece
Fiz promessa, reza, prece
Reza boa
Prece ruim
E quando olho hoje, ainda
O meu grande amor não esqueci
Me joguei numa rede imaginária
E me deixei ser pescado pelo tempo
Pesca boa
Pesca ruim
Esvaziei vidros de aspirina
E o meu grande amor não esqueci
Para esquecer meu grande amor
Esperei debruçado na janela
Um vento que soprasse para mim
Vento bom
Vento ruim
Arriei depacho na esquina
E o meu grande amor não esqueci
Para esquecer meu grande amor
Que é coisa que não se esquece
Fiz promessa, reza, prece
Reza boa
Prece ruim
E quando olho hoje, ainda
O meu grande amor não esqueci
terça-feira, 9 de março de 2010
RICCO DUARTE BATE PAPO COM RAILTON SANTOS
No final dos anos setenta, ainda estudante, trabalhei para a Bahiatursa, orgão oficial do turismo na Bahia. Foi um período maravilhoso em minha vida, época de descobertas, onde fiz grandes amigos. Alguns o tempo levou, outros o tempo me trouxe de volta, como o poeta e educador Railton Santos, criador do blog "Corcel poético" e professor do ensino fundamental na belissima ilha de Itaparica e no mais populoso bairro de Salvador, o bairro da Liberdade. A substância louca, no mes de aniversário de fundação do Rio de janeiro (primeiro de março) e também da cidade de Salvador (vinte e nove de março), inaugura a sessão "Bate papo" com essa grande figura humana, Railton Santos, reafirmando assim a ponte da amizade entre o Rio e a Bahia, expoentes culturais desse país gigante e lindo.
RD: Somos de uma geração que acompanhou várias mudanças na segunda metade do século passado. Você como educador, observa muitas diferenças entre os jovens da nossa geração e a juventude deste início de século? Quais?
RS: Como educador, tenho trabalhado com alunos oriundos da periferia de Salvador e Itaparica, observando no dia-a-dia que a juventude de hoje está carente de limites e respeito pelas leis, pelos seus pais e seus educadores. O narcotráfico está vitimando um grande número de adolescentes, conseqüentemente gerando aterradora violência. Por outro lado, alguns poucos dentre os jovens estão desfrutando de algumas conquistas da nossa geração, tais como uma maior liberação sexual e igualdade de direitos independente de raça.
RD: Como a poesia entrou na sua vida e quais as suas maiores influências?
RS: A primeira pessoa a estimular-me o gosto pela poesia foi meu pai, que durante a minha infância, na condição de presidente de uma associação de moradores, promovia recitais em datas comemorativas. Ele adquiriu uma coleção que se chamava Tesouro da Juventude, que, além de muita poesia, também havia muitos contos de fadas, onde eu dedicava algumas horas diárias lendo. As minhas maiores influências como poeta, são: Cecília Meireles, Drummond, Bandeira e Walt Whitman.
RD: Recentemente você lançou uma publicação virtual, com poesias muito interessantes. Você pretende fazer uma publicação impressa daquele ou de outros trabalhos poéticos?
RS: Ultimamente, tenho pensado publicar um livro, quem sabe, no final do ano.
RD: Cazuza, poeta da nossa geração disse, "meus heróis morreram de overdose". Quem são os seus heróis?
RS: Meu herói é meu parceiro que tem me acompanhado mais de quinze anos.
RD: "Tempo, tempo, tempo, tempo..." disse o poeta Caetano Veloso. Como o poeta Railton Santos define o tempo?
RS: O tempo é um mestre que nos comanda e nos transforma. Ele nos dá rugas, cabelos brancos e muitas lições. Estive lendo alguns versos de João Carlos Teixeira Gomes, com o qual me identifiquei, onde o mesmo diz que já foi menino e atualmente está caminhando para ser apenas um retrato na parede.
RD: Em quem você vai votar para presidente? Por que?
RS: Pela sua história de vida, sua consciência ecológica e sua vontade de mudar o Brasil votarei em Marina Silva.
sexta-feira, 5 de março de 2010
NEM TUDO ESTÁ PERDIDO
Nesta cidade de São Sebastião do Rio de janeiro, onde o noticiário infelizmente nos brinda todos os dias, com notícias de balas perdidas, roubos e sequestros, mas que é também, um dos destinos turisticos mais procurados do mundo e sem dúvida a cidade mais bela do planeta, me aconteceu o seguinte: Ontem, no final da tarde, quando eu voltava para casa pela Praia de Botafogo, carregado de compras, debaixo de uma chuva fina, deixei cair do bolso, sem perceber, o meu celular e dentro dele a minha vida, como a agenda de contatos profissionais importantissimos. Ao chegar em casa, ainda sem dar conta do ocorrido, tinha uma mensagem na caixa de entrada do meu telefone fixo que dizia, "oi meu nome é Pedro, eu achei o seu celular na Praia de Botafogo e estou te ligando para te devolver". Então revistei os bolsos do casaco e percebi que o celular não estava lá. Daí liguei para mim mesmo e o Pedro atendeu. Educadamente me informou que já estava a caminho de casa, em Niterói, mas que no dia seguinte me entregaria o aparelho. No princípio não acreditei, pois 999 pessoas em mil, ou ficariam com o aparelho ou simplesmente jogariam fora, etc, etc. Mas hoje, no final da tarde, liguei para o Pedro e marcamos na porta do edificio aonde ele trabalha, na Praia de Botafogo 300, onde funciona um Centro empresarial. Na hora combinada, o Pedro apareceu, conferindo com bom humor se era mesmo eu, o cara da foto gravada no meu celular. Pedro Pedroza é um jovem administrador de 28 anos, morador de Niterói, que nos enche de orgulho e esperança, nesses tempos bicudos onde a confiança no ser humano é cada vez mais rara e onde a vida humana, pouco ou nada vale. Que tomemos Pedro Pedroza como exemplo e sigamos felizes, na certeza de que nem tudo está perdido.
segunda-feira, 1 de março de 2010
EU SIGO LHE ATIRANDO FLORES!
Tenho a mania de atirar flores, de fazer elogios aos que amo e nesse embalo, sou parcial, relevo erros, esqueço traições, perdoo. Porque quem ama perdoa. Por esta razão, o meu sofrimento foi imenso, todas as vezes que eu tive que deixar a cidade que eu amo, para faturar algum dinheiro com a minha música, já que na cidade amada, as minhas serenatas não valiam mais do que um tostão furado. E a mulher, amada ou não, gosta mesmo é de dinheiro, mais do que de flores até. Porisso, lá no estrangeiro, exilado do meu amor, eu fechava os olhos e via com saudade suas manhãs de maio e junho, o céu lavado de azul, como se Deus tivesse mandado fazer uma faxina por aqueles dias, fazendo com que o sol iluminasse a cidade com um filtro especial. E chorava por dentro, só de pensar na sua Lagoa, coração de um lugar cheio de vida, onde o seu povo nega a rendição e resiste com molejo, à violência que nela se instalou, devido ao seu crescimento desordenado e desumano. Pensava na sua floresta imensa, pulmão de um povo que respira às vezes com medo, às vezes com sossego, mas que respira sobretudo aliviado, ao se mirar no Corcovado e receber as bênçãos do seu Cristo redentor, que está lá, de braços abertos, como que a dizer, “eu te amo”. Eu te amo Rio de Janeiro! Carioca não sou de nascimento, mas como disse o poeta paraense Billy Blanco, “carioca é aquele que vem e fica por amor à cidade”. Eu vim pra você um dia, menino grande mijando nas calças ainda, e me enamorei de ti para sempre. Como um adolescente que beija na boca pela primeira vez, nunca mais te esqueci. E aqui estou, com os pés fincados no teu chão, porque tu és para mim o perfeito resumo desse país gigante. Toda a gente do Brasil se encontra no Rio. Toda a gente do mundo samba o teu samba. Rio de janeiro da Mangueira, da Portela, do meu Salgueiro, da Tijuca, da Mocidade Independente de Padre Miguel, que vai a qualquer lugar! Rio de Chico Buarque de Hollanda, de Tom e Vinícius, de Noel, Cartola e Braguinha, de Pixinguinha, Zeca Pagodinho, Tim, Benjor, Dona Ivone Lara e Beth carvalho. Rio de janeiro de Elza “suingue” Soares e Paulinho da viola! Rio de Nelson Cavaquinho, Assis Valente, Geraldo Pereira e de muitos outros cariocas, vindos de todas as partes do Brasil e que se renderam ao seus encantos, de Caymmi a Caetano, só para lembrar alguns baianos, como o André Filho, que te eternizou, ao te cantar como "cidade maravilhosa". Rio de ‘Seu Ari “brasileiro” Barroso, o maior carioca de todos os mineiros. Rio de todos os poetas! De todas as letras! Drummond, Cecília, Clarisse e tantos outros que te bendigam. Rio de janeiro "da mulata e do futebol", de tricolores e rubro-negros, da cruz de malta e da estrela solitária. Rio de janeiro americano. Eu, que já visitei mais de cem cidades por esse mundo de meu Deus, posso dizer sem medo de errar, que não tem nenhum lugar neste planeta, mais bonito do que o meu Rio de janeiro, meu ponto de referência no mundo, para onde eu sempre voltarei. No dia do seu aniversário, desejo que São Jorge te guarde com a poderosa lança, enfrentando todos os dragões da maldade que pairam sobre ti, e que São Sebastião, continue a receber as flechas que lhe atiram e mesmo assim, siga te protegendo firme e forte. Eu sigo lhe atirando flores!
domingo, 28 de fevereiro de 2010
ADVERTÊNCIA!!!
PARA ENCERRAR FEVEREIRO VAI AQUI UMA ADVERTÊNCIA:
"QUEM NÃO SE DIVERTIR NESTE MUNDO
NO OUTRO SERÁ ADVERTIDO"
"QUEM NÃO SE DIVERTIR NESTE MUNDO
NO OUTRO SERÁ ADVERTIDO"
sábado, 27 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
FILHOS AO VENTO
DEFEITO DO TEU DEFEITO
GENÉTICAMENTE IMPERFEITO
POR TI CONCEBIDO E DESFEITO
BÊBADO DO LEITE DO TEU PEITO
ALMA DA TUA ALMA
LEITO DO TEU RIO SEM CALMA
ONDE O PRANTO DESÁGUA
EM DOR E MÁGOA
E O SUOR ENXÁGUA
AS MARCAS DA DESARMONIA
LUTAS QUE FUI VENCENDO
DIA APÓS DIA
AGORA EU TE CONFISCO AS ARMAS
JOGO FORA AS BALAS
E TE ENTREGO AO TEMPO
PARA QUE NÃO DISPARES MAIS
FILHOS AO VENTO
GENÉTICAMENTE IMPERFEITO
POR TI CONCEBIDO E DESFEITO
BÊBADO DO LEITE DO TEU PEITO
ALMA DA TUA ALMA
LEITO DO TEU RIO SEM CALMA
ONDE O PRANTO DESÁGUA
EM DOR E MÁGOA
E O SUOR ENXÁGUA
AS MARCAS DA DESARMONIA
LUTAS QUE FUI VENCENDO
DIA APÓS DIA
AGORA EU TE CONFISCO AS ARMAS
JOGO FORA AS BALAS
E TE ENTREGO AO TEMPO
PARA QUE NÃO DISPARES MAIS
FILHOS AO VENTO
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
NUNCA SE SABE O QUE VEM PELA FRENTE
Ela era uma mulher esbaforida, sempre atrapalhada com os seus múltiplos afazeres, pois para ela, o bom mesmo era fazer mil coisas ao mesmo tempo, desde que meninozinho, seu gato de estimação, se atirou pela janela e levou com ele o seu último namorado, que na tentativa de segurar o gato pelo rabo, também escorregou pela janela, oito andares abaixo, bem diante do seu nariz, na sala do seu apartamento, como se tivessem combinado os dois, agora! um, dois, tres, já! Desde então, ela decidiu pensar e fazer mil coisas ao mesmo tempo, para se esquecer do tempo e daquele dia em que ela se viu privada de seus dois grandes amores para sempre, meninozinho e o seu último namorado.
Lá se vão doze para treze anos que ela se via nessa constante agitação diária. Se tinha que passar a roupa, o fazia já pensando na hora que teria que ir para o curso de corte e costura e no telefonema que teria que dar para a mãe para lembrar-lhe de não esquecer de tomar os remédios. Ao mesmo tempo preparava o almoço pensando no que iria comer à noite e na manhã seguinte, no café da manhã. Se ia ao banheiro usar o vaso, já aproveitava para escovar os dentes e comia vendo televisão, trabalhando no computador e fazendo as unhas, tudo ao mesmo tempo. Se ia à caça, partia pronta, armas em punho, vestida para matar, ou para se safar, a sua bolsa estava sempre cheia, camisinhas com espermicida, spray de pimenta, tesourinha de unha e outra cirúrgica, que roubara da casa da irmã médica há anos e que cortava tudo com mais facilidade, pois era cirúrgica afinal, um rolo de papel higiênico, uma calcinha reserva, boné, toalha de praia, uma meia peruca ruiva, para o caso de precisar disfarçar a identidade, e uma fantasia de baiana, que era a sua fantasia favorita, dar pro primeiro que aparecesse, vestida de baiana do acarajé, de modo que quando ela saia pra caçar, levava o tabuleiro inteiro.
Nunca se sabe o vem pela frente, pensava ela entre os seus mil e um pensamentos diários. Ela não tinha mais família, lhe restou apenas uma mãe doente e meio surda,que tomava remédios para controlar a pressão, o colesterol, a tireóide, a diabetes, a puta que pariu. Ela fazia questão de controlar os horários de toda essa farmácia ambulante, que a pobre mãe viúva carregava vida a fora e sabia de cor e salteado, a posologia de cada um deles. Antes de se deitar ela ligava pra mãe, que morava no apartamento ao lado e passava a limpo todo aquele arsenal.
- Mamãe, a senhora tomou as pílulas das quinze horas hoje? e as das 22 mamãe? lembre-se de que as das 23:30 a senhora tem que tomar com leite, pra não atacar a úlcera ouviu bem?
Amanhã... bem, amanhã tudo de novo, lavar, passar, escovar, limpar, corte e costura, cozinhar, computar, telefonar pra aqui, pra ali, pra acolá, ver todos os filmes da tv, dez minutos de cada um e sempre com o rádio ligado ou com o cd no repeat, tocando a mesma música, sem esquecer de dar uma passadinha por todos os programas de fofoca da tarde, tudo ao mesmo tempo e agora e ainda se desse, arrumava um tempinho pra ver se encontrava alguém que quisesse comer o seu acarajé. Fazia tempos que ela não dava pra ninguém vestida de baiana, a última vez foi pra um motorista de taxi que ela pegou na Praça da Sé e levou o sujeito lá pros lados da Ribeira e ali mesmo, dentro do taxi, ela trocou de roupa e deu como uma desesperada, toda paramentada, com seus colares, pulseiras e balangandãs, pra aquele taxista gordo, cheirando a alho. Ela já tinha dado pro porteiro na escada do prédio, pro carteiro, pro entregador de água, mas tudo rápido sem conversa, sem fantasia de baiana, que é quando ela se sentia poderosa, por cima de todas aquelas saias rodadas, metida naquele turbante ordinário e amarelecido pelo tempo. Era assim que ela gostava de dar, vestida de baiana.
Nunca se sabe o que vem pela frente. Ela, que perdera a única irmã vítima de bala perdida, que viu o seu gato de estimação e o seu último namorado sumirem janela abaixo, no mesmo dia, hora e local, ela que só tinha uma mãe surda e medicamentosa, ela que estava aposentada há quatro anos, mas que vivia ocupada com mil e um afazeres, pensando em mil coisas ao mesmo tempo, ela que pensava em tudo, jamais poderia imaginar que naquela manhã de domingo fosse dar de cara com o amor da sua vida. Logo naquela manhã, quando ela estava desprevenida, sem spray, sem camisinha, sem fantasia de baiana, justo naquela manhã e daquela maneira, ela deu de cara com Altair.
Logo que acordou, com o primeiro cocorocó das galinhas, ela saiu para comprar pão e leite na padaria da esquina, jogo rápido, pois teria que voltar imediatamente, para ligar pra mamãe, lembra-lhe dos remédios, botar a água do café pra ferver, ligar o rádio, o som, a tv, o computador, etc, etc, portanto não podia demorar. Foi quando ela tropeçou em Altair, um rapaz forte, moreno alto, de voz aveludada, na fila do caixa da padaria, enquanto ela pensava em mil coisas. Altair se aproximou e disse quase ao pé do ouvido dela:
- A senhora se esqueceu de amarrar o tênis, pode tropeçar e cair se não tomar cuidado.
Em seguida, antes que ela lhe agradecesse, que lhe dissesse que estava pensando em mil coisas, que estava com pressa e nem reparara em amarrar o tênis, Altair se abaixou e o fez, de forma delicada e firme, depois a convidou para dar uma volta na praia com ele, para aproveitar o sol da manhã e em seguida, sem dar tempo para ela responder, Altair se ofereceu para segurar as bolsas com o pão e o leite que ela acabara de comprar. Eram seis e trinta de uma manhã de domingo começando a ensolarar, a cidade sequer despertara do seu sono de sábado e estava praticamente deserta, quando ela e Altair atravessaram a avenida da praia, olhos nos olhos, hipnotizados por aquele encontro inesperado, ela pensando em mil coisas ao mesmo tempo, ele atento àquele par de tenis que acabara de amarrar, os dois entrelaçados por seus pensamentos, não perceberam um caminhão de entregas que entrou pela avenida desgovernado, na contramão, em alta velocidade, e levou ela e Altair para o andar de cima, numa manhã de domingo que estava apenas começando. Nunca se sabe o que vem pela frente.
Lá se vão doze para treze anos que ela se via nessa constante agitação diária. Se tinha que passar a roupa, o fazia já pensando na hora que teria que ir para o curso de corte e costura e no telefonema que teria que dar para a mãe para lembrar-lhe de não esquecer de tomar os remédios. Ao mesmo tempo preparava o almoço pensando no que iria comer à noite e na manhã seguinte, no café da manhã. Se ia ao banheiro usar o vaso, já aproveitava para escovar os dentes e comia vendo televisão, trabalhando no computador e fazendo as unhas, tudo ao mesmo tempo. Se ia à caça, partia pronta, armas em punho, vestida para matar, ou para se safar, a sua bolsa estava sempre cheia, camisinhas com espermicida, spray de pimenta, tesourinha de unha e outra cirúrgica, que roubara da casa da irmã médica há anos e que cortava tudo com mais facilidade, pois era cirúrgica afinal, um rolo de papel higiênico, uma calcinha reserva, boné, toalha de praia, uma meia peruca ruiva, para o caso de precisar disfarçar a identidade, e uma fantasia de baiana, que era a sua fantasia favorita, dar pro primeiro que aparecesse, vestida de baiana do acarajé, de modo que quando ela saia pra caçar, levava o tabuleiro inteiro.
Nunca se sabe o vem pela frente, pensava ela entre os seus mil e um pensamentos diários. Ela não tinha mais família, lhe restou apenas uma mãe doente e meio surda,que tomava remédios para controlar a pressão, o colesterol, a tireóide, a diabetes, a puta que pariu. Ela fazia questão de controlar os horários de toda essa farmácia ambulante, que a pobre mãe viúva carregava vida a fora e sabia de cor e salteado, a posologia de cada um deles. Antes de se deitar ela ligava pra mãe, que morava no apartamento ao lado e passava a limpo todo aquele arsenal.
- Mamãe, a senhora tomou as pílulas das quinze horas hoje? e as das 22 mamãe? lembre-se de que as das 23:30 a senhora tem que tomar com leite, pra não atacar a úlcera ouviu bem?
Amanhã... bem, amanhã tudo de novo, lavar, passar, escovar, limpar, corte e costura, cozinhar, computar, telefonar pra aqui, pra ali, pra acolá, ver todos os filmes da tv, dez minutos de cada um e sempre com o rádio ligado ou com o cd no repeat, tocando a mesma música, sem esquecer de dar uma passadinha por todos os programas de fofoca da tarde, tudo ao mesmo tempo e agora e ainda se desse, arrumava um tempinho pra ver se encontrava alguém que quisesse comer o seu acarajé. Fazia tempos que ela não dava pra ninguém vestida de baiana, a última vez foi pra um motorista de taxi que ela pegou na Praça da Sé e levou o sujeito lá pros lados da Ribeira e ali mesmo, dentro do taxi, ela trocou de roupa e deu como uma desesperada, toda paramentada, com seus colares, pulseiras e balangandãs, pra aquele taxista gordo, cheirando a alho. Ela já tinha dado pro porteiro na escada do prédio, pro carteiro, pro entregador de água, mas tudo rápido sem conversa, sem fantasia de baiana, que é quando ela se sentia poderosa, por cima de todas aquelas saias rodadas, metida naquele turbante ordinário e amarelecido pelo tempo. Era assim que ela gostava de dar, vestida de baiana.
Nunca se sabe o que vem pela frente. Ela, que perdera a única irmã vítima de bala perdida, que viu o seu gato de estimação e o seu último namorado sumirem janela abaixo, no mesmo dia, hora e local, ela que só tinha uma mãe surda e medicamentosa, ela que estava aposentada há quatro anos, mas que vivia ocupada com mil e um afazeres, pensando em mil coisas ao mesmo tempo, ela que pensava em tudo, jamais poderia imaginar que naquela manhã de domingo fosse dar de cara com o amor da sua vida. Logo naquela manhã, quando ela estava desprevenida, sem spray, sem camisinha, sem fantasia de baiana, justo naquela manhã e daquela maneira, ela deu de cara com Altair.
Logo que acordou, com o primeiro cocorocó das galinhas, ela saiu para comprar pão e leite na padaria da esquina, jogo rápido, pois teria que voltar imediatamente, para ligar pra mamãe, lembra-lhe dos remédios, botar a água do café pra ferver, ligar o rádio, o som, a tv, o computador, etc, etc, portanto não podia demorar. Foi quando ela tropeçou em Altair, um rapaz forte, moreno alto, de voz aveludada, na fila do caixa da padaria, enquanto ela pensava em mil coisas. Altair se aproximou e disse quase ao pé do ouvido dela:
- A senhora se esqueceu de amarrar o tênis, pode tropeçar e cair se não tomar cuidado.
Em seguida, antes que ela lhe agradecesse, que lhe dissesse que estava pensando em mil coisas, que estava com pressa e nem reparara em amarrar o tênis, Altair se abaixou e o fez, de forma delicada e firme, depois a convidou para dar uma volta na praia com ele, para aproveitar o sol da manhã e em seguida, sem dar tempo para ela responder, Altair se ofereceu para segurar as bolsas com o pão e o leite que ela acabara de comprar. Eram seis e trinta de uma manhã de domingo começando a ensolarar, a cidade sequer despertara do seu sono de sábado e estava praticamente deserta, quando ela e Altair atravessaram a avenida da praia, olhos nos olhos, hipnotizados por aquele encontro inesperado, ela pensando em mil coisas ao mesmo tempo, ele atento àquele par de tenis que acabara de amarrar, os dois entrelaçados por seus pensamentos, não perceberam um caminhão de entregas que entrou pela avenida desgovernado, na contramão, em alta velocidade, e levou ela e Altair para o andar de cima, numa manhã de domingo que estava apenas começando. Nunca se sabe o que vem pela frente.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
COCAÍNA
NOITES EM CLARO
DIAS DE ESCURIDÃO
RUÍNA DA ALMA
DERROTA DO CORPO
HORAS DE SOLIDÃO
DESESPERO
MENTIRA
DEPRESSÃO
AVE QUE NÃO VOA
COCAÍNA
PÁGINAS EM BRANCO
NA VIDA DE QUALQUER PESSOA
DIAS DE ESCURIDÃO
RUÍNA DA ALMA
DERROTA DO CORPO
HORAS DE SOLIDÃO
DESESPERO
MENTIRA
DEPRESSÃO
AVE QUE NÃO VOA
COCAÍNA
PÁGINAS EM BRANCO
NA VIDA DE QUALQUER PESSOA
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
MEU ÚNICO BEM
A música não é o meu único bem, é um dom que Deus me deu e só ele pode me tirar, quando eu me for. Mas a ela devo tudo que eu tenho. Minha casa, minhas alegrias e tristezas, meus amigos e inimigos, minhas andanças pelo mundo, meus amores e desamores, enfim, minha vida. Mas já a algum tempo, o meu pau não levanta mais para música como antigamente. Crise de um casamento que o tempo tentou consumir, como qualquer outro casamento em crise. Então comecei a pensar em desistir da música para me dedicar a outras coisas. E fui ficando cada vez mais infeliz e triste, pois se tem uma coisa difícil nessa vida, é você tentar se separar do seu grande amor. O tempo, os amigos e horas de auto análise me fizeram perceber no entanto, que é possível conciliar atividades, pois no mundo globalizado de hoje, tudo está interligado.
Então resolví publicar aqui, em homenagem aos meus sinceros amigos que insistem para que eu siga fazendo música, a letra de "Meu único bem" gravada por mim nos cds, "Menino buliçoso"e "Bossanova blue".
Meu único bem
Letra e música de Ricco Duarte
A Cordilheira dos Andes
A muralha da China
O muro de Berlim
A cerca do quintal
A porta do seu quarto
A colcha de cetim
O mundo inteiro ardendo em brasas
Meu coração batendo asas
Nada vai separar você de mim
Musa
Música
Meu único bem
Nunca
Ninguém
Conseguirá nos separar
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
AFINAL DEU PAULO BARROS!!!!
Em 2004 eu estava no setor três do sambódromo, quando a Tijuca começou a cantar o seu samba. A letra dizia o seguinte: "com a Tijuca campeã do carnaval". Eu, que estava cansado da mesmice das escolas que já haviam passado, pensei comigo: Que ousadia colocar na letra do samba que a Tijuca vai ser campeã do carnaval. E então levantei para ver o que vinha. O que eu vi foi uma escola que estava ali, em 2004, revolucionando o carnaval carioca. O nome do revolucionário: "Paulo Barros". Naquele ano ele usava a cor "cobre" logo no abre alas, que era uma réplica da máquina do tempo e esta cor, discretamente, variava para outros tons pastéis, resultando em uma harmonia de cores inédita e maravilhosa, jamais vista na história do sambódromo, sem falar nas alegorias e nas fantasias super criativas. Foi o carnaval do DNA, que apontava para o futuro. Como a Tijuca não era uma escola de tradição ( leia-se de dinheiro), ganhou a Beija flor, fato que se repetiu em 2005, com a Tijuca ficando em segundo dois anos seguidos. Anos se passaram e a justiça foi feita. Paulo Barros afinal é o campeão do carnalval carioca, com o atualíssimo enredo, "É segredo", desbancando com sobra de décimos, as demais concorrentes. Viva Paulo Barros! Viva a magia da vida! Viva o samba!, Viva o carnaval carioca!
PRÁ TUDO SE ACABAR NA QUARTA FEIRA
NO CARNAVAL DOS BANHEIROS QUÍMICOS
IMUNDOS,VENCEU A IRREVERÊNCIA DO POVO BRASILEIRO DO RIO DE JANEIRO, QUE NÃO PERDEU O REBOLADO.
XÔ!!! AO CHEIRO DE XIXI DA DESPREPARADA GUARDA MUNICIPAL. XÔ AO GAROTO QUE BRINCA DE SER PREFEITO E AO LIXO QUE VIROU O METRÔ CARIOCA, COM POUCOS CARROS PARA O EXCESSIVO NÚMERO DE FOLIÕES.
E A MISS SIMPATIA.
E OS "LINDOS HABBIBS" É CLARO.
ANO QUE VEM TEM MAIS.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
CAIAM NA FOLIA!
Nesses dias momescos não deixem por menos, caiam na folia, deixem o carro em casa e bebam com moderação, beijem muuuito na boca e se a coisa esquentar demais, usem camisinha please, e até quarta feira de cinzas. Evoé!
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
CARNAVALESCO NÃO TEM MÃE
Tudo bem que o carnaval é a festa do ridículo, eu mesmo já me submetí a vexames de toda ordem por ser um autêntico folião, mas tudo tem limite. Os carnavalescos das escolas de samba, no afã de fazer bonito na opera do carnaval, se esquecem de que os principais atores desta opera, que são os desfilantes sambistas, devem estar não apenas bem vestidos, mas sobretudo devem se sentir confortáveis dentro das fantasias. Nessa brincadeira, eu me lembro que em 1999, o Sr. Jaime Cezário, então carnavalesco da São Clemente, vestiu a nossa bateria de senadores, e todos fomos obrigados a usar uma casaca de veludo preto em pleno verão carioca de quarenta e tantos graus, consequência, a bateria que é a alma da escola, cansou, atravessou várias vezes e chegou ao cúmulo de parar em pleno desfile. Uma bateria nota dez que naquele ano teve notas baixissimas e a escola foi rebaixada. No Salgueiro em 2007, o enredo era sobre as Candaces, umas guerreiras africanas que o Renato Lage foi descobrir não sei aonde. Desfilei em uma ala que até hoje eu me pergunto o que representava. Eles diziam que éramos Tuaregues, guerreiros do deserto, mas a fantasia era de um mau gosto e de um excesso de panos tal, que foi preciso tres pessoas para me vestir e é claro, depois do desfile, deixei a fantasia lá na dispersão, como fiz no ano de dois mil, no mesmo Salgueiro, quando desfilei de pierrot, cuja gola tinha uns dois metros de diâmetro, o que nos fazia sentir guilhotinados, sem folêgo sequer para cantar o samba. Pra piorar, a minha fantasia, foi se desfazendo em pleno desfile e eu voltei de sunga para casa, com a cara pintada de palhaço. Este ano me convidaram para desfilar na Renascer de Jacarepaguá, uma escola do grupo de acesso que tem apenas cinco anos de vida, mas que no ano passado ficou em segundo lugar e quase subiu para o grupo especial. Este ano eles contrataram o bam bam bam do carnaval carioca, o grande Paulo Barros e lá fui eu com a minha amiga, todo contente, pegar a tal fantasia de pirata na quadra da escola. Pra encurtar a conversa, o nosso luxuoso pirata, desenhado para causar efeito na televisão, é também de veludo preto, e de quebra, ainda seremos obrigados a carregar preso à cintura, um enorme baú, que seria o tesouro do pirata e nas costas, um suposto e enorme papagaio, que mais se parece com uma gárgula. Vestidos desta maneira desconfortável, como é que os carnavalescos querem que sambemos e cantemos o samba com alegria, em pleno calor escaldante desse verão carioca? Desfilar em escola de samba passou a ser ao invés de prazer, uma tortura, o que me leva a crer que carnavalesco não tem mãe, por que se tivesse, seria mais xingada do que mãe de juiz de futebol.
Guerreiro do deserto e pirata do"carilho" é a "PQP"
domingo, 7 de fevereiro de 2010
SALVE O SIMPATIA!
No domingo de carnaval de 1985, eu estava na praia de Ipanema, tristinho, porque era caranaval e eu estava desenturmado numa cidade que eu acabara de chegar. E eu adoro carnaval, principalmente o de rua, onde nos largamos no meio da multidão e brincamos anônimos e somos todos literalmente iguais. Foi quando escutei ao longe, o som de uma bateria que vinha arrastando uma pequena multidão. Não pensei duas vezes, saí correndo em direção ao bloco e me perdi, ou melhor, me encontrei no meio do povo, digo, da burguesia de Ipanema. Era o primeiro desfile do "Simpatia é quase amor", que ontem completou 25 anos de desfile e arrastou milhares de foliões pela Vieira Souto, sob o comando da bateria do Mestre Penha, da qual tive a honra de fazer parte durante anos, tocando tamborim. Ontem eu estava lá de novo, com o meu tamborim. As imagens valem mais do que mil palavras. Salve o simpatia!
Eu e o meu tamborim!
Muito bom: "O simpatia pede passagem ou vale transporte"
Mestre Penha no comando.
A maior concentração por metro quadrado, de gente bonita de todos os generos e cores do planeta!
A irreverência de sempre.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
OS NOMES DOS COMPOSITORES DE SAMBA ENREDO
A safra de 2010, como eu já disse aqui, não é das melhores. É muita gente pra fazer um samba e creio, que é aí que a coisa empobrece, muita gente dando opinião. Mas o que eu mais gosto mesmo, é dos nomes dos compositores de samba enredo. Outro dia vi o Neguinho da Beija flor na televisão, dizendo que estava feliz com o samba escolhido para defender a escola este ano, porque um dos autores, dos cinco que escreveram ou simplesmente deram pitaco, era o compositor mais antigo da escola e que nunca havia ganho um samba em mais de vinte anos de disputa, seu nome? "Picolé da Beija flor". Você já tinha ouvido falar nesse cidadão que há vinte anos disputa e nunca ganha? Nem eu, daí que eu resolví pesquisar e descobrí outras pérolas como: "Brasil do quintal", que ganhou o samba do salgueiro com mais quatro; "Barbeirinho", "Mingau" e "Da lua", que faturaram o samba da Grande rio com mais "nove" parceiros; "Me leva" ganhou na Imperatriz; "Porkinho" na Porto da pedra; "Gugu das candongas"(o meu favorito) e "Barbosão", são dois dos "dez" compositores que faturaram na Ilha do governador; "Marcão R1 e Leandro R1" faturaram com mais tres, lá na Rocinha e perguntar não ofende, o que é R1?; "Da latinha", "Claudinho vagareza" e mais tres, ganharam na Estácio de Sá; e agora o record: "Doutor", "Ditão", "Bolão" e "Macumbinha", foram os campeões na Santa Cruz; "Balinha" e mais alguns faturaram na Caprichosos; "Popeye" e outros tantos no Império serrano; E por fim o fabuloso "Sardinha" com seus cinco parceiros, ganharam na Cubango. Se pelo menos os sambas fossem tão divertidos e criativos, como o nome dos seus autores, o carnaval 2010 seria uma maravilha, mas não são.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
NOEL DEVE ESTAR RINDO À TOA...
Samba não ganha carnaval, mas é meio caminho andado. Ao longo da história dos desfiles das escolas de samba do Rio de janeiro, temos visto, principalmente na era sambódromo, de 1984 para cá, que um bom samba, daqueles que levantam a arquibancada e faz o povão cantar junto, empolga e leva a escola para as cabeças, que o diga o Salgueiro de 1993 com o ”explode coração”, que virou um hit nacional e acabou com um jejum de 17 anos sem títulos, da vermelho e branco da Tijuca. Nos últimos anos, o “Soy loco por ti America”, da Vila Isabel em 2006, é outro bom exemplo de que um bom samba é meio caminho andado, pois acabou dando à Vila o título daquele ano. A mesma Vila Isabel que neste ano de 2010, faz uma belíssima homenagem ao seu poeta maior, Noel Rosa, e vai levar para a avenida uma obra prima do Martinho da Vila, um samba moderno, sem rimas e refrões óbvios, de melodia e poesia impecáveis, e que no ensaio técnico do último domingo, já mostrou que vai dar o que falar, pois não só caiu na boca do povo, como nas graças dos componentes da escola. O curioso é que este é o único samba da safra de 2010 que não tem parceria. Algumas escolas chegaram ao absurdo de juntar dois sambas em um só, gerando uma parceria de doze e dez pessoas, como é o caso da Grande Rio e da União da Ilha, respectivamente, e que resultou em sambas pobres e confusos, como a maioria dos sambas de enredo deste ano, com exceção apenas aos sambas da Porto da pedra e da Viradouro, ambos os sambas escritos "apenas" por tres compositores. A Vila não, precisou apenas de um gênio para homenagear outro, numa prova inequívoca de que quantidade não é qualidade. Abrindo uma exceção, transcrevo abaixo a poesia do Martinho, pois Noel deve estar rindo à toa pelas ruas de Vila Isabel.
Vila isabel 2010.
Compositor: Martinho da Vila
Se um dia na orgia me chamassem
Com saudades perguntassem
Por onde anda Noel
Com toda minha fé responderia
Vaga na noite e no dia
Vive na terra e no céu
Seus sambas muito curti
Com a cabeça ao léu
Sua presença senti
No ar de Vila Isabel
Com o sedutor não bebi
Nem fui com ele a bordel
Mas sei que está presente
Com a gente neste laurel
Veio ao planeta com os auspícios de um cometa
Naquele ano da Revolta da Chibata
A sua vida foi de notas musicais
Seus lindos sambas animavam carnavais
Brincava em blocos com boêmios e mulatas
Subia morros sem preconceitos sociais
Foi um grande chororô
Quando o gênio descansou
Todo o samba lamentou
Ô ô ô
Que enorme dissabor
Foi-se o nosso professor
A Lindaura soluçou
E a Dama do Cabaré não dançou
Fez a passagem pro espaço sideral
Mas está vivo neste nosso carnaval
Também presentes Cartola
Araci e os Tangarás
Lamartine, Ismael e outros mais
E a fantasia que se usa
Pra sambar com o menestrel
Tem a energia da nossa Vila Isabel
Tem a energia da nossa Vila Isabel
Vila isabel 2010.
Compositor: Martinho da Vila
Se um dia na orgia me chamassem
Com saudades perguntassem
Por onde anda Noel
Com toda minha fé responderia
Vaga na noite e no dia
Vive na terra e no céu
Seus sambas muito curti
Com a cabeça ao léu
Sua presença senti
No ar de Vila Isabel
Com o sedutor não bebi
Nem fui com ele a bordel
Mas sei que está presente
Com a gente neste laurel
Veio ao planeta com os auspícios de um cometa
Naquele ano da Revolta da Chibata
A sua vida foi de notas musicais
Seus lindos sambas animavam carnavais
Brincava em blocos com boêmios e mulatas
Subia morros sem preconceitos sociais
Foi um grande chororô
Quando o gênio descansou
Todo o samba lamentou
Ô ô ô
Que enorme dissabor
Foi-se o nosso professor
A Lindaura soluçou
E a Dama do Cabaré não dançou
Fez a passagem pro espaço sideral
Mas está vivo neste nosso carnaval
Também presentes Cartola
Araci e os Tangarás
Lamartine, Ismael e outros mais
E a fantasia que se usa
Pra sambar com o menestrel
Tem a energia da nossa Vila Isabel
Tem a energia da nossa Vila Isabel
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