segunda-feira, 29 de março de 2010

BAHIA BRUXA E MADRINHA


Hoje, 29 de março, a primeira capital brasileira completa 461 anos de fundação, São Salvador da Bahia, minha terra natal, onde vivi boa parte da minha vida e de onde parti para o mundo, há quase trinta anos. Abaixo, um poema que escrevi quando tentei voltar a morar em Salvador, há oito anos atrás. Lembro que me senti como Ulisses ao voltar para casa e encontrar uma casa totalmente diferente daquela que ele havia deixado. Ele mesmo já não era mais o mesmo. No meu caso, eu também não era mais o mesmo e na cidade que reencontrei não havia mais os amigos, parte da familia já havia partido, os rostos e os cheiros eram outros e eu, não me reconheci vivendo nela. Tres meses depois, voltei de novo para o mundo e para o meu Rio de janeiro. Salvador, que nós baianos chamamos de "Bahia", por está belíssimamente situada na entrada da Baía de todos os santos, com seus feitiços e encantamentos, será para sempre a minha bruxa e madrinha.
                                                                                   

                                                                           
                                                                                           marco de fundação da cidade no Porto da barra
                                                                                    
BAHIA BRUXA E MADRINHA

“TRISTE BAHIA,
OH QUÃO DESEMELHANTE”
ASSIM FALOU GREGÓRIO DE MATOS
PORISSO TE ADOTEI POR UM INSTANTE
MADRASTA E MÃE
BRUXA E MADRINHA
QUE COM COLHER DE PAU E VARINHA
ORA ME ACARICIA       
ORA ME BATE.                                                                        
E ASSIM VIVENDO NESSE EMBATE
DANDO AS MINHAS FACES                                                       
À DOR E AOS BEIJOS
VEJO O QUE SOU
E A TUDO DESEJO
ESCUTANDO AS ESTRELAS QUE PELEJAM
POR SOBRE OS MARES AZUIS
E AS LÍNGUAS NEGRAS
COM SEUS DENTES BRANCOS ESCANCARADOS
TAL QUAL AS CARRANCAS DE SORRISO FEIO
DOURADAS NOS TACHOS DE DENDÊ
NAS MANHÃS DE SOL
E NAS MADRUGADAS
QUE É QUANDO A NOITE SE ESVAI
E AS ESTRELAS SE RECOLHEM ENCABULADAS
SUSSURANDO NO OUVIDO DO TEMPO:
NEM TANTO AO MAR
NEM MUITO AO MEIO
POIS QUANTO MAIS TE AMO
MAIS TE ODEIO.

quarta-feira, 24 de março de 2010

VIVA O POVO DO XINGU!

Hoje pela manhã, em frente a sede do BNDES, no centro do Rio de janeiro, dezenas de manifestantes protestaram contra a construção da usina hidroelétrica de Belo Monte, que causará impactos irreversíveis a fauna, flora e a biodiversidade, além de colocar em risco a sobrevivência dos 24 grupos indígenas que dependem do Rio Xingu, com a diminuição intensa das espécies de peixe, seu principal alimento. Na foto ao lado, representantes das tribos do xingu, os índios José e Elza, que vieram de Altamira participar do protesto. Abaixo, ativistas do Green peace. Viva o povo do Xingu!

segunda-feira, 22 de março de 2010

SAMBA É COISA DE MALUCO


Mamãe já dizia
Pára de fazer samba menino
Samba é coisa de maluco
Vai estragar seu destino
Mas foi mamãe
Que enlouqueceu de vez
Quando um anjo torto
Me soprou no ouvido
Siga o compasso do seu coração
Dobre a esquina e na contra mão
Caia no samba
Que é bom a beça
Maluco é aquele que não entrar nessa

domingo, 21 de março de 2010

CONSELHO DE MÃE, RESPOSTA DE POETA

- PÁRA COM ESSA MANIA MALUCA DE ESCREVER POESIA MENINO, QUE POESIA NÃO DÁ DINHEIRO. VAI ESTUDAR PRÁ SER ENGENHEIRO OU MÉDICO PSIQUIATRA, QUE É QUEM CUIDA DE GENTE QUE NÃO TEM CURA.




- O POETA NÃO TEM CURA MAINHA. A POESIA ESTÁ CUIDANDO DE MIM MESMO.

sexta-feira, 19 de março de 2010

PARA ISSO E AQUILO

Para conquistar meu coração
Diga a verdade
Para sustentar
Cash
E para prosseguir
Viaje
Para alimentar meu coração
Peixe
Para amaciar
Beije
E para colorir
Verde
Mas para esquecer meu coração
Coragem
Pois para o deserto
Sêde
E para relembrar
Saudade

quinta-feira, 18 de março de 2010

VERDES UNIDOS PELO RIO

Um grande número de militantes do Partido Verde, compareceu ontem ao centro do Rio, para protestar contra emenda do deputado Ibsen Pinheiro, que muda radicalmente o sistema de distribuição dos royalties do petróleo, o que fará com que o estado do Rio de janeiro, um dos maiores polos produtores petrolíferos do país, perca anualmente, cerca de sete bilhões de reais, prejudicando investimentos na saúde e educação, e não só na copa de 2014 e jogos ollimpicos de 2016, como disse o atual governador. Segundo a polícia militar cerca de cento e cinquenta mil pessoas enfrentaram a chuva forte que caíu ontem sobre a cidade, para participar da caminhada que saiu da Candelária e seguiu até a Cinelândia, onde houve um ato público e claro, um show com vários artistas, afinal estamos no Rio de janeiro.


                      Verdes unidos pelo Rio de janeiro.
                        


terça-feira, 16 de março de 2010

CAMINHADA ECOLÓGICA

No último domingo, dia 14 de março, o conselho gestor dos morros da Babilônia, São João e Leme, promoveu uma caminhada ecológica até o topo do morro da Babilônia, que contou com a participação de mais de uma centena de ecologistas. A caminhada comemorou o dia mundial da água e alertou mais uma vez, para a necessidade de reduzir o aquecimento global. A próxima caminhada acontecerá no dia 13 de junho.






 Detalhe do "mudário", de onde são colhidas as mudas para o reflorestamento dos morros.
A vista deslumbrante do topo da Babilônia e ao lado.

domingo, 14 de março de 2010

VOCÊ SABIA?

Você sabia que em 1988, Marina Silva foi a vereadora mais votada do município de Rio Branco, capital do Acre, conquistando a única vaga da esquerda na câmara municipal e que como vereadora, causou polêmica por combater os privilégios dos vereadores, se recusando a receber tais benefícios e tentando, sem sucesso, que os outros colegas fizessem o mesmo? Com isso, claro, ela passou a ter muitos adversários políticos, mas a admiração popular também cresceu. Marina Silva para presidente!


sábado, 13 de março de 2010

DÉJÀ VU

NA PRIMEIRA VEZ QUE EU TE VI
ERA MEIA LUZ
E O TEU ROSTO ESTAVA NA SOMBRA
ENTÃO PEGUEI A METADE ILUMINADA
E CORRI COM ELA PELA ESTRADA
PENSANDO TER PEGO
O RUMO CERTO.
PASSADO UM TEMPO
COM AS LUZES DA CASA ACÊSAS
TENDO A OUTRA METADE ÀS CLARAS
SENTÍ NO MEU CORAÇÃO UM APÊRTO
ERA EU DE NOVO
QUE TINHA ABERTO AS PORTAS DA MINHA ALMA
E COLOCADO O LIXO PARA DENTRO.

quarta-feira, 10 de março de 2010

PARA ESQUECER MEU GRANDE AMOR

Para esquecer meu grande amor
Me joguei numa rede imaginária
E me deixei ser pescado pelo tempo
Pesca boa
Pesca ruim
Esvaziei vidros de aspirina
E o meu grande amor não esqueci


Para esquecer meu grande amor
Esperei debruçado na janela
Um vento que soprasse para mim
Vento bom
Vento ruim
Arriei depacho na esquina
E o meu grande amor não esqueci


Para esquecer meu grande amor
Que é coisa que não se esquece
Fiz promessa, reza, prece
Reza boa
Prece ruim
E quando olho hoje, ainda
O meu grande amor não esqueci

terça-feira, 9 de março de 2010

RICCO DUARTE BATE PAPO COM RAILTON SANTOS


No final dos anos setenta, ainda estudante, trabalhei para a Bahiatursa, orgão oficial do turismo na Bahia. Foi um período maravilhoso em minha vida, época de descobertas, onde fiz grandes amigos. Alguns o tempo levou, outros o tempo me trouxe de volta, como o poeta e educador Railton Santos, criador do blog "Corcel poético" e professor do ensino fundamental na belissima ilha de Itaparica e no mais populoso bairro de Salvador, o bairro da Liberdade. A substância louca, no mes de aniversário de fundação do Rio de janeiro (primeiro de março) e também da cidade de Salvador (vinte e nove de março), inaugura a sessão "Bate papo" com essa grande figura humana, Railton Santos, reafirmando assim a ponte da amizade entre o Rio e a Bahia, expoentes culturais desse país gigante e lindo.


RD: Somos de uma geração que acompanhou várias mudanças na segunda metade do século passado. Você como educador, observa muitas diferenças entre os jovens da nossa geração e a juventude deste início de século? Quais?


RS: Como educador, tenho trabalhado com alunos oriundos da periferia de Salvador e Itaparica, observando no dia-a-dia que a juventude de hoje está carente de limites e respeito pelas leis, pelos seus pais e seus educadores. O narcotráfico está vitimando um grande número de adolescentes, conseqüentemente gerando aterradora violência. Por outro lado, alguns poucos dentre os jovens estão desfrutando de algumas conquistas da nossa geração, tais como uma maior liberação sexual e igualdade de direitos independente de raça.




RD: Como a poesia entrou na sua vida e quais as suas maiores influências?

RS:  A primeira pessoa a estimular-me o gosto pela poesia foi meu pai, que durante a minha infância, na condição de presidente de uma associação de moradores, promovia recitais em datas comemorativas. Ele adquiriu uma coleção que se chamava Tesouro da Juventude, que, além de muita poesia, também havia muitos contos de fadas, onde eu dedicava algumas horas diárias lendo. As minhas maiores influências como poeta, são: Cecília Meireles, Drummond, Bandeira e Walt Whitman.




RD: Recentemente você lançou uma publicação virtual, com poesias muito interessantes. Você pretende fazer uma publicação impressa daquele ou de outros trabalhos poéticos?

RS:  Ultimamente, tenho pensado publicar um livro, quem sabe, no final do ano.




RD: Cazuza, poeta da nossa geração disse, "meus heróis morreram de overdose". Quem são os seus heróis?

RS:  Meu herói é meu parceiro que tem me acompanhado mais de quinze anos.




RD: "Tempo, tempo, tempo, tempo..." disse o poeta Caetano Veloso. Como o poeta Railton Santos define o tempo?

RS:  O tempo é um mestre que nos comanda e nos transforma. Ele nos dá rugas, cabelos brancos e muitas lições. Estive lendo alguns versos de João Carlos Teixeira Gomes, com o qual me identifiquei, onde o mesmo diz que já foi menino e atualmente está caminhando para ser apenas um retrato na parede.




RD: Em quem você vai votar para presidente? Por que?

RS:  Pela sua história de vida, sua consciência ecológica e sua vontade de mudar o Brasil votarei em Marina Silva.







sexta-feira, 5 de março de 2010

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

          Nesta cidade de São Sebastião do Rio de janeiro, onde o noticiário infelizmente nos brinda todos os dias, com notícias de balas perdidas, roubos e sequestros, mas que é também, um dos destinos turisticos mais procurados do mundo e sem dúvida a cidade mais bela do planeta, me aconteceu o seguinte: Ontem, no final da tarde, quando eu voltava para casa pela Praia de Botafogo, carregado de compras, debaixo de uma chuva fina, deixei cair do bolso, sem perceber, o meu celular e dentro dele a minha vida, como a agenda de contatos profissionais importantissimos. Ao chegar em casa, ainda sem dar conta do ocorrido, tinha uma mensagem na caixa de entrada do meu telefone fixo que dizia, "oi meu nome é Pedro, eu achei o seu celular na Praia de Botafogo e estou te ligando para te devolver". Então revistei os bolsos do casaco e percebi que o celular não estava lá. Daí liguei para mim mesmo e o Pedro atendeu. Educadamente me informou que já estava a caminho de casa, em Niterói, mas que no dia seguinte me entregaria o aparelho. No princípio não acreditei, pois 999 pessoas em mil, ou ficariam com o aparelho ou simplesmente jogariam fora, etc, etc. Mas hoje, no final da tarde, liguei para o Pedro e marcamos na porta do edificio aonde ele trabalha, na Praia de Botafogo 300, onde funciona um Centro empresarial. Na hora combinada, o Pedro apareceu, conferindo com bom humor se era mesmo eu, o cara da foto gravada no meu celular. Pedro Pedroza é um jovem administrador de 28 anos, morador de Niterói, que nos enche de orgulho e esperança, nesses tempos bicudos onde a confiança no ser humano é cada vez mais rara e onde a vida humana, pouco ou nada vale. Que tomemos Pedro Pedroza como exemplo e sigamos felizes, na certeza de que nem tudo está perdido. 

segunda-feira, 1 de março de 2010

EU SIGO LHE ATIRANDO FLORES!

Tenho a mania de atirar flores, de fazer elogios aos que amo e nesse embalo, sou parcial, relevo erros, esqueço traições, perdoo. Porque quem ama perdoa. Por esta razão, o meu sofrimento foi imenso, todas as vezes que eu tive que deixar a cidade que eu amo, para faturar algum dinheiro com a minha música, já que na cidade amada, as minhas serenatas não valiam mais do que um tostão furado. E a mulher, amada ou não, gosta mesmo é de dinheiro, mais do que de flores até. Porisso, lá no estrangeiro, exilado do meu amor, eu fechava os olhos e via com saudade suas manhãs de maio e junho, o céu lavado de azul, como se Deus tivesse mandado fazer uma faxina por aqueles dias, fazendo com que o sol iluminasse a cidade com um filtro especial. E chorava por dentro, só de pensar na sua Lagoa, coração de um lugar cheio de vida, onde o seu povo nega a rendição e resiste com molejo, à violência que nela se instalou, devido ao seu crescimento desordenado e desumano. Pensava na sua floresta imensa, pulmão de um povo que respira às vezes com medo, às vezes com sossego, mas que respira sobretudo aliviado, ao se mirar no Corcovado e receber as bênçãos do seu Cristo redentor, que está lá, de braços abertos, como que a dizer, “eu te amo”. Eu te amo Rio de Janeiro! Carioca não sou de nascimento, mas como disse o poeta paraense Billy Blanco, “carioca é aquele que vem e fica por amor à cidade”. Eu vim pra você um dia, menino grande mijando nas calças ainda, e me enamorei de ti para sempre. Como um adolescente que beija na boca pela primeira vez, nunca mais te esqueci. E aqui estou, com os pés fincados no teu chão, porque tu és para mim o perfeito resumo desse país gigante. Toda a gente do Brasil se encontra no Rio. Toda a gente do mundo samba o teu samba. Rio de janeiro da Mangueira, da Portela, do meu Salgueiro, da Tijuca, da Mocidade Independente de Padre Miguel, que vai a qualquer lugar! Rio de Chico Buarque de Hollanda, de Tom e Vinícius, de Noel, Cartola e Braguinha, de Pixinguinha, Zeca Pagodinho, Tim, Benjor, Dona Ivone Lara e Beth carvalho. Rio de janeiro de Elza “suingue” Soares e Paulinho da viola! Rio de Nelson Cavaquinho, Assis Valente, Geraldo Pereira e de muitos outros cariocas, vindos de todas as partes do Brasil e que se renderam ao seus encantos, de Caymmi a Caetano, só para lembrar alguns baianos, como o André Filho, que te eternizou, ao te cantar como "cidade maravilhosa".  Rio de ‘Seu Ari “brasileiro” Barroso, o maior carioca de todos os mineiros. Rio de todos os poetas! De todas as letras! Drummond, Cecília, Clarisse e tantos outros que te bendigam. Rio de janeiro "da mulata e do futebol", de tricolores e rubro-negros, da cruz de malta e da estrela solitária. Rio de janeiro americano. Eu, que já visitei mais de cem cidades por esse mundo de meu Deus, posso dizer sem medo de errar, que não tem nenhum lugar neste planeta, mais bonito do que o meu Rio de janeiro, meu ponto de referência no mundo, para onde eu sempre voltarei. No dia do seu aniversário, desejo que São Jorge te guarde com a poderosa lança, enfrentando todos os dragões da maldade que pairam sobre ti, e que São Sebastião, continue a receber as flechas que lhe atiram e mesmo assim, siga te protegendo firme e forte. Eu sigo lhe atirando flores!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

ADVERTÊNCIA!!!

PARA ENCERRAR FEVEREIRO VAI AQUI UMA ADVERTÊNCIA:

"QUEM NÃO SE DIVERTIR NESTE MUNDO
   NO OUTRO SERÁ ADVERTIDO"

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A REVOLUÇÃO






A PICA
BRANCA E ROSA
PORTUGUESA
ASSIM COMO O CRAVO
VERMELHO
FEZ A REVOLUÇÃO.
FINCOU
NO ÚTERO NEGRO
AFRICANO
O SEU CRAVO
E CRIOU A MULATA!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

FILHOS AO VENTO

DEFEITO DO TEU DEFEITO
GENÉTICAMENTE IMPERFEITO
POR TI CONCEBIDO E DESFEITO
BÊBADO DO LEITE DO TEU PEITO

ALMA DA TUA ALMA
LEITO DO TEU RIO SEM CALMA
ONDE O PRANTO DESÁGUA

EM DOR E MÁGOA
E O SUOR ENXÁGUA
AS MARCAS DA DESARMONIA
LUTAS QUE FUI VENCENDO
DIA APÓS DIA

AGORA EU TE CONFISCO AS ARMAS
JOGO FORA AS BALAS
E TE ENTREGO AO TEMPO

PARA QUE NÃO DISPARES MAIS
FILHOS AO VENTO

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

NUNCA SE SABE O QUE VEM PELA FRENTE

          Ela era uma mulher esbaforida, sempre atrapalhada com os seus múltiplos afazeres, pois para ela, o bom mesmo era fazer mil coisas ao mesmo tempo, desde que meninozinho, seu gato de estimação, se atirou pela janela e levou com ele o seu último namorado, que na tentativa de segurar o gato pelo rabo, também escorregou pela janela, oito andares abaixo, bem diante do seu nariz, na sala do seu apartamento, como se tivessem combinado os dois, agora! um, dois, tres, já! Desde então, ela decidiu pensar e fazer mil coisas ao mesmo tempo, para se esquecer do tempo e daquele dia em que ela se viu privada de seus dois grandes amores para sempre, meninozinho e o seu último namorado.
          Lá se vão doze para treze anos que ela se via nessa constante agitação diária. Se tinha que passar a roupa, o fazia já pensando na hora que teria que ir para o curso de corte e costura e no telefonema que teria que dar para a mãe para lembrar-lhe de não esquecer de tomar os remédios. Ao mesmo tempo preparava o almoço pensando no que iria comer à noite e na manhã seguinte, no café da manhã. Se ia ao banheiro usar o vaso, já aproveitava para escovar os dentes e comia vendo televisão, trabalhando no computador e fazendo as unhas, tudo ao mesmo tempo. Se ia à caça, partia pronta, armas em punho, vestida para matar, ou para se safar, a sua bolsa estava sempre cheia, camisinhas com espermicida, spray de pimenta, tesourinha de unha e outra cirúrgica, que roubara da casa da irmã médica há anos e que cortava tudo com mais facilidade, pois era cirúrgica afinal, um rolo de papel higiênico, uma calcinha reserva, boné, toalha de praia, uma meia peruca ruiva, para o caso de precisar disfarçar a identidade, e uma fantasia de baiana, que era a sua fantasia favorita, dar pro primeiro que aparecesse, vestida de baiana do acarajé, de modo que quando ela saia pra caçar, levava o tabuleiro inteiro.
          Nunca se sabe o vem pela frente, pensava ela entre os seus mil e um pensamentos diários. Ela não tinha mais família, lhe restou apenas uma mãe doente e meio surda,que tomava remédios para controlar a pressão, o colesterol, a tireóide, a diabetes, a puta que pariu. Ela fazia questão de controlar os horários de toda essa farmácia ambulante, que a pobre mãe viúva carregava vida a fora e sabia de cor e salteado, a posologia de cada um deles. Antes de se deitar ela ligava pra mãe, que morava no apartamento ao lado e passava a limpo todo aquele arsenal.
          - Mamãe, a senhora tomou as pílulas das quinze horas hoje? e as das 22 mamãe? lembre-se de que as das 23:30 a senhora tem que tomar com leite, pra não atacar a úlcera ouviu bem?
          Amanhã... bem, amanhã tudo de novo, lavar, passar, escovar, limpar, corte e costura, cozinhar, computar, telefonar pra aqui, pra ali, pra acolá, ver todos os filmes da tv, dez minutos de cada um e sempre com o rádio ligado ou com o cd no repeat, tocando a mesma música, sem esquecer de dar uma passadinha por todos os programas de fofoca da tarde, tudo ao mesmo tempo e agora e ainda se desse, arrumava um tempinho pra ver se encontrava alguém que quisesse comer o seu acarajé. Fazia tempos que ela não dava pra ninguém vestida de baiana, a última vez foi pra um motorista de taxi que ela pegou na Praça da Sé e levou o sujeito lá pros lados da Ribeira e ali mesmo, dentro do taxi, ela trocou de roupa e deu como uma desesperada, toda paramentada, com seus colares, pulseiras e balangandãs, pra aquele taxista gordo, cheirando a alho. Ela já tinha dado pro porteiro na escada do prédio, pro carteiro, pro entregador de água, mas tudo rápido sem conversa, sem fantasia de baiana, que é quando ela se sentia poderosa, por cima de todas aquelas saias rodadas, metida naquele turbante ordinário e amarelecido pelo tempo. Era assim que ela gostava de dar, vestida de baiana.
          Nunca se sabe o que vem pela frente. Ela, que perdera a única irmã vítima de bala perdida, que viu o seu gato de estimação e o seu último namorado sumirem janela abaixo, no mesmo dia, hora e local, ela que só tinha uma mãe surda e medicamentosa, ela que estava aposentada há quatro anos, mas que vivia ocupada com mil e um afazeres, pensando em mil coisas ao mesmo tempo, ela que pensava em tudo, jamais poderia imaginar que naquela manhã de domingo fosse dar de cara com o amor da sua vida. Logo naquela manhã, quando ela estava desprevenida, sem spray, sem camisinha, sem fantasia de baiana, justo naquela manhã e daquela maneira, ela deu de cara com Altair.
          Logo que acordou, com o primeiro cocorocó das galinhas, ela saiu para comprar pão e leite na padaria da esquina, jogo rápido, pois teria que voltar imediatamente, para ligar pra mamãe, lembra-lhe dos remédios, botar a água do café pra ferver, ligar o rádio, o som, a tv, o computador, etc, etc, portanto não podia demorar. Foi quando ela tropeçou em Altair, um rapaz forte, moreno alto, de voz aveludada, na fila do caixa da padaria, enquanto ela pensava em mil coisas. Altair se aproximou e disse quase ao pé do ouvido dela:
          - A senhora se esqueceu de amarrar o tênis, pode tropeçar e cair se não tomar cuidado.
          Em seguida, antes que ela lhe agradecesse, que lhe dissesse que estava pensando em mil coisas, que estava com pressa e nem reparara em amarrar o tênis, Altair se abaixou e o fez, de forma delicada e firme, depois a convidou para dar uma volta na praia com ele, para aproveitar o sol da manhã e em seguida, sem dar tempo para ela responder, Altair se ofereceu para segurar as bolsas com o pão e o leite que ela acabara de comprar. Eram seis e trinta de uma manhã de domingo começando a ensolarar, a cidade sequer despertara do seu sono de sábado e estava praticamente deserta, quando ela e Altair atravessaram a avenida da praia, olhos nos olhos, hipnotizados por aquele encontro inesperado, ela pensando em mil coisas ao mesmo tempo, ele atento àquele par de tenis que acabara de amarrar, os dois entrelaçados por seus pensamentos, não perceberam um caminhão de entregas que entrou pela avenida desgovernado, na contramão, em alta velocidade, e levou ela e Altair para o andar de cima, numa manhã de domingo que estava apenas começando. Nunca se sabe o que vem pela frente.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

COCAÍNA

NOITES EM CLARO

DIAS DE ESCURIDÃO

RUÍNA DA ALMA

DERROTA DO CORPO

HORAS DE SOLIDÃO

DESESPERO

MENTIRA

DEPRESSÃO

AVE QUE NÃO VOA

COCAÍNA

PÁGINAS EM BRANCO

NA VIDA DE QUALQUER PESSOA

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

MEU ÚNICO BEM

A música não é o meu único bem, é um dom que Deus me deu e só ele pode me tirar, quando eu me for. Mas a ela devo tudo que eu tenho. Minha casa, minhas alegrias e tristezas, meus amigos e inimigos, minhas andanças pelo mundo, meus amores e desamores, enfim, minha vida. Mas já a algum tempo, o meu pau não levanta mais para música como antigamente. Crise de um casamento que o tempo tentou consumir, como qualquer outro casamento em crise. Então comecei a pensar em desistir da música para me dedicar a outras coisas. E fui ficando cada vez mais infeliz e triste, pois se tem uma coisa difícil nessa vida, é você tentar se separar do seu grande amor. O tempo, os amigos e horas de auto análise me fizeram perceber no entanto, que é possível conciliar atividades, pois no mundo globalizado de hoje, tudo está interligado.
Então resolví publicar aqui, em homenagem aos meus sinceros amigos que insistem para que eu siga fazendo música, a letra de "Meu único bem" gravada por mim nos cds, "Menino buliçoso"e "Bossanova blue".

Meu único bem
Letra e música de Ricco Duarte


A Cordilheira dos Andes
A muralha da China
O muro de Berlim
A cerca do quintal
A porta do seu quarto
A colcha de cetim
O mundo inteiro ardendo em brasas
Meu coração batendo asas
Nada vai separar você de mim
Musa
Música
Meu único bem
Nunca
Ninguém
Conseguirá nos separar

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

AFINAL DEU PAULO BARROS!!!!

          Em 2004 eu estava no setor três do sambódromo, quando a Tijuca começou  a cantar o seu samba. A letra dizia o seguinte: "com a Tijuca campeã do carnaval". Eu, que estava cansado da mesmice das escolas que já haviam passado, pensei comigo: Que ousadia colocar na letra do samba que a Tijuca vai ser campeã do carnaval. E então levantei para ver o que vinha. O que eu vi foi uma escola que estava ali, em 2004, revolucionando o carnaval carioca. O nome do revolucionário: "Paulo Barros". Naquele ano ele usava a cor "cobre" logo no abre alas, que era uma réplica da máquina do tempo e esta cor, discretamente, variava para outros tons pastéis, resultando em uma harmonia de cores inédita e maravilhosa, jamais vista na história do sambódromo, sem falar nas alegorias e nas fantasias super criativas. Foi o carnaval do DNA, que apontava para o futuro. Como a Tijuca não era uma escola de tradição ( leia-se de dinheiro), ganhou a Beija flor, fato que se repetiu em 2005, com a Tijuca ficando em segundo dois anos seguidos. Anos se passaram e a justiça foi feita. Paulo Barros afinal é o campeão do carnalval carioca, com o atualíssimo enredo, "É segredo", desbancando com sobra de décimos, as demais concorrentes. Viva Paulo Barros! Viva a magia da vida! Viva o samba!, Viva o carnaval carioca!

PRÁ TUDO SE ACABAR NA QUARTA FEIRA

NO CARNAVAL DOS BANHEIROS QUÍMICOS
IMUNDOS,VENCEU A IRREVERÊNCIA DO POVO BRASILEIRO DO RIO DE JANEIRO, QUE NÃO PERDEU O REBOLADO.
XÔ!!! AO CHEIRO DE XIXI DA DESPREPARADA GUARDA MUNICIPAL. XÔ AO GAROTO QUE BRINCA DE SER PREFEITO E AO LIXO QUE VIROU O METRÔ CARIOCA, COM POUCOS CARROS PARA O EXCESSIVO NÚMERO DE FOLIÕES.
MAS TEVE A MISS FEIÚRA
 E A MISS SIMPATIA.
E OS "LINDOS HABBIBS" É CLARO.
ANO QUE VEM TEM MAIS.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

CAIAM NA FOLIA!

Nesses dias momescos não deixem por menos, caiam na folia, deixem o carro em casa e bebam com moderação, beijem muuuito na boca e se a coisa esquentar demais, usem camisinha please, e até quarta feira de cinzas. Evoé!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CARNAVALESCO NÃO TEM MÃE

         
          Tudo bem que o carnaval é a festa do ridículo, eu mesmo já me submetí a vexames de toda ordem por ser um autêntico folião, mas tudo tem limite. Os carnavalescos das escolas de samba, no afã de fazer bonito na opera do carnaval, se esquecem de que os principais atores desta opera, que são os desfilantes sambistas, devem estar não apenas bem vestidos, mas sobretudo devem se sentir confortáveis dentro das fantasias. Nessa brincadeira, eu me lembro que em 1999, o Sr. Jaime Cezário, então carnavalesco da São Clemente, vestiu a nossa bateria de senadores, e todos fomos obrigados a usar uma casaca de veludo preto em pleno verão carioca de quarenta e tantos graus, consequência, a bateria que é a alma da escola, cansou, atravessou várias vezes e chegou ao cúmulo de parar em pleno desfile. Uma bateria nota dez que naquele ano teve notas baixissimas e a escola foi rebaixada. No Salgueiro em 2007, o enredo era sobre as Candaces, umas guerreiras africanas que o Renato Lage foi descobrir não sei aonde. Desfilei em uma ala que até hoje eu me pergunto o que representava. Eles diziam que éramos Tuaregues, guerreiros do deserto, mas a fantasia era de um mau gosto e de um excesso de panos tal, que foi preciso tres pessoas para me vestir e é claro, depois do desfile, deixei a fantasia lá na dispersão, como fiz no ano de dois mil, no mesmo Salgueiro, quando desfilei de pierrot, cuja gola tinha uns dois metros de diâmetro, o que nos fazia sentir guilhotinados, sem folêgo sequer para cantar o samba. Pra piorar, a minha fantasia, foi se desfazendo em pleno desfile e eu voltei de sunga para casa, com a cara pintada de palhaço. Este ano me convidaram para desfilar na Renascer de Jacarepaguá, uma escola do grupo de acesso que tem apenas cinco anos de vida, mas que no ano passado ficou em segundo lugar e quase subiu para o grupo especial. Este ano eles contrataram o bam bam bam do carnaval carioca, o grande Paulo Barros e lá fui eu com a minha amiga, todo contente, pegar a tal fantasia de pirata na quadra da escola. Pra encurtar a conversa, o nosso luxuoso pirata, desenhado para causar efeito na televisão, é também de veludo preto, e de quebra, ainda seremos obrigados a carregar preso à cintura, um enorme baú, que seria o tesouro do pirata e nas costas, um suposto e enorme papagaio, que mais se parece com uma gárgula. Vestidos desta maneira desconfortável, como é que os carnavalescos querem que sambemos e cantemos o samba com alegria, em pleno calor escaldante desse verão carioca? Desfilar em escola de samba passou a ser ao invés de prazer, uma tortura, o que me leva a crer que carnavalesco não tem mãe, por que se tivesse, seria mais xingada do que mãe de juiz de futebol.
Guerreiro do deserto e pirata do"carilho" é a "PQP"

domingo, 7 de fevereiro de 2010

SALVE O SIMPATIA!


           No domingo de carnaval de 1985, eu estava na praia de Ipanema, tristinho, porque era caranaval e eu estava desenturmado numa cidade que eu acabara de chegar. E eu adoro carnaval, principalmente o de rua, onde nos largamos no meio da multidão e brincamos anônimos e somos todos literalmente iguais. Foi quando escutei ao longe, o som de uma bateria que vinha arrastando uma pequena multidão. Não pensei duas vezes, saí correndo em direção ao bloco e me perdi, ou melhor, me encontrei no meio do povo, digo, da burguesia de Ipanema. Era o primeiro desfile do "Simpatia é quase amor", que ontem completou 25 anos de desfile e arrastou milhares de foliões pela Vieira Souto, sob o comando da bateria do Mestre Penha, da qual tive a honra de fazer parte durante anos, tocando tamborim. Ontem eu estava lá de novo, com o meu tamborim. As imagens valem mais do que mil palavras. Salve o simpatia!
Eu e o meu tamborim!

Muito bom: "O simpatia pede passagem ou vale transporte"

Mestre Penha no comando.

  A maior concentração por metro quadrado, de gente bonita de todos os generos e cores do planeta!

A irreverência de sempre.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

OS NOMES DOS COMPOSITORES DE SAMBA ENREDO

         


          A safra de 2010, como eu já disse aqui, não é das melhores. É muita gente pra fazer um samba e creio, que é aí que a coisa empobrece, muita gente dando opinião. Mas o que eu mais gosto mesmo, é dos nomes dos compositores de samba enredo. Outro dia vi o Neguinho da Beija flor na televisão, dizendo que estava feliz com o samba escolhido para defender a escola este ano, porque um dos autores, dos cinco que escreveram ou simplesmente deram pitaco, era o compositor mais antigo da escola e que nunca havia ganho um samba em mais de vinte anos de disputa, seu nome? "Picolé da Beija flor". Você já tinha ouvido falar nesse cidadão que há vinte anos disputa e nunca ganha? Nem eu, daí que eu resolví pesquisar e descobrí outras pérolas como: "Brasil do quintal", que ganhou o samba do salgueiro com mais quatro; "Barbeirinho", "Mingau" e "Da lua", que faturaram o samba da Grande rio com mais "nove" parceiros; "Me leva" ganhou na Imperatriz; "Porkinho" na Porto da pedra; "Gugu das candongas"(o meu favorito) e "Barbosão", são dois dos "dez" compositores que faturaram na Ilha do governador; "Marcão R1 e Leandro R1" faturaram com mais tres, lá na Rocinha e perguntar não ofende, o que é R1?; "Da latinha", "Claudinho vagareza" e mais tres, ganharam na Estácio de Sá; e agora o record: "Doutor", "Ditão", "Bolão" e "Macumbinha", foram os campeões na Santa Cruz; "Balinha" e mais alguns faturaram na Caprichosos; "Popeye" e outros tantos no Império serrano; E por fim o fabuloso "Sardinha" com seus cinco parceiros, ganharam na Cubango. Se pelo menos os sambas fossem tão divertidos e criativos, como o nome dos seus autores, o carnaval 2010 seria uma maravilha, mas não são.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

NOEL DEVE ESTAR RINDO À TOA...


          Samba não ganha carnaval, mas é meio caminho andado. Ao longo da história dos desfiles das escolas de samba do Rio de janeiro, temos visto, principalmente na era sambódromo, de 1984 para cá, que um bom samba, daqueles que levantam a arquibancada e faz o povão cantar junto, empolga e leva a escola para as cabeças, que o diga o Salgueiro de 1993 com o ”explode coração”, que virou um hit nacional e acabou com um jejum de 17 anos sem títulos, da vermelho e branco da Tijuca. Nos últimos anos, o “Soy loco por ti America”, da Vila Isabel em 2006, é outro bom exemplo de que um bom samba é meio caminho andado, pois acabou dando à Vila o título daquele ano. A mesma Vila Isabel que neste ano de 2010, faz uma belíssima homenagem ao seu poeta maior, Noel Rosa, e vai levar para a avenida uma obra prima do Martinho da Vila, um samba moderno, sem rimas e refrões óbvios, de melodia e poesia impecáveis, e que no ensaio técnico do último domingo, já mostrou que vai dar o que falar, pois não só caiu na boca do povo, como nas graças dos componentes da escola. O curioso é que este é o único samba da safra de 2010 que não tem parceria. Algumas escolas chegaram ao absurdo de juntar dois sambas em um só, gerando uma parceria de doze e dez pessoas, como é o caso da Grande Rio e da União da Ilha, respectivamente, e que resultou em sambas pobres e confusos, como a maioria dos sambas de enredo deste ano, com exceção apenas aos sambas da Porto da pedra e da Viradouro, ambos os sambas escritos "apenas" por tres compositores.  A Vila não, precisou apenas de um gênio para homenagear outro, numa prova inequívoca de que quantidade não é qualidade. Abrindo uma exceção, transcrevo abaixo a poesia do Martinho, pois Noel deve estar rindo à toa pelas ruas de Vila Isabel.

Vila isabel 2010.
Compositor: Martinho da Vila



Se um dia na orgia me chamassem
Com saudades perguntassem
Por onde anda Noel
Com toda minha fé responderia
Vaga na noite e no dia
Vive na terra e no céu
Seus sambas muito curti
Com a cabeça ao léu
Sua presença senti
No ar de Vila Isabel
Com o sedutor não bebi
Nem fui com ele a bordel
Mas sei que está presente
Com a gente neste laurel

Veio ao planeta com os auspícios de um cometa
Naquele ano da Revolta da Chibata
A sua vida foi de notas musicais
Seus lindos sambas animavam carnavais
Brincava em blocos com boêmios e mulatas
Subia morros sem preconceitos sociais

Foi um grande chororô
Quando o gênio descansou
Todo o samba lamentou
Ô ô ô
Que enorme dissabor
Foi-se o nosso professor
A Lindaura soluçou
E a Dama do Cabaré não dançou
Fez a passagem pro espaço sideral
Mas está vivo neste nosso carnaval
Também presentes Cartola
Araci e os Tangarás
Lamartine, Ismael e outros mais
E a fantasia que se usa
Pra sambar com o menestrel

Tem a energia da nossa Vila Isabel
Tem a energia da nossa Vila Isabel










domingo, 31 de janeiro de 2010

SALVE A BANDA DE IPANEMA!


          Em março de 1964, logo após ao carnaval, as forças armadas, tomaram o poder e a ditadura militar governou o país por mais de vinte anos. No ano seguinte, 15 dias antes do carnaval, em Ipanema, Rio de janeiro e alto-falante desta nação, foi criada a Banda de Ipanema, como o primeiro grito de rebeldia, àquela ditadura que proíbia tudo, principalmente o livre direito de expressão de um povo. Foi-se a ditadura e a banda de Ipanema continua mandando no pedaço, abrindo oficialmente o carnaval de rua do Rio e porque não dizer, do Brasil.
          Mais uma vez, dezenas de milhares de cariocas de todas as partes do mundo, saíram pelas ruas do bairro mais charmoso do Rio, para esbanjar alegria e celebrar a nossa festa maior, o carnaval. Homos, heteros, "bis", "trans", "pans", jovens, velhos, crianças, gente de todas as cores e tribos, cantaram e dançaram ao som de antigos e eternos sambas e marchinhas, numa demonstração única de democracia e civilidade. Salve a Banda de Ipanema, no seu quadragésimo sexto desfile! Que seja assim para sempre e que a alegria reine entre nós até a quarta feira de cinzas. Evoé!




sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

NO CLARÃO DA LUA

Letra e música de Ricco Duarte
gravada nos cds "Tudo é música"e "Menino buliçoso"

NUMA DESSAS NOITES DE UÍSQUES
BEIJOS E BOLEROS E OUTROS AIS
ONDE O CORAÇÃO DANÇA TWIST
SAMBANDO BONITO E TCHÁ TCHÁ TCHÁS
NUMA NOITE DESSA
NO CLARÃO DA LUA
REFLETIDO NO TEU OLHAR
TAVA FRIO A BEÇA
E EU SOZINHO NA RUA
PROCURANDO SEM ENCONTRAR

NUMA DESSAS NOITES DE IR A PIQUE
DE IR BATENDO FORTE DISPARADO
ENTRANDO NA CURVA A CENTO E VINTE
COMO UM LOUCO DESESPERADO
NUMA NOITE DESSA
NO CLARÃO DA LUA
REFLETIDO NO TEU OLHAR
TAVA FRIO A BEÇA
E EU SOZINHO NA RUA
PROCURANDO SEM ENCONTRAR


NUMA DESSAS NOITES VÍDEO CLIP
NOITES DE ALAMBIQUES E TUDO O MAIS
BEBENDO BOLEROS E UÍSQUES
SEM QUERER SABER DE MAIS NADA
NUMA NOITE DESSA
NO CLARÃO DA LUA
REFLETIDO NO TEU OLHAR
TAVA FRIO A BEÇA
E EU SOZINHO NA RUA
PROCURANDO SEM ENCONTRAR

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

RELAXANTE MUSCULAR

         

Estávamos eu e um amigo meu, andando pelas ruas de Copacabana a cerca de dois anos atrás, quando em plena luz do dia, vimos um homem, que não parecia ser um mendigo, caído na calçada. Ao seu lado, de pé, estava uma senhora que aparentemente conhecia aquele homem, pois o mandava levantar, tomar vergonha na cara e ir para casa pois ele tinha mulher e filhos esperando por ele. Era um cidadão comum, pai de família, bêbado, jogado no chão como um saco de lixo. Meu amigo ao ver aquela cena, me perguntou se eu já tinha visto algum maconheiro naquela situação. Pensei rapidamente e como ex usuário de maconha, cheguei a rápida conclusão de que só o álcool ou drogas pesadas como a cocaína ou o crack, podem levar o ser humano a um estado de degradação como aquele. Hoje em dia, estudos médicos comprovam que a maconha pode ajudar no tratamento de algumas enfermidades. Na Holanda, desde novembro de 2004, as farmácias estão autorizadas pelo governo, a vender maconha sob prescrição médica, para o tratamento de doentes com AIDS, câncer, esclerose múltipla e síndrome de tourette (que provoca tiques e movimentos involuntários). No estado da Califórnia, nos Estados Unidos, o seu uso é legalizado para fins medicinais, desde 1996. No Brasil, até o presidente Fernando Henrique já se declarou a favor da descriminalização da maconha e a sua liberação para uso medicinal está sendo estudada. Para mim, a maconha sempre foi um relaxante muscular e nunca a considerei como droga. Com a maconha, eu nunca fiquei violento ou agressivo, como já fiquei algumas vezes, depois de uma noite de bebedeira por exemplo, nem nunca vi ninguém vomitando banheiros, salas ou carros, por ter usado maconha. Particularmente, hoje não uso mais, primeiro porque o cheiro as vezes me dá náuseas, depois porque a sua comercialização está infelizmente, diretamente ligada ao cartel do tráfico de drogas pesadas, e comprar maconha na boca seria o mesmo que colaborar com tráfico e as suas inúmeras conseqüências. Por outro lado, descriminalizar o uso da maconha e liberar o seu uso, ainda que para fins medicinais apenas, não afetaria o caixa das bocas, pois em relação às outras drogas, o preço da maconha é infinitamente inferior. Então porque não descriminalizá-la ou legalizar o seu uso para fins medicinais? Vai usar quem quer e quem precisar usar, e certamente não vamos ver campanhas do tipo, “se fumar maconha não dirija”, ou “a maconha tem milhares de substâncias tóxicas” como o cigarro por exemplo, que causa inúmeras doenças crônicas e fatais. Mesmo não usando mais, continuo convicto de que maconha não é droga, é relaxante muscular.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

HOMOFOBIA NÃO! (parte 2)


Ainda tocado com o ocorrido no Metrô do Rio de janeiro no último sábado, consegui com o companheiro ambientalista Paulo Rocha, o endereço do site em que podemos não só votar contra a homofobia, como também, podemos fazer chegar aos 81 senadores o nosso apoio ao projeto de lei (PLC 122/06), que propõe a criminalização da homofobia.
Participem, votem, envie para os amigos. A união faz a força.

domingo, 24 de janeiro de 2010

HOMOFOBIA NÃO!


          Ontem, no metrô do Rio de janeiro, em um dos vagões no sentido zona sul, a altura de Copacabana, presenciei a seguinte cena: Uma mulher se dizendo estar grávida, acompanhada da sua filha, uma criança de pelo menos oito anos, começou a agredir verbalmente a um rapaz, por ele não ter cedido o lugar para ela. Alegando estar grávida, ela teve um ataque de homofobia, desfiando todo o repertório de adjetivos pejorativos destinados aos homossexuais do sexo masculino. O rapaz que estava bem vestido e tinha a aparência e atitude bastante masculina, escutava incrédulo os impropérios mais baixos e sujos, capazes de sair apenas da mente e da boca dos desqualificados como aquela senhora, que para dizer o mínimo, teve um comportamento das mais baixas e pobres criaturas, oriundas dos subterrâneos da humanidade, embora estivesse igualmente bem vestida, fosse jovem e tivesse até alguma beleza no rosto, pois a alma daquela mulher, inflada de um ódio pela vida alheia, era de uma horripilante feiúra. Como o rapaz demorou a reagir, reagimos nós, os outros passageiros, pedindo que ela se calasse, que respeitasse a sua filha e as outras pessoas no vagão, entre elas crianças, senhores e senhoras de idade e até turistas estrangeiros. Ameaçamos que ela poderia ser presa por homofobia. Foi quando ela, se sentindo acuada, se calou, pediu desculpas e colocou o seu rabo demoníaco entre as pernas. Mas já era tarde. Na minha estação de destino eu desci e deixei revoltado, o trem seguir viagem, com as pessoas daquele vagão ainda indignadas e esbravejando contra aquele vestígio de ser humano, que infelizmente vai colocar um outro ser no mundo, sabe-se lá de que pai. A sociedade brasileira e mundial, já está cansada desses desmandos. Temos que dar um basta a homofobia, como fizemos ontem, cidadãos cariocas de todos os lugares do mundo, no metrô do Rio de janeiro, uma cidade que recentemente foi eleita como a cidade mais feliz do mundo e como o melhor destino gay no planeta, batendo cidades como Sidney na Austrália e Nova Iorque, nos Estados Unidos. HOMOFOBIA NÃO!




quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

SAUDAÇÕES ECOLÓGICAS

          Era uma tarde de sol primaveril, quando milhares de sonhadores abraçaram a lagoa Rodrigo de Freitas, coração da cidade do Rio de janeiro, para apoiar a candidatura do Fernando Gabeira ao governo do estado. O ano era 1986 e lá se vão 24 anos. Naquele ano, pouco se falava ou se sabia a respeito do partido verde. A causa ambientalista era um problema de poucos. O maior medo era o buraco na camada de ozônio, que estava crescendo a cada dia. Naquele ano fizemos passeatas na Avenida Rio Branco, comícios na Cinelândia, fomos chamados de loucos, maconheiros, bichas e desocupados. Naquele ano, o partido dos trabalhadores, hoje no comando do país, ainda andava de mãos dadas com a então pouco conhecida causa ecológica. E o Gabeira chegou em terceiro lugar, com mais de quinhentos mil votos, conseguidos sem absolutamente nenhuma grana, apenas com o barulho que nós, os loucos, bichas, maconheiros e desocupados, como fomos chamados, fizemos nas ruas do Rio. Lá se vão 24 anos, quase duas décadas e meia depois, o mundo virou de cabeça para baixo, a população mundial quase dobrou, e o buraco na camada de ozônio então, nem se fala. Nessas duas décadas e meia assistimos quase que passivamente, a temperatura do planeta aumentar a cada dia, devido principalmente à emissão de gases poluentes na atmosfera, produzidos pela multiplicação desenfreada das indústrias ao redor do mundo, e pelo desmatamento das nossas florestas, impulsionado pelo descontrole ganancioso do ser humano, em busca do progresso e do possível bem estar, que este progresso descontrolado poderia trazer à população. Duas décadas e meia depois, vemos que o resultado desse progresso foi o bem estar das contas bancárias dos poderosos, que poluíram e desmataram o nosso planeta e que estão se lixando para a população. Duas décadas e meia depois, estamos vendo a cada dia que passa, mais e mais catástrofes ambientais acontecendo. Terremotos, tempestades, nevascas, tufões, furacões, que vão interrompendo sonhos, ceifando milhares e milhares de vidas, causando uma destruição, que em muitos casos, levará anos para ser reparada. O planeta está dando o seu grito de alerta, e a sua resposta. Causa e efeito.
          Em 1986 fiz o meu trabalho voluntário, abracei a Lagoa, fui às passeatas e aos comícios, e o pouco que eu sabia, tentava passar para aqueles que eu tinha certeza, de que não sabiam sequer o significado da palavra ecologia, motoristas de ônibus e de taxi, porteiros de prédios, ambulantes, empregadas domésticas, gente do povo. Fiz aquele trabalho intuitivamente, tentando plantar a sementinha verde. Desses 24 anos, os últimos oito anos, eu fiquei fora do país, indo e vindo, e me afastei do campo de batalha, mas não do combate. Andei pelo mundo, trabalhando com a minha música, e pude ver de perto que o mal que nos aflige aqui, aflige a todos. No dia 05 de outubro de 2008, desembarquei no Rio a tempo de votar no meu candidato de sempre, o Fernando Gabeira, para prefeito do Rio de janeiro. Quase ganhamos. Pude ver com alegria, ao sair do portão de desembarque, as garotas que trabalham nos pontos de taxi do aeroporto, vibrando e fazendo abertamente, campanha para o candidato verde. O povo não é bobo nem se deixa enganar facilmente. “A semente deu frutos e se multiplicou”, pensei comigo em silêncio e feliz. Hoje estou oficialmente filiado ao partido, assumo a militância, apoiando incondicionalmente não só o partido, mas como também os seus candidatos, como sempre fiz, mesmo a distancia, porque entendo que a luta pela preservação do meio ambiente, é a única saída para a melhoria da qualidade de vida do planeta. Saudações ecológicas.



terça-feira, 19 de janeiro de 2010

DE PAU A PIQUE

FEITO DE PAU A PIQUE
O BARRACO ROLAVA
POR QUALQUER MOTIVO
TEMPO BOM
TEMPO NUBLADO
BRISA
VENTANIA
CHUVA
CHUVISCO
TEMPORAL
CONTAS EM DIA
E AS ATRASADAS ENTÃO...
LOGO COMEÇAVA A GRITARIA
E O TEMPO FECHAVA
SEM DAR O MENOR SINAL
DE REPENTE
-VOCÊ É ISSO
-VOCÊ É AQUILO
-VOCÊ FEZ ISSO
-VOCÊ FEZ ISSO E MAIS AQUILO
-VOCÊ É
-VOCÊ FEZ
-VOCÊ NÃO VALE NADA!
TUDO ASSIM POR NADA
SEM A MENOR RAZÃO.
FEITO DE PAU A PIQUE
O BARRACO DAVA UM XILIQUE
E JOGAVA O AMOR NO CHÃO

domingo, 17 de janeiro de 2010

O FARDO DO POETA

CANTO MELHOR
QUANDO ESTOU TRISTE
ALMA DE FADISTA
CORAÇÃO DE AMÁLIA
OLHOS DE SAUDADE
E O DEDO EM RISTE.

NESSES MOMENTOS
MEU CANTO FAZ A FESTA
OLHOS CERRADOS
E O CORAÇÃO QUEIMANDO
DEIXANDO QUE AS NOTAS
EMBALEM O FARDO DO POETA.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"PENSE NO HAITI, REZE PELO HAITI"

          Por que o Haiti? que em inglês se pronuncia "rêiti", cuja sonoridade lembra a palavra, hate, que traduzindo para o português significa ódio. Por que a natureza divina, ou seria satânica, uma vez que o voodoo é a religião mais popular do país, odeia tanto aquela faixa de terra da ilha de Hispaniola, um dos primeiros pontos da América, a serem colonizados por Cristovão Colombo, quando este por ali chegou. Porque? Se a mesma ilha abriga a próspera República Dominicana, enquanto que o Haiti é o país mais pobre das américas e é um dos mais pobres do mundo. Por que o Haiti? Ex colonia francesa que há séculos sobrevive não só às interpéries da natureza, como também aos desmandos de seus governantes e ditadores. Um país miserável, cujo povo musical e simpático tem os olhos grandes e tristes, e que eu tive a oportunidade de visitar algumas vezes, quando trabalhava como músico, nos navios de cruzeiro da Royal Caribbean. A Royal comprou um pedaço de terra em Labadee, a duas horas de carro da capital Porto Princípe e ali montou o seu circo, um balneário para que os passageiros se divertissem, pensando estar em um paraíso caribenho. Ali ficávamos algumas horas desfrutando daquele mar lindo e das muitas atividades esportivas organizadas pela empresa. Ali escutávamos a música mágica do lugar, assistíamos a shows folclóricos, comprávamos o artesanato local e íamos embora no final do dia felizes da vida, deixando para trás aqueles olhares tristes de quem vive na miséria todos os dias. Ali eu conheci Papi, um artista local que fazia acrobacia e que era apaixonado pelo Brasil, como quase todos os haitianos. Uma vez Papi me convidou para ir a Porto Princípe, para ver a miséria mais de perto, mas o tempo era curto. Ele tinha que ganhar uns trocados para sustentar a sua família, fazendo as suas espetaculares piruetas, e sempre terminavámos adiando a visita a capital. Mas a miséria estava logo ali, atrás da cerca que circundava o balneário, longe dos olhos dos turistas. Ali já se podia ver as casas miseráveis, o povo pedindo esmola, agarrado à cerca fortemente guardada pela polícia local. Estará Papi vivo agora? Estarão vivos os familiares do Pierre? Um oficial haitiano que vive em Miami, e que me levou até o aeroporto quando eu tive que voltar ao Brasil, depois de ter sido operado de apendicite. Estarão vivos os familiares do Dr. Maurice, médico haitiano que me examinou em Miami logo após a cirurgia? Ele me contou que os haitianos amam tanto o Brasil, que dois deles cometeram suicídio quando o Brasil  foi eliminado  da copa de 2006 pela França, país que eles odeiam, por questões óbvias, apesar de terem herdado a bela língua do seu antigo colonizador e opressor. A minha experiência com os hatianos eu menciono em um trecho de "Jaime, o marinheiro", romance que escrevi a bordo de um dos navios, contando como é a vida em um navio de cruzeiro e que eu transcrevo a seguir, rezando pelo Haiti, pensando no Haiti.

Trecho do romance "Jaime, o marinheiro"

          Chovia em Miami, quando um funcionário da America Safety, passou no hotel para me levar para fazer a imigração e de lá para o aeroporto. Ele era um haitiano alto e magro, que me confirmou a história dos suicídios que os seus compatriotas cometeram, quando a seleção brasileira foi eliminada da copa do mundo da Alemanha. O Haiti é um país paupérrimo, que foi colônia francesa e que vive em constante estado de sítio, e o exército brasileiro, foi mandado para lá pelas nações unidas, como uma força de paz, para tentar manter a ordem e a estabilidade política no país. Os brasileiros certamente levaram não só a paz, como também a nossa simpatia e solidariedade, que conquistou de imediato o coração do povo haitiano, daí a sua paixão desmedida pelo Brasil.
          A Royal Caribbean, comprou um pedaço de terra no Haiti, chamado Labadee, e ali implantou uma espécie de balneário privado, onde os navios da Companhia costumam parar, para diversão de passageiros e tripulantes. Além dos limites daquele balneário, não podemos passar. Do outro lado está a miséria e a fome, e isso não interessa nem aos passageiros nem a nós tripulantes ver. Eu havia estado em Labadee algumas vezes e fomos conversando sobre o Haiti e o Brasil até o aeroporto, eu e o Pierre, o oficial haitiano que me escoltou até o balcão do check in da American airlines, para se certificar de que eu realmente iria deixar o país.


Eu também fiz o meu vooduzinho...

Essa camisa eu dei ao meu amigo Papi de presente.

                                              Papi se preparando para mais uma acrobacia.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

DEIXEM A XOXOTA CAIR NO CHÃO

No sábado que vem, dia 16, tem a abertura do carnaval de rua do Rio de janeiro na Lapa. Adoro carnaval de rua e o do Rio, a cada ano que passa, cresce mais. O carioca é fanfarrão por natureza e carnaval é a festa do ridículo, da esculhambação, onde tudo é permitido e não há em absoluto, censura. Recentemente estive em Maceió e em uma tarde, passeando pelo centro da cidade, escutei em uma barraca de cachorro quente, o hit nordestino para 2010, o “xoxota no chão”. Não, não era um trocadilho. Segundo a letra, a xoxota literalmente vai ao chão, “limpando o cimento e polindo a cerâmica”. Fiquei com aquilo na cabeça, pensando que ali estava um bom título para um bloco de carnaval, pois se tem uma festa popular que deixa a todos, homens e mulheres, com a xoxota no chão, essa festa é o carnaval. O que mais me diverte é o espírito de crítica e esculhambação que a festa proporciona e aqui eu reservei alguns nomes espetaculares, dos blocos cariocas que vão desfilar pelas ruas da cidade, de norte a sul, de leste a oeste: “os imóveis”, genial, um bloco de Copacabana que não desfila e que deve ser primo irmão do já tradicional “concentra mas não sai”. Os jornalistas criaram o já famoso “imprensa que eu gamo”. Tem o “não mexe que fede” do Leme, que tem o seu similar em Ipanema, o impagável “que merda é essa?”. Tem o “empurra que pega”, o “cachorro cansado”, o ”rola preguiçosa” de Ipanema, que tem o seu similar lá em Vaz lobo, o “rola cansada” e seguindo o mesmo tema da genitália masculina, tem o “encosta que ele cresce”, o “é pequeno mas balança”, o ”virilha de minhoca”, o "ïncha rola" e o “balanço do pinto”. Os de apelo sexual quase explicito são muito bons. Tem o tijucano “já comí pior pagando”, o “chupa mas não baba”, o “se me der eu como”, o “empurra que entra” e o meu favorito, “se não quiser me dar, me empresta”, de Ipanema, esse é muito bom, mesmo por que, como diz a turma lá da Praça seca, “lavou tá novo”. Tem ainda o “assa o pão mas não queima a rosca”, o ”espreme que sai”, o “fogo na cueca” e o bloco do instituto Benjamim Constant, o instituto dos cegos, o genial “beijamim no escuro”. Enfim, tem bloco para todos os gostos e tendências, sem falar nas bandas espalhadas por toda a cidade. Acessem o site da Riotur(www.riodejaneiro-turismo.com.br) escolham o seu bloco, caiam na folia e deixem a xoxota cair no chão. Mas não esqueçam de usar camisinha e se forem beber, deixem o carro em casa e vão a pé, de taxi, de ônibus, de metrô...

domingo, 10 de janeiro de 2010

RECARREGAR

TE CARREGO NO COLO
ABRAÇADO BEM JUNTO AO PEITO
PARA QUE NÃO SINTAS FRIO
OU QUALQUER OUTRA COISA
QUE LHE DESAGRADE


TE CARREGO COMIGO
PARA QUE NÃO ME ESQUEÇAS
PORQUE TE AQUECEREI
NAS NOITES MAIS FRIAS
E NOS FINAIS DE TARDE


TE CARREGO NA VIDA
PORQUE VOCÊ ME RECARREGA
COM O TEU AMOR SEM REGRAS
E ACENDE O MEU DIA
COMO UM SOL QUE ME INVADE


EU TE CARREGO
E VOCÊ ME RECARREGA
NAQUELAS HORAS VAZIAS
DURANTE AS MONOTONIAS
CADA UM FAZENDO A SUA PARTE

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

QUEM AVISA AMIGO É.

          Ano novo, vida nova, esperanças renovadas. Passados oito dias do ano de 2010, os fenômenos metereológicos, intensificados pelo aquecimento global continuam sem dar trégua. Logo na madrugada da virada do ano, a natureza mandou ao mundo todo um aviso de que não está brincando. Só em Angra dos reis, foram 52 vitimas fatais, nos deslizamentos ocorridos na enseada do bananal na Ilha grande e no morro da carioca, centro de Angra. Outras tantas mortes aconteceram também em Juiz de fora e no interior de São Paulo, onde a cidade histórica de São Luis do Paraitinga foi parcialmente destruída. No Rio grande do sul, uma ponte foi arrastada pela força das águas, vitimando várias pessoas que estavam passando por ela naquele instante. Os temporais de janeiro já são quase que uma tradição, mas os do início deste ano, dão mais uma vez, sinais de que a coisa é séria. No resto do mundo a situação não é diferente. Nevascas intensas, jamais vistas anteriormente, castigam países do hemisfério norte, especialmente os maiores poluidores do planeta, a China e os Estados Unidos. O planeta está mandando mais um aviso, e quem avisa amigo é.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

MELQUIOR, BALTASAR E GASPAR

          Hoje é o dia dos santos reis! Já dizia o grande Tim Maia. Reza a lenda que a dois mil e dez anos atrás, tres reis partiram do oriente, guiados por uma estrela, até o local aonde estava anunciado o nascimento do salvador, o rei dos judeus, Jesus. Ofertaram ouro, incenso e mirra ao recém nascido, nascendo assim a tradição de se trocar presentes na noite de natal, ou em algumas regiões do planeta, no dia seis de janeiro, o dia dos santos reis.
          Da minha infância em Salvador na Bahia, guardo as mais alegres lembranças deste dia, quando a festa da Lapinha, bairro tradicional de Salvador, comemora o dia de reis, a partir da meia noite, com ternos , ranchos e populares cantando e dançando a noite toda. Como são reis, a sua simbologia está ligada à boa sorte e a fortuna e é costume se fazer várias simpatias neste dia para atrair prosperidade.
          Há mais de vinte anos, conheci o Augusto Machado, que era amigo de um amigo meu, e do qual nunca mais tive noticias. O Augusto é daquelas pessoas iluminadas, que passam pelas nossas vidas para nos ensinar coisas boas. Dentre as muitas delicadezas que guardei dele, uma pode ser simplória, mas guardo e repito religiosamente todos os anos, e como me foi dada de graça, repasso aqui para que sejam felizes como o Augusto com certeza é.
          Eu vivia numa pindaíba de dar dó, morando de favor na casa de amigos, fazendo contas para fechar o mes no azul. Aí o Augusto, em um dia de reis, me ensinou uma simpatia, dizendo que desde que ele começou a fazer a tal simpatia nunca mais ele tinha passado apêrto. E ela consiste no seguinte: pegue uma romã, parta ao meio, retire tres sementes, encha uma taça com vinho branco, e de posse das tres sementes e da taça de vinho suba em uma cadeira ( não ria que a coisa é séria). Chupe uma semente de cada vez, guarde o caroço e tome um gole do vinho dizendo com fé, "Melquior, Baltasar e Gaspar, tragam o meu dinheiro para cá", e bata tres vezes no bolso da calça ou saia que estiver usando, depois dê tres pulos ( a cadeira tem que ser forte e resistente ), depois de fazer issso tres vezes, guarde os tres caroços da romã em um papel virgem, branco, na sua carteira. No ano seguinte, coloque, os tres caroços numa planta, mato ou jardim e repita tudo de novo.
           Pelo sim pelo não, mal não faz e desde então, assim como o Augusto Machado, eu sempre paguei as minhas contas em dia, viajei o mundo todo, comprei minha casa própria e etc, etc. Feliz dia de reis para todos vocês.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

SUBINDO A RIO BRANCO.

          O ano exatamente não me lembro, o que eu me lembro é que estavámos no início dos anos oitenta, quando eu subi a Avenida Rio branco pela primeira vez, centro do Rio de janeiro, no sentido Candelária/Cinelândia. Naquele dia eu me senti um garoto do interior, perdido, feliz e deslumbrado no meio daquela selva de pedra, cheia de gente de todas as cores. No meio daquele vai e vem eu resolvi fazer um samba, um samba de amor ao Rio. Passado algum tempo, decidido a ser cantor e sem conhecer ninguém que me pudesse abrir as portas, descobri que havia um bar no bairro de Botafogo, o Beco da pimenta, que tinha este nome para homenagear a pimentinha Elis Regina, e que todas as segundas, promovia uma espécie de show de calouros, cujo premio para o vencedor da noite, era fazer uma temporada de shows naquela casa noturna, que na época gozava de um certo prestígio. Peguei o meu violão e apareci no bar disposto a ganhar. Não havia jurados. a escolha era feita através do "palmômetro", ou seja, o público elegia o vencedor da noite através dos aplausos e como quase todos os concorrentes eram da cidade, as torcidas adversárias eram fortes, pois os outros candidatos a artista levavam os parentes, amigos e aderentes para torcer por eles. Eu não conhecia praticamente ninguém no Rio, então levei o Celino, um amigo baiano que dividia um apartamento comigo na época. Mas o bom carioca não resiste a um bom samba, e o meu era bom e se derramava de amores pela cidade. Dobrei as torcidas adversárias, ganhei o premio e de lá prá cá não parei mais de cantar de bar em bar por esse mundo de meu Deus. A letra de Subindo a Rio Branco reproduzo aqui, com saudade de um tempo em que não havia celular, internet, bailes funk e o Rio de janeiro ainda era uma cidade, por assim dizer, pacata, em pleno anos oitenta.



SUBINDO A RIO BRANCO
LETRA E MÚSICA DE RICCO DUARTE


DA CANDELÁRIA A CINELÂNDIA
VOCÊ JÁ VIU COMO É BONITO
ENXERGAR O AZUL DO CÉU?
UM FORMIGUEIRO
FUMAÇOLÂNDIA
ONDE TODO BRASILEIRO
VESTE UM TOM PASTEL
NO CORRE CORRE
DESSA FOLIA
VAI A NOITE VEM O DIA
E TODO MUNDO QUER SAMBAR
POIS O RIO É DE JANEIRO
CORRE O ANO INTEIRO            
E SE PODE NAVEGAR.
SUBINDO A RIO BRANCO ASSIM
EU CHEGO MAIS PERTO DO MAR
SONHANDO EM PODER CONSEGUIR
CHEGAR NO ALTO DA GLÓRIA.

domingo, 3 de janeiro de 2010

PALAVRAS DE AMOR.

        

                                                 A família querida, reunida na virada do ano


           De volta ao Rio de janeiro, a cidade maravilhosa, depois de passar dias maravilhosos, com a familia do meu irmão em Maceió, onde sobrinhos, cunhada e irmão, são muito mais que parentes, são os meus amigos verdadeiros e queridos, desejo com o meu coração cheio de saudade e agradecimento, que o mundo inteiro, neste ano que se inicia, diga e escute mais, muito mais, palavras de amor, todos os dias.


A PALAVRA DE AMOR



Palavras são como gotas d’água
A procura da sentença certa.
As vezes a sentença é de morte
E se faz um corte com a faca cega.
Tem palavras que unem o sul e o norte
As que dão voltas
E as que seguem em linha reta.
As palavras gotas de sereno
São as minhas favoritas
Caídas da madrugada
Fugidas de uma possível noite escura
Para dizer que nada
Nada como um dia após o outro
Para descanso da lua
E para os louros de um sol intenso.
Tem as palavras zig zag
De quem dirige bêbado.
As de almanaque
As de prozac
E as de quem dá tiro a esmo.
Mas a palavra de amor é direta
E atinge como uma flecha
O doce coração amado
Mesmo que ele seja velho e desdentado
Mesmo que ele escute pouco
Não enxergue direito
E bata assim distraído
Quase parado
Pensando que não tem mais jeito.
A palavra de amor é a que te salva
A que te estende a mão
Com todos os acentos
Porque a palavra de amor é cachoeira
Um rio que corre infinito
Para os oceanos da eternidade
É palavra que não se parte
Que não chega tarde
Que molha os olhos
Para enxaguar a alma
E assim permanecer inteira
Liberta!
Portas e janelas
Apontando para o horizonte
Pois a palavra de amor é fonte
De uma nascente que nunca seca.